A Rotina Invisível das Mães Que Empreendem em Todas as Frentes

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

É lancheira e lançamento, amamentação e alinhamento de equipe. Em meio a essa rotina que não cabe em planners coloridos nem nos stories do dia, muitas mulheres estão assumindo a liderança de duas (ou mais) empresas: uma com CNPJ e outra chamada família. Longe da glamourização da jornada dupla, há uma logística emocional e operacional que sustenta essa rotina com uma combinação improvável de paciência, improviso e estratégia.

Se a maternidade já é, por si só, uma escola intensiva de soft skills, o empreendedorismo exige um conjunto extra de hard skills que muitas vezes são subestimadas — ou invisibilizadas. Gerenciar um time ou uma criança envolve timing, empatia, resiliência e, principalmente, a consciência de que o controle total é uma ilusão. É pensando nisso que a Forbes ouviu mulheres que não apenas equilibram pratos: elas transformam o malabarismo cotidiano em negócio, conteúdo e propósito, e nos provam que maternar e empreender têm mais em comum do que a gente costuma acreditar.

Camila Fremder: improvisos, intuição e uma máquina que não para

Jéssica Pauleto

Camila Fremder: “Maternar já é muita coisa”

Camila Fremder já escreveu livro com uma mão enquanto segurava o filho com a outra. E não é metáfora. “Eu amamentava segurando ele e digitava com a outra. Foi muito cansativo, mas era o que dava para fazer na época”, conta. A rotina de gravações, roteiro e planejamento de novos formatos para o podcast “É Nóia Minha” segue intensa, mas hoje, com o filho mais velho, ela garante: “Não sinto mais culpa, sinto saudade.”

A podcaster vê semelhanças claras entre empreender e maternar — ambas atividades exigem organização e jogo de cintura. “Tanto a maternidade quanto empreender são cheios de imprevistos. Você tem que desenvolver um plano B constantemente”, diz. Ela acredita que esse constante “subir de fase” na criação de um filho a ensinou a nunca estacionar nos próprios projetos. “Sempre me pergunto: ‘Tá, e qual é a próxima etapa?’”

Camila não sente pressão das redes para mostrar uma maternidade perfeita. “Eu não mostro rotina. Não sinto obrigação. Meus seguidores estão ali pelo conteúdo do podcast, não pelo meu dia a dia como mãe.” Mas, ainda assim, reconhece a força da rede de apoio e da autoconfiança que desenvolveu ao delegar. “Antes, eu achava que só eu sabia mexer na maquininha. Hoje, sei que ele tá ótimo com o padrasto, com a minha mãe ou com o pai.”

O conselho? Respeitar o tempo das coisas — inclusive o tempo de adaptação. “Maternar já é muita coisa. Às vezes, a culpa vem de uma ansiedade de produzir. Mas não precisa atropelar tudo. Tá tudo bem estar ‘só’ amaternando.”

Tata Estaniecki: turnos múltiplos, verdades compartilhadas

Whagner Duarte

Tata Estanecki: “Entendi que não tem como controlar tudo — e tá tudo bem”

“Tem dias que eu sou mais mãe. Tem dias que sou mais empresária. E tá tudo bem.” Essa é a filosofia de Tata Estaniecki, cofundadora do PodDelas, mãe da Bia e do Caio e PhD em adaptabilidade. Ela já participou de reuniões com os filhos no colo, pediu ajuda para a vizinha buscar a filha na escola no meio de uma call e acredita que dividir as responsabilidades. no trabalho e em casa, é a única maneira de dar conta.

Para Tata, a maternidade trouxe um aprendizado-chave que transformou também sua postura nos negócios: “A paciência. Antes, eu surtava quando não tinha controle. Agora entendi que não tem como controlar tudo — e tá tudo bem.” Ela lida com a culpa com maturidade e terapia: “A rotina é intensa, então mostro o que dá nas redes. Se é perfeito pra mim, já é suficiente.”

O maior termômetro de que está no caminho certo? Os filhos. “A Bia conversa, se expressa, entende seus sentimentos. Isso me mostra que estamos criando algo bonito, com respeito e presença.” E, para quem está no início dessa jornada dupla, Tata aconselha: “Se permitam falhar. A maternidade é um jogo de erros e acertos. As mulheres sempre foram cobradas demais. A gente precisa se enxergar com mais leveza.”

Dani Junco: propósito, presença e a força da comunidade

Paulo Liebert

Dani Junco: “Metade da população do mundo é mulher, e a outra metade são os filhos delas”

Na B2Mammy, Dani Junco ajuda outras mães a empreender. Mas, antes de tudo, ajuda mulheres a existirem com mais liberdade. “A culpa é uma ferramenta de obediência. Não nasce com a maternidade — é uma construção social”, afirma. Em vez de se prender à culpa, Dani aposta em uma tríade de gestão: tempo, propósito e comunidade.

“Maternidade e empreendedorismo compartilham três pilares: resiliência, propósito e rede de apoio. As duas exigem que você aprenda e desaprenda o tempo todo.” Com um filho de 10 anos, Dani garante que qualidade de tempo é mais importante do que quantidade. “Quando estou com ele, estou 100% presente.”

Se as redes sociais impõem uma rotina idealizada, Dani responde com números e consciência. “Metade da população do mundo é mulher, e a outra metade são os filhos delas. O que importa é: qual é a melhor líder e a melhor mãe que você pode ser, com os recursos que você tem?”

Transparente, ela já participou de reuniões com o celular dentro de uma caixa à prova d’água, direto do mar. “Se você adoece, o castelo de cartas cai. A gente precisa estar na agenda — como compromisso prioritário.” Mas, apesar das dificuldades naturais do dia a dia, Dani conta que quando o mundo da carreira e da família colidem, ela se sente completa. “No Dia da Profissão, perguntaram ao meu filho se a mãe dele trabalhava, ele falou que sim. Perguntaram onde, ele falou “na B2Mammy”, e perguntaram o que ela faz lá. E ele falou: “A minha mãe ajuda outras mamães.” Então, ver o seu filho tendo orgulho de você, com clareza do seu trabalho — mesmo que você trabalhe em casa, por exemplo: a mãe faz uma comida maravilhosa ou ela cuida de mim — são orgulhos que realmente são grandes triunfos que a gente tem aqui”.

Camila Achutti: quando o foco vira ferramenta, e a empatia, liderança

Rodolfo Custódio

Camila Achutti: “A maternidade me tornou uma líder melhor”

Para Camila Achutti, empreender e maternar são dois lados de uma mesma moeda: ambos exigem gestão de tempo, foco absoluto e uma boa dose de vulnerabilidade. “Antes das minhas filhas, eu achava que não sobrava tempo. Hoje eu vejo que sobrava, sim”, diz a CEO da Mastertech, que descobriu na maternidade um novo nível de pragmatismo e respeito ao próprio tempo — e ao dos outros.

Para ela, o aprendizado foi além da rotina. “A maternidade me tornou uma líder melhor. Hoje, sei que as vidas pessoais impactam diretamente o trabalho. Aprendi a parar uma reunião para amamentar e seguir com naturalidade. Isso não me faz menos profissional. Pelo contrário.” Liderar é integrar as camadas da vida, e não escondê-las, ela diz.

A culpa, admite, ainda aparece. Mas Camila tenta construir um caminho entre ela e a gratidão. “Sinto culpa todos os dias. Mas também sinto gratidão por poder mostrar às minhas filhas que é possível ser feliz no trabalho. Que é possível fazer diferença nos dois mundos.” Nesse equilíbrio instável, ela aposta na honestidade radical. “Quando cuido das minhas filhas, eu me sinto uma força da natureza. E, se alguém não entende isso, talvez não seja a pessoa certa para estar comigo ou na minha empresa.”

Nas redes, Camila evita o script da perfeição. Prefere seguir mães reais, amigas empreendedoras com quem troca aprendizados. “O conteúdo delas me abraça. Eu não sinto pressão, sinto acolhimento. E quero que as minhas filhas cresçam confiantes de que podem confiar em mim — e nelas mesmas.”

Daniela Binatti: entre fusos, feeds e filhas

Pismo

Daniela Binatti: “Grande parte do que eu faço é pelas minhas filhas”

Com duas filhas adolescentes e uma empresa global para tocar, Daniela Binatti aprendeu que o segredo não está em separar os mundos, mas em saber onde está a prioridade do dia. “Hoje elas entendem que o trabalho consome tempo, mas que isso não diminui o meu amor por elas. Pelo contrário: grande parte do que eu faço é por elas.”

Empreendedora de longa data, a cofundadora da Pismo já viveu todas as fases da culpa materna. “Quando eram pequenas, me cobrava muito mais. Hoje, vejo que o mais importante é ter clareza sobre o que importa em cada momento.” Foi essa percepção que, lá atrás, a fez deixar uma carreira consolidada para criar algo novo, com mais autonomia e propósito.

A maternidade também a ensinou a liderar com mais humanidade. “Aprendi que cada pessoa tem uma necessidade única, seja filha, seja colega de time. E, com duas adolescentes em casa, habilidades de negociação não faltam”, brinca. Com bom humor, ela conta que uma de suas reuniões mais importantes foi feita com a filha de 40 dias a tiracolo, entre mamadas no estacionamento. “Criatividade e jogo de cintura. Sempre.”

Hoje, ela preserva a própria identidade entre fusos horários, reuniões e um novo amor: o tênis. “É minha forma de manter o equilíbrio. Porque, se a gente desmorona, todo o resto vem abaixo.”

Carol Corona: a CEO em busca de si mesma

Divulgação

Carol Corona: “Estou tentando entender quem sou nesse novo ecossistema”

Recém-mãe de gêmeas, Carol Corona, diretora do grupo Bio Ritmo, está vivendo uma reconstrução de identidade — intensa, confusa, mas profundamente transformadora. “É como se meu ‘eu’ de antes tivesse morrido. Agora estou tentando entender quem sou nesse novo ecossistema”, diz. E, enquanto tenta se encontrar entre mamadeiras, planilhas e banho às 18h, ela aprendeu que o planejamento é tudo, mas o improviso é inevitável.

A maternidade a tornou mais empática, especialmente com outras mulheres. “Hoje eu sei o que é não dormir, o que é ter que decidir algo importante com a cabeça em outro lugar. E entendo como a gente precisa de apoio, em casa e no trabalho, para ter uma maternidade saudável.”

Carol vê nas redes uma pressão constante para mostrar um ideal de mãe-CEO-equilibrada que simplesmente não existe. Ela escolheu expor menos e viver mais. “Prefiro guardar esse lugar tão profundo para mim. O trabalho até parece mais leve depois que virei mãe. Porque agora eu sei o que é um problema de verdade.”

Presença, para ela, é o verdadeiro luxo. “Estar 100% em uma reunião, ou só observando minhas filhas brincando, sem pensar em mais nada: esses são meus trunfos.” E para quem começa a jornada agora, ela aconselha: “Tenha gente boa dos dois lados. Rede de apoio em casa, time de confiança no trabalho. Você não vai dar conta sozinha — e tudo bem.”

Riccy Souza Aranha: fé, família e as prioridades que guiam tudo

Nicole Heiniger

Riccy Souza Aranha: “Me realizo ao ver meus filhos seguindo meus passos e valores”

Para Riccy Souza Aranha, empreender nunca foi sobre escolher entre família e trabalho, mas sobre saber a ordem das coisas. “Minha prioridade sempre foi a família”, diz. Mesmo com os filhos já crescidos quando fundou a Mixed, ela lembra com clareza dos momentos em que precisou escolher entre o lançamento de uma campanha ou a febre de um de seus meninos. “Deixei tudo para levá-lo ao médico. Não tive coragem de viajar.”

Com décadas de estrada, Riccy já viu de tudo, inclusive as cobranças mudarem de forma. “As mães são cobradas por não estarem presentes. Mas muitas também são cobradas por nunca terem trabalhado. A vida sempre cobra. O importante é ter fé no que se está construindo.”

A maternidade, para ela, ensinou valores que hoje guiam seu negócio: amor, paciência e presença. “Me realizo ao ver meus filhos seguindo meus passos e valores.” E, mesmo com a agenda cheia, ela faz questão de começar o dia com um momento de oração. “Preciso alimentar a alma antes de alimentar a agenda.”

Sobre redes sociais, é direta: “Quando vira teatro, acho perigoso. Prefiro o real.” E para outras mulheres em fase de construção, deixa o recado: “Não se ausente nos momentos importantes. Participe. Divida. Celebre junto.”

O post A Rotina Invisível das Mães Que Empreendem em Todas as Frentes apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.