Renascimento do Chá: Como a Bebida Clássica Está Agitando os Negócios

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Há um antigo ditado do dramaturgo britânico Arthur Wing Pinero: “Onde há chá, há esperança”. E parece que há muita oportunidade sendo preparada no mundo dos negócios, à medida que o chá faz um impressionante retorno, não apenas no Reino Unido, mas em todo o mundo.

Associado a rituais reconfortantes e tardes chuvosas, o chá sempre foi visto como a alternativa mais calma à energia acelerada e vibrante do café. No entanto, hoje seu apelo está se expandindo muito além de suas raízes tradicionais.

Do matcha — feito a partir da planta Camellia sinensis — da moda em Nova York, nos Estados Unidos, aos bares de chá artesanais em Londres e chás funcionais de bem-estar no Japão, os consumidores estão redescobrindo a bebida da modesta folha. Com isso, surge uma nova onda de negócios. O que está impulsionando essa mudança? E, mais importante, como varejistas, marcas e empresas de hospitalidade estão aproveitando esse momento?

Um Ícone Cultural Ganha Novos Admiradores

O chá sempre foi um pilar da cultura britânica, mas nos últimos anos houve mudanças significativas nos hábitos de consumo. Embora o chá preto continue sendo o favorito da nação, aqueles feitos a partir de ervas, verdes e especiais estão conquistando uma fatia cada vez maior do mercado.

Uma pesquisa da UK Tea & Infusions Association, entidade que representa produtores, distribuidores e marcas de chá do Reino Unido, revelou que o interesse por chás de ervas e frutas aumentou 80% durante os períodos de isolamento social nos anos de pandemia de Covid-19, à medida que os consumidores buscavam bebidas funcionais com benefícios adicionais à saúde.

A demanda por alternativas ao chá tradicional continuou crescendo, especialmente entre os consumidores mais jovens. Mais de um terço dos Millennials e da Geração Z consomem chá de ervas semanalmente, com ingredientes como cúrcuma, gengibre e hortelã, que lidera as preferências.

A mesma organização divulgou dados de 2024 que destacam a tendência entre os adultos mais jovens (18 a 29 anos) de optar por variedades de folhas soltas. Sharon Hall, CEO da UK Tea & Infusions Association, explica: “As infusões de ervas e o chá verde representam mais de um quarto (28%) desse grupo etário”, enquanto apenas 5% dos adultos mais velhos fazem essa escolha.

Esse movimento não é passageiro e reflete mudanças mais amplas no estilo de vida. A busca por saúde, sustentabilidade e um consumo mais consciente está influenciando a forma como as pessoas escolhem suas bebidas diárias.

O Chá como Escolha de Estilo de Vida

A ascensão da cultura do bem-estar tem sido um grande impulsionador da popularidade crescente do chá. Ao contrário do café, frequentemente associado a altos níveis de cafeína e um estilo de vida acelerado, o chá se posiciona como a bebida do bem-estar.

Nos Estados Unidos, o consumo de chá cresceu significativamente, com os americanos bebendo cerca de 85 bilhões de porções por ano. Matcha, kombucha e chás funcionais enriquecidos com adaptógenos, colágeno ou probióticos estão na vanguarda desse movimento.

A HeyTea (喜茶), marca chinesa de chá fundada em 2012 na província de Guangdong, tornou-se conhecida por suas criações inovadoras e lojas sofisticadas. A empresa já abriu uma unidade em Times Square, Nova York, além de lojas em Los Angeles, Irvine, Rowland Heights e Seattle, nos Estados Unidos.

Os varejistas e marcas estão respondendo a essa tendência diversificando suas ofertas. Grandes redes de supermercados ampliaram suas seleções de chá, enquanto marcas especializadas, como Pukka, Twinings e Teapigs, capitalizaram o movimento do bem-estar com linhas de produtos direcionadas.

Até mesmo grandes cafeterias estão investindo em inovações baseadas no chá. O Starbucks, por exemplo, registrou um crescimento constante nas vendas de bebidas à base de matcha e chai, especialmente entre os consumidores mais jovens que buscam alternativas com menor teor de cafeína.

Além das Prateleiras: A Experiência do Chá como Negócio

Se antes os supermercados britânicos ofereciam poucas marcas e tipos de chá, agora o foco está em vender a experiência da bebida. O setor independente de chá no Reino Unido cresceu significativamente, com lojas boutique oferecendo sessões de degustação, serviços de assinatura e edições limitadas de blends exclusivos.

As marcas de luxo também estão explorando o potencial premium do chá. Harrods, Fortnum & Mason e varejistas especializados como Mariage Frères transformaram o chá em um item sofisticado e não apenas uma necessidade diária.

Enquanto isso, cafés e estabelecimentos de hospitalidade estão repensando sua abordagem. Redes londrinas como EL&N e Saint Aymes transformaram o ato de beber chá em um momento digno de redes sociais, combinando bebidas visualmente atraentes com experiências estéticas curadas.

A Urgência da Sustentabilidade

O ressurgimento do chá não se trata apenas de saúde, mas também de ética. Com consumidores cada vez mais atentos à origem dos produtos e ao impacto ambiental, fatores como certificação orgânica, comércio justo e embalagens sem plástico estão se tornando padrões indispensáveis no setor.

Marcas como Clipper e Teapigs lideram essa mudança, garantindo que seus chás sejam não apenas eticamente produzidos, mas também embalados de forma sustentável. Os chás de folhas soltas, antes considerados um nicho, vêm ganhando popularidade entre os consumidores ecologicamente conscientes que buscam evitar embalagens descartáveis.

Ao mesmo tempo, rastreabilidade e transparência se tornaram fatores decisivos na escolha dos consumidores. As pessoas querem saber de onde vem seu chá, como foi cultivado e se os trabalhadores receberam um pagamento justo. Essa mudança está reformulando toda a cadeia de suprimentos e pressionando as marcas a revisarem seus compromissos éticos.

Um Fenômeno Global com Impacto Local

No Japão, onde o chá sempre foi parte essencial da rotina diária, as gerações mais jovens estão redescobrindo técnicas tradicionais de preparo, impulsionando novos negócios artesanais.

Na China, onde a cultura do café vinha crescendo, o chá está retomando seu espaço, com casas de chá modernas surgindo nas grandes cidades. Até mesmo em mercados historicamente dominados pelo café, como os Estados Unidos, a bebida está conquistando terreno.

O crescimento da cultura do chá de bolhas, das bebidas à base de matcha e dos funcionais de bem-estar impulsionou uma mudança no comportamento do consumidor. O mercado de chá nos EUA deve crescer quase 20% nos próximos cinco anos, tirando o monopólio dos hábitos diários de cafeína.

O Que Está por Vir?

O setor de chá está em um momento de virada. Percepções tradicionais estão sendo redefinidas, e as oportunidades para inovação são vastas.
Para varejistas e marcas, este é o momento de repensar suas estratégias, seja investindo em linhas premium, criando experiências mais imersivas para os clientes ou reforçando o compromisso com práticas éticas.

Para cafés e estabelecimentos de hospitalidade, a mensagem é clara: o chá não é mais uma opção secundária. Seja por meio de blends exclusivos, experiências sofisticadas ou bebidas criativas, os negócios que abraçarem essa mudança terão maiores chances de prosperar.

No fim das contas, o crescimento do chá vai além da mudança nos gostos; ele reflete como os consumidores enxergam a si mesmos, sua saúde e sua conexão com o mundo. E enquanto essas prioridades permanecerem, a chaleira continuará fervendo.

* Kate Hardcastle é colaboradora da Forbes do Reino Unido, onde escreve sobre consumo e varejo.

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