Afinal, Dinheiro Pode Fazer Alguém Mais Feliz?

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Nenhuma resposta a uma pergunta vale tanto (com o perdão do trocadilho) quanto esta: dinheiro é capaz de fazer alguém mais feliz?

Se tomarmos como um parâmetro que o dinheiro nos ajuda a tirar o peso e a preocupação de dar conta das nossas necessidades básicas (um lugar para morar, alimentação, educação, mobilidade, gastos com saúde), então ele contribui para a felicidade.

Sabemos que o estresse financeiro que acomete pessoas que precisam se endividar para conseguir arcar com que é essencial em suas vidas joga contra a saúde física e mental e também contra o sentimento de contentamento em relação à vida.

Dinheiro também contribui para a felicidade quando consegue nos proteger de coisas que poderiam levar a uma sensação de desamparo, entre elas ajudar alguém que é importante para nós ou poder tratar uma doença séria que demanda remédios de alto custo.

Coopera ainda para o sentimento de felicidade quando nos proporciona viver projetos que sonhamos. Isso não significa, logicamente, que uma pessoa que ganhe menos não possa se programar para realizar os seus sonhos, mas talvez isso lhe custe mais energia e tempo. Nem todas as pessoas, lamentavelmente, conseguem fazer acontecer coisas que ambicionam na época de suas vidas que haviam imaginado e, por isso, muitas vezes sentem-se menos otimistas e até desanimadas em relação à vida.

Num país com tanta desigualdade social como o nosso, vemos muita gente com dívidas acumuladas para suprir o que há de mais essencial: comida e saúde. Não à toa, problemas de saúde mental têm maior incidência em populações com menor poder aquisitivo. Pessoas que sofrem com estresse financeiro podem se sentir abatidas e enxergar a vida a partir da lente do desalento, algo distante do que temos como uma ideia de felicidade.

Isso quer dizer então que pessoas mais abastadas serão sempre mais felizes? A resposta é não.

Todos os dias, em meu consultório, vejo chegarem pessoas de alta renda e grande patrimônio acumulado que sofrem de depressão, têm uma relação trabalho-vida pessoal desequilibrada, comem mal, dormem pessimamente e, por causa disso, algumas delas tornaram-se adictas a remédios para dormir ou álcool, estão a maior parte do tempo presas a uma tela e constatam que pouco falam com seus parceiros e parceiras e comseus filhos.

Não estão felizes e me procuram na tentativa de conseguirem voltar a colocar as suas vidas no trilho e olhar mais para si mesmas e para os que as cercam e poderem apreciar a vida.

O que eu quero dizer com isso é que nem todo o dinheiro do mundo é capaz de gerar gosto pela vida (um dos sentimentos comumente associados à ideia de felicidade) quando o autocuidado foi deixado de lado e o que se alcançou é uma relação doentia ou negativista com a vida.

Felicidade fundamentalmente é resultado de uma maneira de se relacionar conosco mesmos e com as coisas que nos cercam. Não é um estado permanente, até porque a vida é não é um estado permanente de entusiasmo.

Felicidade está escondida “entre” os momentos ruins e tristes e os momentos mais triviais do nosso dia a dia, quando nos sentimos verdadeiramente conectados a quem amamos, quando apreciamos a beleza das coisas ao nosso redor, quando podemos estar mais perto de nós mesmos e do que nos é mais caro. E isso, meu amigo e minha amiga, não tem nada a ver com dinheiro.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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