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A terceira parte – como definiu o ministro da Economia da Argetina, Luis Caputo – do programa econômico do governo trará uma novidade para os exportadores de grãos. O dólar blend, que permitia ao agro receber um tipo de câmbio de 80% ao dólar oficial e 20% ao dólar CCL (contado com liquidação) em troca de suas vendas externas, deixará de existir.
Com a eliminação do cepo, a gestão do governo Milei determinou que, a partir de hoje (14), quando entra em vigor o novo esquema cambial, os exportadores receberão pelo total de seus grãos o equivalente ao dólar oficial. Essa medida, além disso, congela a eterna discussão sobre a redução das retenções (impostos sobre exportações), algo que o oficialismo entende não ser possível no momento por causa da necessidade de manter o nível de arrecadação.
“Será revogado o Programa de Incremento Exportador para a liquidação de exportações. Eliminam-se os prazos de 30 dias no acesso a divisas para pagamentos de importações de bens finais e serviços”, informou o Banco Central na sexta-feira.
Do ponto de vista técnico, essa nova determinação implica que tudo relacionado à exportação de bens e serviços deverá passar exclusivamente pelo mercado oficial – com a banda estabelecida entre 1.000 e 1.400 pesos por dólar –, ficando completamente descartada a opção de buscar dólares no mercado financeiro.
Mas por trás disso há ainda uma espécie de efeito colateral que pode beneficiar a busca por aumento das reservas, que agora receberão um forte impulso com o ingresso de US$ 23,1 bilhões (R$ 123 bilhões) por parte do Fundo Monetário Internacional (FMI) e de outros organismos internacionais.
O setor rural aponta para US$ 30 bilhões
O campo vem insistindo que uma mudança na política de pagamento das liquidações de exportações poderia representar um ingresso de US$ 30 bilhões (R$ 176 bilhões), cifra que seria muito bem-vinda pelo Banco Central.
“O programa claramente vai no caminho da liberalização do cepo e de promover um tipo de câmbio competitivo dentro das bandas cambiais com um teto de 1.400 pesos, e pode indicar claramente uma orientação para que a Argentina vá recuperando a competitividade exportadora necessária e, dessa forma, gerar novas oportunidades no comércio exterior”, afirmou Gustavo Idígoras, presidente do Consórcio de Exportadores de Cereais e Oleaginosas (CIARA-CEC), à frente de um setor-chave no ingresso de divisas.
Embora o setor agropecuário ainda precise analisar mais profundamente o impacto dos anúncios de Caputo, o fato é que as expectativas do setor mudam, ainda que siga a insistência na necessidade de reduzir – ou mesmo eliminar – as retenções, “o que realmente pode mudar a equação”.
Além disso, o setor já assimilou que isso não ocorrerá neste ano – apesar da redução até 30 de junho da alíquota de 33% para 26% no caso da soja, o grão mais representativo –, de forma que uma medida como a anunciada ontem é bem-vinda, sobretudo em um contexto em que se sabe que, pelo menos neste ano, não haverá muito mais a esperar.
“O que se afirma no agro é que isso representa uma melhora nas condições”, embora nada garanta que haverá “uma enxurrada de vendas”. “É uma normalização, o que não é pouco, já que todos os sistemas vistos até agora foram remendos que sabíamos que desapareceriam em algum momento; então, assim, é muito difícil ter uma visão de longo prazo. A discussão sobre as retenções é fundamental. Se o que se busca é melhorar o ritmo de liquidação de exportações, é para onde se deve mirar. Confiamos que em 2026, embora ainda esteja longe, essa discussão possa ser feita de forma séria”, explicaram à Forbes representantes do setor de grãos.
Queda em março
Segundo o último levantamento divulgado pela CIARA, o comportamento das exportações de grãos em março passado não foi o melhor. A entidade detalhou que o ingresso de divisas provenientes do agro experimentou uma desaceleração significativa no mês passado em comparação com fevereiro.
As empresas do complexo agroexportador liquidaram US$ 1,88 bilhão (R$ 11 bilhões), uma queda de 15% em relação aos ingressos registrados em fevereiro.
Apesar dessa baixa, o montante de março é 20% superior ao registrado no mesmo mês de 2024, o que representa um aumento acumulado de 26% no primeiro trimestre de 2025 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Essa melhora, no entanto, não foi suficiente para compensar a desaceleração do último mês.
Até o mês passado, a tendência indicava que os produtores preferiam restringir as vendas aos exportadores e comercializar sua produção principalmente quando havia necessidade de obter recursos, embora em muitos casos também se priorizasse a possibilidade de acumular estoque à espera de melhores condições.
O que se aguardará, então, é qual será a resposta do agro em abril, que será o primeiro mês sob essas novas condições, com a ressalva de que as modificações no sistema cambial entrarão em vigor com 10 dias do mês já transcorridos.
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