A Pesquisa Científica Torna a Vida Melhor, Mesmo Que Você Não Entenda

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A ciência é como fazer um molho de pimenta. Primeiro há o plantio das pimentas. Depois, vem o molho, que precisa envelhecer por um ano em um local sem iluminação. Podemos não compreender os porquês, termos, experimentos e temas, mas a pesquisa científica básica simplesmente melhora a vida. Mas há quem diga que a pesquisa científica é aplicada ou essencial, então não teria valor.

Em 2014, Liz Karagianis, jornalista que trabalhou no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) na área de comunicação científica, escreveu algo que merece ser destacado ainda hoje. “Por que buscar a pesquisa básica apenas por curiosidade, descoberta e conhecimento, quando a pesquisa aplicada aborda especificamente os maiores problemas do mundo — pobreza, energia, doenças ou a criação de novos negócios para impulsionar a economia? Os acadêmicos dizem que é porque a pesquisa básica é o processo de criação, e sem ela, as aplicações desaparecem.”

Liz ainda apontou que o GPS, utilizado por milhares de pessoas diariamente, se beneficiou de um máser de hidrogênio, um tipo de relógio atômico, fundamental para o funcionamento dessa tecnologia. Dan Kleppner, professor emérito que participou desse trabalho inicial, admite que sua equipe não previu que sua pesquisa levaria a sistemas de posicionamento global baseados em satélites.

A insulina é outro exemplo da ciência que não foi planejado. Dois pesquisadores da década de 1880 estavam investigando como o pâncreas contribui para a digestão. Eles removeram o pâncreas de um cachorro, e as moscas se aglomeraram na urina do animal. Isso foi um indício de que o nível de açúcar estava alto. Eles haviam, sem querer, induzido diabetes no cão.

Algumas décadas depois, mais pesquisas e desenvolvimento levaram à descoberta de que a insulina é produzida pelo pâncreas. Descobertas inesperadas como a penicilina e os raios X, também remontam a esse caso.

O ponto é que a pesquisa científica que leva a aplicações nem sempre segue uma receita, um fluxograma ou um plano de negócios. Descobertas, erros, tentativas repetidas e replicação são essenciais para a pesquisa básica.

Levante a mão se tomou algum tipo de medicamento ontem. Esse comprimido não surgiu por um “milagre da medicina”. Foram anos de pesquisa e desenvolvimento em moléculas, biologia celular, enzimas e outras áreas que as pessoas provavelmente não entendem ou que podem parecer irrelevantes sem o devido contexto. A pesquisa básica é um pilar da descoberta, mesmo que possa parecer desperdício ou trivial do nosso ponto de vista limitado.

Como uma lição de vida, é importante expandir o raio de conhecimento. O que isso significa? A área de um círculo é encontrada multiplicando Pi pelo quadrado do raio. Como Pi não muda, a área do círculo aumenta à medida que o raio se expande. Ao expandir o raio de experiências, perspectivas, destinos de viagem e pontos de vista, ampliarão também sua área de compreensão.

Com essa lição, uma perspectiva limitada pode levar à conclusão de que a pesquisa é um desperdício ou um projeto científico sem propósito. Uma visão mais ampla pode levar ao desenvolvimento de um sistema de irrigação mais eficiente para agricultores ou de um novo assento automotivo resistente a impactos. Quem sabe.

Na comunicação científica, costumamos direcionar a mensagem ao público em um nível equivalente ao oitavo ano escolar. Vamos encarar a realidade: as aulas de ciências nem sempre foram as mais populares no ensino médio. O nível de alfabetização científica, os vieses pessoais e a enxurrada de informações vindas de fontes não verificadas, mas acessíveis (blogs, YouTube ou “bolhas” nas redes sociais), moldam as percepções atuais sobre a ciência.

Especialistas em ciência, tecnologia, engenharia e matemática devem se envolver de forma mais ampla e sair da zona de conforto da academia. Sua tia ou seu vizinho provavelmente não leem periódicos científicos nem participam de conferências técnicas. É necessário um engajamento maior para explicar a importância da pesquisa e combater a desinformação e a má informação. A academia também precisa remover barreiras que desestimulam os pesquisadores a se engajarem nesse diálogo.

Atualmente, a pesquisa em ciência, tecnologia, engenharia e matemática cruza, se mistura ou trabalha em conjunto com disciplinas das ciências sociais, comportamentais, da saúde e das humanidades.

Os desafios que enfrentamos hoje exigem que várias disciplinas trabalhem juntas em determinados momentos. E isso ainda incluirá estudos que podem ter nomes estranhos e níveis de complexidade que não compreendemos.

A grande ironia é que muitos comentários nas redes sociais criticando a ciência “frívola” ou a pesquisa básica são feitos em um celular. Esses dispositivos onipresentes surgiram a partir de pesquisas básicas sobre física, circuitos, elétrons, transferência de calor e inteligência artificial. Nossa vida é melhor hoje por causa dos medicamentos, do GPS e, sim, até mesmo dos celulares.

* Marshall Shepherd é colaborador sênior da Forbes EUA, onde escreve sobre temas relacionados ao clima, ciência atmosférica e suas interseções com a sociedade

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