4 Razões Pelas Quais Algumas Pessoas Traem Mesmo em Relacionamentos Felizes

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É uma das traições mais perturbadoras: alguém em um relacionamento aparentemente feliz decide trair. O conhecimento comum sugere que as pessoas traem porque falta algo: a paixão esfriou, a comunicação falhou ou o ressentimento se instalou. Mas a verdade é que muitos casos acontecem não por insatisfação, mas por razões psicológicas muito mais profundas.

Algumas pessoas traem mesmo amando o parceiro. Elas podem valorizar profundamente o relacionamento e, ainda assim, se sentirem atraídas pela infidelidade. Essa contradição pode ser confusa tanto para o parceiro traído quanto para quem traiu. Mas por que isso acontece? Quais forças ocultas levam alguém a arriscar algo que valoriza?

Aqui estão quatro fatores psicológicos que explicam por que algumas pessoas traem — mesmo em relacionamentos felizes.

1. O Encanto da Novidade e a Busca por Dopamina

O amor romântico está profundamente ligado ao sistema de recompensa do cérebro, que libera dopamina — o neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e motivação. No início de um relacionamento, esse sistema está a todo vapor, inundando o cérebro com dopamina e criando aquela sensação de euforia e atração. Cada olhar, toque ou conversa parece mágico, reforçando o desejo de estar com aquela pessoa.

Mas, com o tempo, essa euforia diminui. Estudos com ressonância magnética mostram que o amor romântico evolui de uma fase de paixão intensa, movida por dopamina, para um estágio mais estável, baseado em hormônios como ocitocina e vasopressina, que fortalecem a confiança e o vínculo. Embora essa mudança seja natural e necessária para um relacionamento longo, algumas pessoas sentem falta daquela empolgação inicial.

Para quem busca estímulos constantes, um caso extraconjugal pode parecer uma forma rápida de reviver aquele frio na barriga do novo amor. Isso não significa que queiram deixar o parceiro — muitas vezes, ainda se sentem profundamente próximos. Mas a tentação de uma experiência emocionante e cheia de riscos pode falar mais alto.

O que fazer: Em vez de buscar novidades fora do relacionamento, tente reacender a chama dentro dele. As mesmas vias de recompensa que criam a atração inicial podem ser estimuladas com experiências novas juntos: viagens espontâneas, hobbies diferentes ou até pequenas surpresas no dia a dia. O amor não precisa perder a intensidade — só precisa de esforço para manter o cérebro atraído.

2. Medo da Fragilidade Intensa 

Absurdamente, algumas pessoas traem não por se sentirem distantes, mas por se sentirem muito próximas. Para quem tem tendências de evitar o apego, a intimidade profunda pode ser devastadora, despertando medos de perder a independência, se tornar dependente ou expor fragilidades que sempre protegeram.

Quem cresceu em ambientes onde o amor era inseguro ou relativo pode associar proximidade com dor. Assim, a verdadeira intimidade — onde são vistos e amados de forma verdadeira — pode parecer assustadora.

Nesses casos, trair pode ser uma forma inconsciente de criar distância e recuperar o controle emocional. O caso extraconjugal não é sobre a outra pessoa, mas sobre se proteger da vulnerabilidade que um relacionamento profundo exige. Uma conexão nova e menos intensa pode parecer mais “segura”.

Um estudo de 2013 publicado na Social Psychological and Personality Science mostra que construir confiança ao longo do tempo reduz o medo da intimidade. Além disso, apoiar o crescimento pessoal do parceiro ajuda a diminuir a ansiedade do apego, fazendo com que a intimidade afetiva pareça menos sufocante.

A verdadeira segurança no amor não vem de evitar a dependência, mas de entender que é possível conciliar amor e independência.

3. A Crise de Identidade — “Ainda Sou Eu?”

Relacionamentos de longo prazo unem duas vidas: rotinas se misturam, identidades mudam e prioridades se alinham. Embora isso fortaleça o laço, também pode levar a uma crise de identidade, especialmente para quem associa autoestima à independência ou à aventura.

Com o tempo, alguns podem sentir que perderam contato com a pessoa que eram antes — aquela versão solteira, despreocupada e cheia de descobertas. Eles podem começar a se ver mais como “parceiros” do que como indivíduos, levando a uma sensação de mesmice.

Pesquisas sobre o modelo de expandir a si mesmo mostram que as pessoas buscam aumentar seu senso de identidade — seja por meio de relacionamentos profundos ou de experiências novas e desafiadoras. Quando essa necessidade não é atendida no relacionamento atual, alguns podem buscá-la fora dele, inclusive por meio da traição.

Nesses casos, trair não é sobre rejeitar o parceiro, mas sobre tentar recuperar uma identidade de quem somos que estava perdida. O caso extraconjugal vira uma tentativa equivocada de se reconectar com uma versão mais livre e interessante de si mesmo. No entanto, a autoexpansão não precisa acontecer fora do relacionamento — ela pode ser cultivada dentro dele.

Invista em hobbies pessoais, mantenha amizades fora do relacionamento e reserve momentos só para você. A chave é equilibrar amor e crescimento pessoal, sem sacrificar sua individualidade.

4. Autossabotagem Inconsciente

Algumas pessoas traem não porque estão infelizes, mas porque não acreditam que merecem ser felizes. Quem cresceu em ambientes instáveis ou tóxicos pode achar um relacionamento saudável estranho ou até desconfortável. Em vez de abraçar a estabilidade, eles sem querer esperam que tudo desmorone e agem para sabotar o que têm.

Estudos mostram que quem sofreu rejeição ou abuso emocional na infância tende a desenvolver estilos de apego inseguros, que dificultam a intimidade e a confiança. Se o amor foi aleatório no passado, eles podem acreditar que a felicidade é passageira ou que o sofrimento é inevitável.

Assim, quando encontram um relacionamento saudável, podem se sentir ansiosos, esperando que algo dê errado. A traição, nesse caso, é uma forma de autossabotagem — uma maneira de confirmar a certeza interna de que o amor sempre acaba em dor. Ao sabotar a própria felicidade, eles recuperam uma ilusão de controle.

Quebrar esse ciclo exige autoconhecimento e cura. Se você se pega afastando as pessoas quando as coisas estão indo bem, pergunte-se:

  • “Eu tenho dificuldade para confiar na felicidade?”
  • “Eu espero que tudo desmorone, mesmo sem motivo?”
  • “Estou repetindo padrões do passado?”

Entender o que leva à infidelidade não justifica a traição, mas abre caminho para a cura. Se ela já aconteceu, a pergunta mais importante não é “Por que?”, mas “Como seguir em frente?”.

Você se sente seguro no seu relacionamento, ou busca emoção fora dele? Refletir sobre isso pode ser o primeiro passo para entender suas necessidades e fortalecer seu vínculo.

*Mark Travers é colaborador da Forbes USA. Ele é um psicólogo americano formado pela Cornell University e pela University of Colorado em Boulder.

 

 

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