Editorial: Falta d’água na abundância

O assunto da semana em Brusque foi a falta de água generalizada enfrentada pelos moradores. O desabastecimento iniciou na quinta-feira passada, e deve permanecer até este sábado. A troca de bombas de captação feitas pelo Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) foi o pivô da crise hídrica. O que se sabe até o momento é que, por alguma razão, elas não funcionaram como deveriam, e desencadearam um caos sem precedentes no município.

Esse episódio nos faz perceber como o Samae, por meio de sua equipe diretiva, teve uma postura atrapalhada desde o começo. Primeiramente, se tratava de uma obra complexa, e a autarquia comunicou o serviço como se fosse uma obra simples, que acontecem com frequência.

A comunicação foi falha, em cima da hora, e não alertou a população para a complexidade do serviço que seria realizado, e suas possíveis implicações. Os avisos deveriam ter sido feitos com muito mais antecedência, para que todos pudessem reservar água adequadamente, a fim de satisfazer as necessidades básicas, como cozinhar, lavar roupas e tomar banho.

Além disso, a comunicação também falhou depois que o problema já estava instalado, adotando um tom comumente visto na política: minimizar o problema, esconder os culpados e informar equivocadamente o prazo de resolução.

Aliás, o Samae se mostrou incompetente em estimar o prazo para resolver o problema, mudando-o todo dia, até que, nesta quinta-feira, finalmente o diretor-presidente da autarquia, Breno Neves, revelou que o problema persistirá até sábado. Das duas uma: ou o Samae não sabia que o serviço demoraria tanto, e portanto foi incompetente, ou sabia e mentiu deliberadamente para a população.

Analisando tudo o que foi divulgado até o momento, pode-se questionar também a postura do Samae na hora de fazer esse serviço, desativando um modelo que estava funcionando para ativar outro cujo funcionamento era incerto. A autarquia deveria ter promovido testes antes de colocar as novas bombas em funcionamento, de forma a evitar o comprometimento integral do abastecimento, sem precedentes na história recente de Brusque.

Percebeu-se também, durante essa crise, uma certa omissão do diretor-presidente. Nos comunicados oficiais do Samae e nas entrevistas à imprensa, funcionários de menor escalão foram escalados para dar explicações. Não por acaso, houve diversos ruídos e informações desencontradas sobre prazos e a origem do problema.

Os erros de estratégia do Samae neste caso se tornam ainda piores se analisarmos o cenário hídrico do município. Já houve crises de abastecimento, mas motivadas pela estiagem. Agora, o rio está cheio, a chuva tem sido suficiente, mas o Samae não mostrou capacidade de fazer o seu trabalho a contento. Houve falta d’água em um período de abundância.

Isso levanta novamente a reflexão, já abordada diversas vezes no jornal, sobre a nomeação política para os cargos comissionados da autarquia. O Samae não é uma secretaria comum, que pode ser usada como moeda de troca política, para nomear aliados de vereadores e apoiadores. É preciso ter conhecimento técnico para atuar na autarquia. Do contrário, acontece o que se viu nesta semana: uma condução desastrosa do início ao fim.

Em resumo, o Samae errou em todos os pontos possíveis neste episódio. Esperamos que isso sirva de lição para que a condução da autarquia seja mais profissionalizada e menos politizada. Não é possível que tenhamos um episódio de falta de água desta magnitude em 2025, quando a tecnologia e os conhecimentos sobre a área são suficientemente avançados para que erros sejam evitados.

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