O algoritmo é um espelho. O que você vê no seu?

Por trás da lógica acelerada do digital existe um mecanismo invisível que reorganiza tudo: o algoritmo. E ele aprendeu rápido demais.

Aprendeu a nos mostrar o que queremos ver. A nos entregar conforto em vez de confronto. A repetir o que já acreditamos, para que a dúvida nunca nos alcance. Aprendeu que emoção converte mais que argumento. Que indignação gera mais cliques do que reflexão. Que um meme pode mais do que uma análise.

Mas o algoritmo não é o vilão — ele é um espelho. Um reflexo do que fazemos, do que curtimos, do que escolhemos compartilhar ou ignorar. O problema não está só no código. Está naquilo que ele aprendeu com a gente.

Por isso, quando falamos em comunicação digital, precisamos parar de tratar o algoritmo como se fosse uma entidade distante, mágica ou incontrolável. Ele é só o espelho da nossa atenção. Ele devolve, com precisão matemática, o que a sociedade tem alimentado emocionalmente. Se o resultado assusta, talvez seja hora de mudar a pergunta: em vez de “como vencer o algoritmo?”, talvez devêssemos perguntar “por que ele está nos vencendo?”

A política digital não é feita de posts. É feita de presenças. De vínculos. De coerência entre o que se diz e o que se faz. Quem trata o digital como se fosse apenas uma extensão da propaganda tradicional, perde. Quem busca atalhos em impulsionamento vazio ou fórmulas prontas, erra o alvo. Porque hoje, mais do que convencer, é preciso conectar. E conexão exige escuta, ritmo, consistência.

Não é à toa que os protagonistas do nosso tempo não são os que falam mais alto, mas os que conseguem construir relações verdadeiras num mar de desconfiança. Relações que não começam em um post patrocinado, mas na capacidade de ocupar, com propósito, os vazios entre uma bolha e outra.

A política foi atravessada por essa lógica. Mas não só ela. A cultura, o consumo, as amizades, as crenças. Tudo virou código. Tudo virou dado. Tudo virou disputa por segundos de atenção. Mas a atenção — essa moeda invisível que move o mundo — não se conquista com atalhos. Se conquista com sentido.

E sentido não se produz em escala. Se constrói em profundidade.

Por isso, talvez o maior desafio não seja entender como o algoritmo funciona, mas como nós funcionamos com ele. Como reagimos. Como interagimos. O que estamos ensinando. Porque o algoritmo está aprendendo. E aprendendo rápido.

Se ele nos mostra o que mais engaja, e o que mais engaja é raiva, medo ou desinformação, então o problema não está apenas na máquina. Está na sociedade que alimenta a máquina com aquilo que ela quer amplificar.

Ainda dá tempo de mudar a imagem no espelho. Mas isso exige mais do que boas intenções. Exige presença, responsabilidade e uma comunicação que una dados e densidade. Que seja analítica sem perder o afeto. Que seja estratégica sem perder a escuta.

E talvez, só talvez, o futuro da política e da comunicação esteja justamente nisso: usar os números para enxergar melhor as pessoas — e não para fugir delas.

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