Calor Extremo: os Riscos para a Saúde Humana e o Que Fazer para Evitá-los

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Nas últimas semanas, notícias sobre temperaturas extraordinárias em diferentes regiões do Brasil foram amplamente compartilhadas — principalmente pelos moradores afetados. A cidade do Rio de Janeiro alcançou o nível de “Calor 4” (entre 40°C e 44°C). O sistema Alerta Rio detectou a sensação térmica de 60,1ºC na zona oeste da capital. No Rio Grande do Sul, as aulas da rede estadual de ensino foram adiadas por conta do clima. No dia 10 de fevereiro, Porto Alegre bateu o recorde de 37,9°C.

“O calor extremo que atingiu a Região Sul entre meados de janeiro e início de fevereiro, e mais recentemente a Região Sudeste, pode ser explicado pela presença de uma área de alta pressão, que tem se localizado mais próxima do continente, inibindo a formação de nuvens de chuva e favorecendo o aquecimento devido à maior incidência de radiação solar”, explica Danielle Barros Ferreira, meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET).

De acordo com o professor Fabio Luiz Teixeira Gonçalves, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (USP) , o aquecimento global também é um fator decisivo: “Houve uma intensificação na recorrência das ondas de calor, assim como na intensidade das tempestades e dos períodos de seca. A população deve se preparar para anos cada vez mais quentes.”

Além das altas temperaturas, chuvas intensas, inundações, ondas de frio e secas decorrem das mudanças climáticas, pontua Danielle Ferreira. A reincidência destes fenômenos contribuem para desastres ambientais e, consequentemente, para mais riscos à saúde humana.

Os Principais Riscos para a Saúde

“O calor intenso impacta a saúde de várias maneiras. Primeiro, existem os sintomas imediatos, que afetam o metabolismo e o sistema cardiovascular. Em casos agudos, observamos o aumento da frequência cardíaca, hipertensão, distúrbios metabólicos de baixa energia, tontura, náuseas, vômitos e outras alterações causadas pela falta de regulação da temperatura corporal”, diz Soraya Smaili, professora titular da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A coordenadora do Centro de Saúde Global da Unifesp reitera a gravidade dos efeitos de médio e longo prazo. “O sistema nervoso é um dos mais atingidos. Isso porque o calor diminui a quantidade de oxigênio no cérebro e a energia que alimenta os neurônios.”

“Estudos mostram que há uma elevação no número de quadros de impulsividade, agressividade, insônia e depressão, fora as disfunções de aprendizado e memória”, comenta Smaili.

Cuidados

Em 2024, a temperatura média do planeta ultrapassou pela primeira vez o marco de 1.5°C, segundo dados do programa Copernicus — parte do serviço europeu de observação da Terra. A Universidade de Oregon, nos Estados Unidos, confirmou um aumento de 117% na soma de mortes relacionadas ao calor entre 1999 e 2023, publicou o portal ((o))eco no fim do ano passado.

O poder de mitigação efetiva do aquecimento global é de responsabilidade pública e de grandes corporações. Por isso, empresas como a Apple e a Microsoft, bilionários e filantropos — Bill Gates e Michael Bloomberg — e organizações mundiais atuam para zerar a emissão de carbono e capturá-lo da atmosfera.

Todavia, no dia a dia, algumas medidas simples podem evitar situações de alto risco. “É preciso manter a hidratação, mesmo se não sentir sede. Uma dica: ande com uma garrafa de água”, compartilha Dayanna Palmer, especialista em medicina clínica da Afya.

“Use roupas leves, faça atividade física em momentos frescos, opte por uma alimentação de fácil digestão e aplique protetor solar”, acrescenta.

Soraya Smaili reforça que, em casos extremos, o atendimento médico pode ser necessário. “É preciso ter atenção plena nesse período. Não conseguir dormir por vários dias, taquicardia e palpitações, tonturas e perda de equilíbrio são alguns sinais.”

Mudanças Climáticas e o conceito de “policrises”

Leandro Giatti, professor da Faculdade de Saúde Pública da USP, alega que as mudanças climáticas irão agravar condições comuns e trazer à tona problemas do passado. “Transições importantes vão acontecer em algumas partes do planeta. O sul da Europa, por exemplo, será acometido por doenças como dengue e malária, males comuns das regiões tropicais.”

Por outro lado, novos desafios, como o da causalidade indireta, surgirão. “Se uma inundação ocorrer, o sistema de abastecimento de água será comprometido e as pessoas passarão a beber água contaminada. A partir daí, os perigos crescem”, afirma o especialista em saúde ambiental.

“Eu trabalho com o conceito de ‘policrises’, ou seja, crises múltiplas que se retroalimentam, exacerbam e complexificam. Um caso prático neste cenário de calor extremo, no Brasil, são as periferias. Existe um acréscimo no consumo de energia elétrica, porque as pessoas precisam de mais ventiladores e, devido à infraestrutura precária pré-existente, o risco de um incêndio aumenta”, discorre Giatti.

Como medida, o educador sugere o treinamento dos profissionais de saúde para lidar com este novo contexto. “Eu acho que pode ser importante buscar um olhar diferente de atuação, com o radar atento às necessidades ampliadas, com mais prevenção e preparação para casos de surtos desde o primeiro nível de atendimento”, finaliza.

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