Governança em empresas familiares: o desafio de aceitar o papel no conselho

Empresas familiares carregam consigo uma riqueza única: o legado, os valores compartilhados e uma história que une a família em torno de um propósito comum. No entanto, à medida que essas empresas crescem e enfrentam novos desafios, torna-se evidente a necessidade de implementar práticas de governança que garantam sua sustentabilidade e longevidade.

Um dos maiores desafios nesse processo é o ajuste do papel dos sócios, especialmente quando se espera que eles façam a transição de gestores operacionais para membros do conselho. Para muitos, essa mudança exige não apenas uma adaptação técnica, mas também emocional e cultural, pois toca em questões profundas relacionadas a controle, confiança e identidade.

O Apego ao Controle Operacional

Muitos sócios de empresas familiares dedicaram anos – às vezes, uma vida inteira – à gestão operacional do negócio. Estiveram na linha de frente, tomaram decisões estratégicas e viveram o dia a dia da empresa. Pedir que se afastem dessas funções para assumir um papel mais estratégico no conselho pode ser sentido como uma perda de relevância ou até mesmo como um risco para o futuro da empresa.

Entretanto, é preciso compreender que governança não significa abrir mão do legado, mas, sim, proteger e fortalecer a empresa para as próximas gerações. O papel do conselho é fundamental para traçar direções, definir prioridades e garantir a continuidade, deixando a execução para uma gestão profissionalizada.

A Confusão entre Emoção e Razão

Outro ponto sensível é a dificuldade de separar o emocional do racional. As relações familiares muitas vezes interferem nas discussões estratégicas, criando conflitos e resistências que não são comuns em empresas não familiares. Nessas situações, a introdução de uma estrutura de governança clara e de práticas como reuniões de conselho regulares e bem conduzidas pode ajudar a minimizar tensões e focar nas decisões mais importantes.

Falta de Preparação para o Papel de Conselheiro

Muitos sócios nunca tiveram a oportunidade de atuar como membros de conselho ou de se preparar formalmente para essa função. Sem a devida formação e clareza sobre as responsabilidades de um conselheiro, é natural que sintam insegurança ou até mesmo desinteresse. Por isso, investir em capacitação é essencial para que os sócios compreendam a importância de seu papel estratégico e possam exercê-lo com confiança e competência.

Caminhos para a Aceitação e Evolução

A transição para uma governança eficaz não acontece da noite para o dia. É um processo gradual, que exige diálogo, paciência e, acima de tudo, respeito às histórias e aos papéis que cada sócio desempenhou até aqui. Algumas estratégias que podem facilitar esse processo incluem:

  • Educação e capacitação: Proporcionar aos sócios acesso a cursos, palestras e workshops sobre governança corporativa.
  • Mediação profissional: Contar com o apoio de consultores externos que possam conduzir o processo de forma neutra e objetiva.
  • Clareza de papéis: Definir e comunicar com transparência as responsabilidades de conselheiros, gestores e demais membros da família.
  • Inspiração por exemplos: Apresentar casos de sucesso de outras empresas familiares que implementaram governança e fortaleceram seus negócios.

Aceitar o papel no conselho é um ato de coragem e de visão de futuro. É entender que a sustentabilidade de uma empresa familiar depende de sua capacidade de profissionalizar a gestão, de fortalecer suas práticas estratégicas e de garantir que o legado da família continue vivo, mesmo em tempos de transformação.

Mais do que uma mudança organizacional, a governança em empresas familiares é um processo de evolução coletiva, onde o respeito ao passado e a preparação para o futuro caminham de mãos dadas. Que possamos encarar esse desafio como uma oportunidade de crescimento e de fortalecimento dos laços que verdadeiramente sustentam o negócio: a confiança, a união e o propósito compartilhado.

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