Sem Rumo: a Inevitável Sangria da Cooperativa Sancor na Argentina

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A Argentina Sancor, uma das cooperativas de laticínios mais tradicionais do país, A Sancor se dedicou totalmente a tentar solucionar os graves problemas econômicos e financeiros que enfrenta e, no início de fevereiro passado, anunciou a abertura de um processo de recuperação judicial, um mecanismo jurídico que pode ser a última tentativa para evitar a extinção da empresa.

No meio desse processo, que normalmente dura entre seis e 12 meses – embora, em alguns casos, possa se estender até 18 meses –, a situação só se torna ainda mais difícil.

A equação é simples. Durante o período desse processo, a empresa deve chegar a um acordo com seus credores e determinar como cobrir o déficit. Ou seja, o que a Sancor precisa hoje é dinheiro, algo que não apenas não tem, mas que se torna cada vez mais difícil de conseguir.

De fato, alguns dos credores que aguardam o pagamento de suas dívidas já começaram a tomar medidas que vão contra essa possibilidade de a empresa gerar caixa.

Por exemplo, o fundo de investimentos IIG Structured Trade Finance Fund Ltd obteve autorização judicial para executar a garantia de seu crédito e realizaria nesta sexta-feira (28)  um leilão de 436.922 quilos de queijo – 268.672 quilos de queijo de massa dura e 168.250 quilos de queijo semiduro – armazenados nas fábricas da Sancor em Gálvez, na província de Santa Fé, e em La Carlota, em Córdoba.

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Em seu auge, a Sancor captava 4 milhões de litros de leite por dia

A Sancor se opôs a essa decisão porque vai totalmente contra seu objetivo de arrecadar fundos e chegar a um acordo com os credores. O preço inicial do leilão está estimado em cerca de US$ 3 milhões (R$ 17,5 milhões na cotação atual).

Além disso, a cooperativa teme que isso se torne um precedente que, caso tenha êxito, encoraje outros credores a tentar um processo semelhante.

“Para os credores, isso representa dinheiro rápido. Não é necessário esperar por um acordo com a empresa nem negociar condições. A mercadoria é vendida e o dinheiro é recebido, ponto final”, explicou à Forbes uma fonte que acompanha de perto as negociações.

A operação é ideal para aqueles que querem receber seus pagamentos, mas é péssima para a Sancor, pois ela se desfaz de ativos importantes que poderia usar como base para negociar com seus credores. O problema se agrava ainda mais quando se considera que a dívida total da Sancor chega a US$ 400 milhões (R$ 2,3 bilhões). Ou seja, se esse processo de liquidação de ativos continuar, a situação se tornará ainda pior.

Outro ponto de conflito

Além disso, a Sancor enfrenta um problema que ilustra claramente sua difícil realidade. Trata-se de uma cooperativa, o que significa que deveria ter leite suficiente para produção, mas, atualmente, seus próprios associados preferem vender para outros clientes – inclusive no exterior – por causa da dificuldade da empresa em realizar os pagamentos.

Hoje, o preço médio do leite pago ao produtor é de aproximadamente 440 pesos por litro (R$ 2,42), e a grande questão é quanto tempo levará para que a empresa fique sem fornecedores, algo que pode não estar muito distante de acontecer.

Somada à preocupação com um possível efeito dominó de leilões de mercadorias, essa situação gera um impacto extremamente negativo para a cooperativa: sem matéria-prima suficiente, o nível de produção cai drasticamente, enquanto os produtos armazenados são vendidos a preço de liquidação, sem que a Sancor receba um único centavo.

O nível de produção está tão baixo que hoje a Sancor processa apenas 70.000 litros de leite por dia – não apenas a pior marca da sua história, mas também um volume insignificante em comparação com os quatro milhões de litros diários que processava no seu auge.

Embora o processo de recuperação judicial tenha sido aberto recentemente, há poucos indícios que permitam vislumbrar um desfecho positivo para a Sancor. Uma possibilidade – ainda que não esteja sendo considerada no momento – seria a venda da empresa. No entanto, o alto nível de endividamento torna essa opção inviável atualmente.

Além disso, especialistas do setor afirmam que o grande número de funcionários da Sancor – cerca de 1.300 trabalhadores – é outro fator que desestimula possíveis interessados na compra.

De fato, há poucas semanas, a cooperativa anunciou uma série de demissões e enviou mais de 300 telegramas de desligamento.

Mesmo levando em conta que, apesar da complexidade da situação, ainda há um caminho a percorrer para ver se a recuperação judicial trará algum resultado positivo, para muitos, uma eventual falência da empresa não seria surpreendente. Nesse caso, os ativos seriam vendidos separadamente.

A Sancor chegou a esse ponto após anos de erros financeiros. Ao anunciar a abertura da recuperação judicial, a própria empresa mencionou as dificuldades enfrentadas ao longo do tempo.

“Com o passar dos anos, a Sancor avaliou diferentes alternativas e manteve negociações com um grupo empresarial interessado em desenvolver um fundo fiduciário para impulsionar sua recuperação. No entanto, após dois anos, essa iniciativa não prosperou, marcando um ponto crítico no caminho da cooperativa. Entre o final de 2023 e agosto de 2024, por razões de conhecimento público, a Sancor viu sua operação ser substancialmente reduzida, o que afetou sua recuperação”, declarou a empresa.

Antes de chegar a essa difícil situação, em 2017, a companhia havia feito uma última tentativa de reverter a crise, após anos de dificuldades. A cooperativa implementou um processo de reestruturação em etapas, que incluiu uma negociação extrajudicial, além da venda e fechamento de várias unidades produtivas, comerciais e administrativas. Inicialmente, a estratégia trouxe alguns resultados, mas, depois, a situação voltou a sair do controle.

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