Apesar da Queda nas Ações, Jeff Bezos e a Amazon Devem Sair Vencedores com as Tarifas

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O homem mais rico do varejo mundial, Jeff Bezos — fundador e presidente da Amazon — tem cultivado cuidadosamente sua relação com o presidente Donald Trump. Desde a eleição, Bezos tem buscado proximidade, parabenizando Trump publicamente no X (antigo Twitter) e comparecendo à sua posse, para a qual a Amazon fez uma doação.

Pelo menos publicamente, ele também tem sido cauteloso ao comentar sobre tarifas. Em uma publicação no X, em março, Bezos escreveu que a seção de opinião do Washington Post poderia abordar “os efeitos prejudiciais e distorcidos quando as tarifas são usadas para escolher vencedores e perdedores”. Desde a noite de quarta-feira, a China e os Estados Unidos estão em um cabo de guerra que fez o país asiático subir para 125% sobre os produtos americanos, enquanto os Estados Unidos cobra uma tarifa unificada de 145%. 

Diante da maior queda do mercado de ações em dois dias desde 2022, a Amazon parece ser uma das grandes perdedoras. O maior varejista online do mundo depende fortemente de produtos fabricados na China. As ações da empresa caíram 9% na quinta-feira, 3 de abril (comparado a uma queda de 6% no Nasdaq), eliminando US$ 16 bilhões (R$ 92,8 bilhões) do patrimônio líquido da segunda pessoa mais rica do mundo. Na sexta-feira, até as 13h30, os papéis da Amazon registravam nova queda de 2%.

É evidente que as tarifas aumentarão o custo de produtos importados, especialmente os vindos da China, segundo Helena Wang, analista da Phillip Securities. “Isso não é bom para ninguém, e não é bom para a Amazon”, diz Gil Luria, analista da D.A. Davidson.

Os produtos mais impactados? Eletrônicos, vestuário e itens domésticos — setores em que a Amazon depende fortemente da manufatura chinesa, de acordo com Wang e Jeffrey Wlodarczak, do Pivotal Research Group. O vestuário, que representa cerca de 10% a 15% da receita de varejo da Amazon, pode ser especialmente afetado, segundo Luria e Wlodarczak. Embora a empresa não divulgue a porcentagem de produtos originados fora dos EUA, os analistas consultados pela Forbes estimam que entre 40% e 70% dos produtos vendidos sejam importados — em sua maioria, da China.

Vantagem competitiva

Mas há um ponto positivo: a Forbes conversou com quatro analistas, dos quais três disseram que as tarifas — caso sejam mantidas — podem colocar a Amazon em vantagem competitiva.

“Essa tarifa não é direcionada à Amazon. Ela é global… o que significa que todos os concorrentes enfrentarão exatamente a mesma pressão que a Amazon”, diz Nicholas Jones, analista de pesquisa de ações da Citizens Capital Markets and Advisory. “Se os custos subirem, é provável que você ainda recorra à Amazon, porque ela entrega no dia seguinte, certo? A Amazon tem a vantagem da conveniência.”

Além disso, a Amazon está numa posição privilegiada por ter opções de como responder à situação. Luria explica que há três “alavancas” possíveis: a Amazon pode repassar o aumento de custos aos consumidores, reduzir ainda mais as margens dos fornecedores ou absorver o aumento — o que afetaria suas próprias margens. (Em 2024, a margem de lucro da Amazon foi de 9%.) Luria acredita que a empresa deve se apoiar principalmente nas duas primeiras alternativas, mas “se a Amazon acreditar que essas tarifas talvez nem entrem em vigor ou durem pouco tempo”, ela pode escolher, temporariamente, absorver os custos em algumas categorias. No entanto, quanto mais tempo as tarifas permanecerem em vigor, segundo Wang, “mais provável será que vendedores e consumidores arquem com os custos”.

“A magnitude das tarifas é alta, e quanto mais tempo elas permanecerem, maior a chance de que os custos sejam repassados aos consumidores”, afirmou Amit Khandelwal, professor de relações globais e economia da Universidade Yale, em e-mail à Forbes. Ele acrescentou que os preços das importações aumentaram logo após a imposição de tarifas durante o primeiro governo Trump.

A Amazon não respondeu ao pedido de comentário feito pela reportagem antes da publicação.

Quem paga a conta?

Com o tempo, à medida que consumidores e vendedores absorvem mais os custos, a Amazon pode sair fortalecida. “Só porque está caro na Amazon não significa que será mais barato no Walmart, na Target, na Best Buy ou em qualquer outro lugar”, diz Jones, da Citizens. “Esses produtos vêm das mesmas origens.” Como a Amazon tem “a melhor rede logística e maior capacidade de encontrar alternativas, deve estar relativamente melhor posicionada do que seus concorrentes”, acrescenta Wlodarczak. E, de acordo com Luria, a base de clientes da Amazon é mais diversificada do que a da maioria de seus concorrentes, o que pode beneficiar a empresa caso os impactos das tarifas afetem de forma mais intensa certos segmentos de consumidores.

Além disso, a Amazon tem um balanço financeiro sólido, o que pode ajudá-la a evitar arcar com a maior parte do impacto das tarifas. Isso se deve em parte à sua lucrativa divisão de serviços em nuvem, a AWS, que gerou 17% das vendas líquidas da empresa, mas respondeu por 60% do lucro operacional em 2024 — e que provavelmente não será muito afetada pelas tarifas. A Amazon fabrica alguns de seus chips de IA no Canadá e em Israel, mas, segundo Luria, a resposta da empresa, se houver, pode ser reduzir a produção desses chips e diminuir os investimentos em centros de dados — o que reduziria seus gastos de capital.

As novas regulamentações de Trump também podem favorecer a Amazon na competição contra as empresas chinesas de preços ultrabaixos, como Shein e Temu. Como parte da ordem executiva que anunciou as tarifas, Trump também fechou a brecha comercial conhecida como “de minimis”, que permite a entrada de produtos com valor inferior a US$ 800 (R$ 4.640) nos EUA sem cobrança de tarifas. Isso atinge mais a Shein e a Temu, cujos produtos são, em sua maioria, baratos — o que nem sempre é o caso na Amazon. Além disso, ao contrário da Shein, da Temu e até de varejistas tradicionais como o Walmart, a Amazon não define nem fornece todos os seus próprios produtos: ela tem uma vasta rede de vendedores terceirizados usando sua plataforma. Portanto, de acordo com Wang, a Amazon tende a suportar uma parcela menor do impacto das tarifas. No entanto, ela acrescenta que concorrentes como Walmart e Target também vêm investindo fortemente na nacionalização e diversificação de suas cadeias de suprimentos, o que pode lhes dar vantagem em algumas categorias de produtos.

Ainda assim, é cedo para prever os desdobramentos — especialmente se as tarifas forem usadas mais como ferramenta de negociação do que como o início de uma guerra comercial total, que poderia levar a uma recessão. Nesse caso, haveria queda nos gastos dos consumidores, o que representa o maior risco para a Amazon e seus concorrentes, segundo Wlodarczak.

Por ora, os analistas continuam otimistas em relação à Amazon — pelo menos quanto ao preço de suas ações. Dos 76 analistas que acompanham a empresa, 61 recomendam a compra, e nenhum rebaixou a classificação da ação após o anúncio das novas tarifas. “A avaliação da empresa está muito atrativa”, diz Luria. As tarifas “representam mudanças profundas na posição dos EUA no cenário global, e não haveria nada que o sr. Bezos — ou o sr. Cook [CEO da Apple] ou o sr. Nadella [CEO da Microsoft] — pudessem dizer para mudar isso.” E, no fim das contas, a Amazon provavelmente continuará firme.

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