Neto de Bilionário Robert Kuok Lidera Aposta e Investe Bilhões em Data Centers de IA

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As raízes do Kuok Group, conglomerado fundado pelo lendário magnata dos negócios Robert Kuok, remontam a 1949, no estado de Johor, na Malásia. Lá, ele e seus irmãos iniciaram um comércio de alimentos não perecíveis, como açúcar, arroz e farinha. Mais de 75 anos depois, Johor, antes uma região pacata, tem aproveitado sua vasta disponibilidade de terras e proximidade com Singapura para se transformar em um próspero polo tecnológico. Em uma espécie de retorno às origens, o Kuok Group encontrou uma nova oportunidade ao vender um item essencial do século 21: armazenamento de dados.

Em outubro do ano passado, a K2 Strategic, unidade privada do grupo liderada por Kuok Meng Wei, neto do patriarca e hoje com 41 anos, inaugurou um data center de 60 megawatts (MW) — a capacidade é medida pelo consumo de energia — no Sedenak Tech Park, um complexo de 700 hectares e um dos vários polos digitais que estão se multiplicando em no estado malasiano. Localizado a cerca de 30 quilômetros da ponte centenária que conecta Singapura à capital do estado, Johor Bahru, o local tem atraído algumas das maiores empresas de data centers do mundo.

O “K” em K2 Strategic não se refere a Kuok; o nome vem da segunda montanha mais alta do mundo, que é uma escalada mais íngreme e difícil do que o Everest. Seu pico, a 8,6 mil  metros acima do nível do mar, é onde “as nuvens tocam o chão”, diz Meng Wei.

“A indústria de data centers é o setor mais promissor que vimos nas últimas décadas”, diz Meng Wei. “As demandas de IA estão impulsionando a necessidade de data centers de forma exponencial”, afirma.

Surfando na Onda da IA

Em Johor, a empresa é atualmente o terceiro maior operador, atrás da Bridge Data Centres, do Bain Capital, com 126 MW, e da DayOne (uma unidade da chinesa GDS), com 115 MW, segundo a consultoria imobiliária Knight Frank, com sede em Londres. Outros players incluem o Princeton Digital Group, apoiado pela Warburg Pincus, e a YTL Corp., do magnata malaio Francis Yeoh, que fez parceria com a desenvolvedora de chips de IA Nvidia. Meng Wei é relutante em divulgar os nomes dos clientes atuais da K2. “Contamos com dois dos maiores provedores de serviços em nuvem do mundo e com a empresa de mídias sociais de crescimento mais rápido do planeta em nossa lista de clientes”, diz, mantendo o mistério.

Para o CEO da K2, o boom de data centers é semelhante à “grande onda macro”, que o Kuok Group surfou quando a China se abriu sob Deng Xiaoping, no final da década de 1970, liberando a demanda por itens essenciais como óleo comestível e outras commodities agrícolas. Confiante de que adentrar neste mar trará retorno, Meng Wei está apostando ainda mais, com planos de investir impressionantes US$ 9 bilhões (R$ 52,65 bilhões) nos próximos cinco anos, além dos US$ 1 bilhão (R$ 5,85 bilhões) já investidos. A maior parte desse montante foi destinada à construção de capacidade de data centers na Malásia, Indonésia e Tailândia.

Esses países, que são os hubs de armazenamento de dados de crescimento mais rápido do Sudeste Asiático, segundo a Knight Frank, se beneficiaram da moratória de 2019 de Cingapura sobre a construção de data centers, devido à limitação de terra e de fornecimento de eletricidade. A moratória foi suspensa em 2022, mas as novas construções continuaram na Malásia e em outros locais, à medida que Cingapura impôs requisitos mais rígidos.

Malásia é a Bola da Vez

Grandes investimentos estão sendo feitos no boom de data centers na região. Amazon, Google, Microsoft e Oracle estão expandindo rapidamente sua presença digital no Sudeste Asiático, com planos de investir mais de US$ 44 bilhões (R$ 257,4 bilhões) nos próximos anos. Um pouco mais da metade desse montante – US$ 23 bilhões (R$ 134,55 bilhões) – está destinado à Malásia.

Apesar da rápida expansão, os players do setor estão confiantes de que a demanda é sustentável. “A indústria ainda não está construindo capacidade em excesso”, diz Otto Toto Sugiri, bilionário cofundador e CEO da DCI Indonesia, a maior provedora de data centers do país, listada em Jacarta. No final de 2024, ela operava sete centros com uma capacidade total de 83 MW.

Meng Wei está escalando rapidamente. Seu objetivo é aumentar a capacidade da K2 em dez vezes, para 1.200 MW até 2030, a partir dos atuais 120 MW. Para alcançar isso, ele está procurando novos locais na Malásia, fora do campus Sedenak, que ele espera estar completamente ocupado dentro de dois a três anos. Simultaneamente, Meng Wei está expandindo na Indonésia, onde a K2 Strategic fez parceria com a família bilionária Widjaja, da Sinar Mas Land. Eles adquiriram dois terrenos em Bekasi, no leste de Jacarta, com mais de 40 hectares, onde planejam desenvolver mais de 100 MW.

A receita da K2 Strategic tem aumentado, chegando a quase US$ 100 milhões (R$ 585 milhões) em 2024, em comparação com US$ 3 milhões (R$ 17,55 milhões) em 2018, quando abriu seu primeiro data center na Irlanda, bem antes de o Sudeste Asiático se tornar um hotspot de data centers.

Nas Raízes do Kuok Group

Meng Wei começou sua carreira no setor de agronegócios, o principal ramo tradicional do Kuok Group. Depois de obter um diploma em engenharia industrial pela Universidade de Stanford em 2007, trabalhou na Wilmar International, listada em Cingapura, um gigante do óleo de palma cofundado pelo sobrinho de Robert Kuok, Kuok Khoon Hong — também um bilionário com um patrimônio líquido recente de US$ 2,8 bilhões ou R$ 16,3 bilhões.

Mais tarde, como diretor executivo de uma subsidiária da Wilmar, Meng Wei se deslocava entre Cingapura e Mianmar, onde o gigante de commodities havia investido US$ 1 bilhão (R$ 5,85 bilhões) em um portfólio de ativos, incluindo a maior refinaria de açúcar do país em volume e operações portuárias em Thilawa, uma zona econômica especial perto de Yangon.

Em 2016, o CEO da K2 foi encarregado de criar o escritório de projetos especiais do Kuok Group para explorar novos negócios. Ele sugeriu investir em infraestrutura crítica— um setor com longa gestação, mas com uma receita constante que poderia oferecer uma proteção contra a natureza cíclica das atividades principais do grupo, como commodities e transporte marítimo.

No mesmo ano, após um investimento proposto em uma usina de energia em Mianmar não se concretizar, Meng Wei se deparou com uma oportunidade inovadora: transformar um armazém em Dublin em um data center. “Era muito cedo no desenvolvimento de data centers hyperscala e poucos bancos entendiam como financiar essa classe de ativos”, lembra Meng Wei. Ele apresentou a proposta de investimento para sua família com um argumento convincente. “Data centers fornecerão retornos fortes em tempos bons e ruins, quase como um título”, apontou.

A K2 Strategic investiu €150 milhões (US$ 153 milhões / R$ 896,55 milhões) para desenvolver um centro de 18 MW em Dublin, concluindo o projeto em 2018. “O conceito era tão novo que por muito tempo minha sogra achou que eu estava montando um call center”, lembra Meng Wei. Hoje, a K2 Strategic é uma das maiores operadoras de data centers em Dublin, com capacidade operacional de 60 MW distribuídos em quatro centros, que têm grandes empresas de tecnologia dos EUA como inquilinas.

Legado

A incursão em data centers não foi uma mudança incomum para o Kuok Group. O patriarca Robert Kuok preparou o terreno para a expansão do grupo para o setor de tecnologia mais de duas décadas atrás, quando investiu na Epsilon Telecommunications em 2003. Em uma versão inicial do modelo de data center, a Epsilon fornecia conectividade e instalações de colocation para abrigar servidores de computadores para clientes como bancos.

Embora a Epsilon tenha sido eventualmente vendida para a Korea Telecom por US$ 145 milhões (R$ 840,50 milhões) em 2021, o período de Meng Wei como diretor da empresa de 2016 até a venda ajudou-o a entender o negócio. A Epsilon também forneceu à K2 expertise em data centers no primeiro ano de suas operações.

O timing de Meng Wei provou ser acertado. A capacidade de data centers na região Ásia-Pacífico aumentou 80%, chegando a 18 gigawatts (GW) em 2024, comparado a 10 GW no auge da pandemia, em 2020. De acordo com a JLL, com sede em Chicago, a capacidade deverá atingir 35 GW (representando 35% do total global) até 2029.

“Os investimentos em data centers são influenciados por uma narrativa global convincente de demanda exponencial por poder de computação e armazenamento de dados, oferta restrita devido à escassez de energia e retornos financeiros atraentes,” afirma Glen Duncan, chefe de pesquisa de data centers para a região Ásia-Pacífico da JLL, em Cingapura, por e-mail.

Para acompanhar a demanda crescente, Meng Wei está aproveitando as capacidades de engenharia marítima do Kuok Group para construir data centers mais rapidamente. Em 2023, o grupo adquiriu a McPEC de Cingapura, construtora de estruturas modulares para instalações offshore de petróleo e gás, que desde então começou a criar estruturas modulares semelhantes às instaladas em Sedenak, que foi construída em menos de um ano.

Essa tecnologia acelera a construção de data centers, permitindo que eles sejam ativados mais rapidamente do que o prazo usual de dois anos, afirma Meng Wei. “O elemento de velocidade é muito importante,” confirma Fred Fitzalan Howard, diretor associado e responsável por data centers na Knight Frank em Cingapura. “Quanto mais rápido eles puderem entregar a capacidade de data center, melhor.”

Alto Consumo Energético

De acordo com a Agência Internacional de Energia, os data centers representam cerca de 1% do consumo global de eletricidade, o que, segundo a Goldman Sachs Research, pode subir para 3-4% até o final da década. Na Irlanda, os data centers consomem 20% da produção de eletricidade. À medida que a construção acelera, ela sobrecarrega as redes de energia locais, como está acontecendo na Malásia. Em julho passado, partes do Vale de Klang, nos arredores de Kuala Lumpur, sofreram uma queda de energia, sete meses após o ponto de imigração do país na fronteira com Cingapura ter enfrentado um apagão de 10 horas.

Meng Wei está bem ciente do alto consumo de energia da indústria. Segundo ele, o Kuok Group planeja converter cerca de 404 hectares de suas plantações na Malásia em fazendas solares e outros projetos de energia renovável. Em metade do espaço, a capacidade máxima será de 100MW de eletricidade vinda de luz solar. “A questão da sustentabilidade é muito forte para mim,” diz Meng Wei. “Eu gostaria de olhar para trás e contar para meus filhos o que fiz para tornar este mundo um lugar melhor.”

A Família Kuok

Kuok Meng Wei pertence à terceira geração de uma família empreendedora que deixou sua marca no Sudeste Asiático e na China. Seu avô, Robert Kuok, um gigante dos negócios que comemorou seu 101º aniversário em outubro, começou a negociar commodities após a Segunda Guerra Mundial e expandiu seus negócios para logística, hotéis, além de navegação e construção naval.

Em 1997, Robert apareceu na capa da Forbes, onde foi chamado de “o empresário mais astuto do mundo”. A fortuna que acumulou ao longo dos anos lhe rendeu o título de pessoa mais rica da Malásia, posição que ele ainda ocupa. Embora fosse frequentemente chamado de rei do açúcar da Ásia, ele também fundou a rede de hotéis de luxo Shangri-La. Hoje, o Kuok Group possui mais de 100 hotéis e resorts em quase 80 destinos, sob a empresa listada em Hong Kong.

Os filhos do patriarca assumiram a liderança em empresas-chave em Singapura e Hong Kong, onde Robert tem sido residente há muito tempo. Seu filho mais velho, Kuok Khoon Chen, também conhecido como Beau, é presidente do Kuok Group. Outro filho, Khoon Ean, pai de Meng Wei, é presidente do Kuok Singapore, que possui imóveis na cidade-estado e também serve como base para os negócios do grupo em navegação, infraestrutura digital e engenharia marítima. O filho mais novo de Robert, Kuok Khoon Hua, é presidente e CEO da Kerry Properties, listada em Hong Kong, que possui edifícios de escritórios de primeira linha em Hong Kong e na China continental. Já a filha Kuok Hui Kwong é presidente do Shangri-La Group.

Na terceira geração, o irmão mais velho de Meng Wei, Meng Xiong, conhecido como MX, administra a firma de private equity apoiada pela família, K3 Ventures, que investiu em mais de 50 startups, incluindo a ByteDance, dona do TikTok, e a empresa de transporte por aplicativo e entrega de alimentos Grab.

Meng Wei diz que a idade não diminuiu a paixão de seu avô pelos negócios. “Ele ainda mantém sua energia em alta e está por dentro dos desenvolvimentos.” Após ler reportagens na mídia sobre empresas globais planejando data centers na Malásia, Robert enviou uma mensagem para o neto: “o que está acontecendo? Dê-me uma atualização.”

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