Prisão de vice-presidente pode levar Sudão do Sul de volta à guerra civil

Acordo de paz de 2018 pôs fim à violenta guerra civil que assolava o país, mas prisão de vice-presidente aumenta as tensões no país africano

Da redação, com Vatican News

Forças paramilitares no Sudão do Sul / Foto: Reprodução Reuters

Seis anos atrás, o Papa Francisco recebeu os novos líderes políticos do Sudão do Sul no Vaticano, oportunidade em celebrou o acordo, mediado pela Igreja, que pôs fim a uma guerra civil com um saldo de 400 mil vítimas de 2013 a 2018. Tensões nas últimas semanas, porém, que culminaram com a prisão do vice-presidente, Riek Machar, fazem com que este acordo celebrado pelo Santo Padre seis anos atrás seja colocado em risco.

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O vice-presidente, Riek Machar / Foto: Reprodução Youtube

Na ocasião, o Bispo de Roma quebrou protocolos, e se curvou para beijar os pés dos antigos rivais, o presidente Salva Kiir e o vice-presidente Riek Machar — que hoje está preso. A oposição sul-sudanesa, após a prisão de Machar, declarou o acordo de paz de 2018 “revogado”. No entanto, a comunidade internacional tomou medidas para evitar uma retomada ruinosa das hostilidades.

A instabilidade na região

Os esforços de mediação em Juba foram confiados ao ex-primeiro-ministro queniano Raila Odinga, nomeado pela Comunidade da África Oriental como enviado para evitar a eclosão de um conflito que, nas palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres, “o Chifre da África, já em crise, não pode suportar”.

Sudão do Sul, uma das nações mais pobres do mundo, apesar de seus vastos recursos petrolíferos, recebeu nos últimos dois anos milhares de deslocados pela guerra no vizinho Sudão. Um fardo a mais para um país extremamente frágil, que há sete anos conseguiu deixar para trás o doloroso capítulo da guerra civil, que eclodiu após a independência em 2011, com um acordo de partilha de poder entre os líderes das facções em guerra: Kiir e Machar.

Eleições adiadas

Os alertas sobre a fragilidade do acordo, que surgiram claramente nas últimas semanas com o aumento do conflito político e o retorno dos episódios de violência, já tinham sido vistos no final de 2024, quando o presidente Kiir adiou a data crucial das eleições por dois anos — uma das disposições fundamentais do acordo de paz, sem a qual a transição democrática não pode ser considerada definitivamente concluída. Ainda mais porque o Sudão do Sul nunca realizou eleições desde a independência 14 anos atrás.

O apelo da Igreja e do Papa Francisco

A Conferência Episcopal do Sudão e do Sudão do Sul (SSCB) expressou, nos últimos dias, sua opinião sobre a crise no Sudão do Sul. “A prisão de líderes da oposição e o envolvimento de forças militares estrangeiras, particularmente a mobilização das Forças de Defesa do Povo de Uganda, só aumentaram o medo e a desconfiança. Tais ações correm o risco de transformar nosso amado país num campo de batalha para interesses externos e manipulação política”, ressalta a declaração de 28 de março assinada pelo cardeal Stephen Ameyu Martin Mulla, arcebispo de Juba e presidente da SSBC.

O Papa Francisco, após oração mariana do Angelus deste domingo, 30, renovou seus apelos pela paz no país africano. “Renovo meu apelo sincero a todos os líderes para que façam o máximo para diminuir a tensão no país”, acrescentando: “Devemos deixar de lado nossas diferenças e, com coragem e responsabilidade, sentar à mesa e nos engajar em um diálogo construtivo”.

“Só assim”, continuou o Sucessor de Pedro, “será possível aliviar o sofrimento do amado povo sul-sudanês e construir um futuro de paz e estabilidade”.

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