Administração pública precisa de modernização e tecnologia

Por Delza Assis, especialista em Relações Institucionais e Governamentais da 1Doc.

A Administração Pública não pode mais operar sem dados. Hoje, a governança eficaz exige tecnologia, pois a gestão manual e processos analógicos se tornaram obsoletos.

O Brasil, hoje, se destaca no cenário mundial como referência digital, especialmente por iniciativas como a plataforma Gov.br, que consolidou o acesso digital a serviços governamentais federais. No entanto, quando se trata do nível subnacional, como Estados e Municípios, a realidade ainda é muito distinta.

Apesar da presença da tecnologia nas Administrações Municipais e Estaduais, muitas vezes as ferramentas utilizadas são obsoletas. Desde 2002, com a criação da primeira Lei do Pregão, houve um impulso na contratação de sistemas para a gestão pública, já que o procedimento se tornou mais simples. Contudo, a falta de capacitação técnica na elaboração de especificações adequadas fez com que governos locais permanecessem presos a sistemas antigos.

Por isso, o cenário mais comum é de Prefeituras que utilizam soluções tecnológicas desatualizadas, dificultando a modernização dos serviços. Essas ferramentas obsoletas, em regra, não são compatíveis com sistemas mais atualizados, impedindo integrações e eficiência na gestão. Servidores públicos que precisam viajar, por exemplo, enfrentam dificuldades em acessar informações remotamente, pois estão vinculados a computadores fixos. Isso gera lentidão na execução de tarefas e limita a produtividade do setor público.

Consequências da falta de atualização tecnológica

A defasagem tecnológica na gestão pública tem efeitos significativos na qualidade dos serviços prestados aos cidadãos. Entre as principais consequências estão:

  1. Demora na resposta aos cidadãos: um dos maiores impactos é o tempo que o cidadão precisa aguardar para obter serviços essenciais. Por exemplo, para solicitar um alvará é necessário comparecer fisicamente à Prefeitura, muitas vezes enfrentando filas, preenchendo formulários em papel e aguardando a tramitação manual do processo. Tal lentidão é inaceitável em tempos de digitalização, onde a automatização poderia reduzir significativamente o tempo de resposta.
  2. Riscos de extravio e na manipulação de documentos: o uso de documentos físicos aumenta o risco de perda, extravio ou manipulação indevida. Processos administrativos que ainda dependem de papel estão sujeitos a atrasos, além de problemas de segurança e integridade das informações.
  3. Baixa eficiência operacional: sem sistemas modernos e integrados, as prefeituras enfrentam dificuldades em otimizar processos. A falta de plataformas em nuvem, por exemplo, obriga servidores a estarem fisicamente nas repartições para acessar sistemas, impossibilitando uma gestão ágil e flexível.
  4. Falta de transparência: a burocracia e os processos manuais dificultam a rastreabilidade de informações e a prestação de contas à sociedade. Com sistemas desatualizados, fica mais difícil garantir transparência e controle sobre os serviços públicos.

Digitalização na gestão pública

A adoção de tecnologias modernas na Administração Pública pode transformar a experiência do cidadão e a eficiência dos serviços governamentais. Algumas das melhorias incluem:

  1. Atendimento digital e agilidade: sistemas integrados permitem que os cidadãos realizem solicitações online, sem a necessidade de deslocamento. Isso garante  atendimento 24 horas por dia, eliminando a necessidade de folgas no trabalho, por exemplo, para resolver questões burocráticas.
  2. Automatização de processos: a tecnologia elimina etapas desnecessárias, reduzindo custos e melhorando a eficiência operacional.
  3. Acesso em qualquer lugar: com soluções baseadas em nuvem, servidores podem trabalhar remotamente, conferindo maior flexibilidade para a gestão pública.
  4. Maior transparência e controle: sistemas modernos permitem auditorias em tempo real, reduzindo a corrupção e garantindo a prestação de contas à sociedade.
  5. Soluções inteligentes: plataformas intuitivas simplificam o acesso aos serviços, guiando o usuário com base em suas necessidades, sem exigir que ele conheça a estrutura administrativa.

Desse modo, a modernização tecnológica na gestão pública não é mais uma opção, mas uma ação necessária para garantir uma gestão eficiente e transparente. Além disso, é comum que a economia gerada pelo uso da tecnologia supere o investimento necessário para a sua implementação, como é o caso da grande economia de recursos públicos quando se elimina o papel para a tramitação de processos administrativos.

Municípios e Estados que adotam soluções digitais conseguem otimizar seus processos, melhorar a experiência do cidadão e fortalecer a governança pública. Portanto, a modernização não deve ser encarada apenas como um desafio tecnológico, mas também como uma revolução na forma como o setor público pensa e age. O sucesso da transformação digital na gestão pública dependerá menos da tecnologia em si e mais da disposição dos gestores em reformular processos, quebrar paradigmas e colocar o cidadão no centro das decisões

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