Rivais Chineses da Starlink Aceleram Corrida Pelo Domínio da Internet Via Satélite

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A rede de comunicações Starlink, do bilionário Elon Musk, enfrenta desafios cada vez mais intensos à sua dominância na internet via satélite de alta velocidade, incluindo a concorrência de um rival chinês apoiado pelo governo e de outro serviço financiado pelo fundador da Amazon.com, Jeff Bezos.

Em novembro, a SpaceSail, sediada em Xangai, assinou um acordo para entrar no Brasil e anunciou que estava em negociações com mais de 30 países. Dois meses depois, começou suas operações no Cazaquistão, segundo a embaixada cazaque em Pequim.

Paralelamente, Brasília está em negociações com o serviço de internet Project Kuiper, de Bezos, e com a canadense Telesat, de acordo com um funcionário brasileiro envolvido nas tratativas, que falou sob condição de anonimato para discutir livremente as conversas em andamento. A divulgação dessas negociações é inédita.

Desde 2020, a Starlink lançou mais satélites em órbita baixa da Terra (LEO, sigla em inglês) – a menos de 2.000 km de altitude – do que todos os seus concorrentes juntos. Satélites operando a essa baixa altitude transmitem dados com extrema eficiência, fornecendo internet de alta velocidade para comunidades remotas, embarcações marítimas e forças militares em conflito.

A primazia de Musk no espaço é vista como uma ameaça por Pequim, que está investindo fortemente em concorrentes e financiando pesquisas militares para desenvolver ferramentas de rastreamento de constelações de satélites, segundo documentos corporativos chineses e artigos acadêmicos cujos detalhes não haviam sido relatados anteriormente.

A China lançou um recorde de 263 satélites LEO no ano passado, de acordo com dados do astrofísico Jonathan McDowell analisados pela consultoria tecnológica Analysys Mason.

A concorrência à Starlink foi bem recebida pelo governo brasileiro, que busca internet de alta velocidade para comunidades em regiões remotas, mas que anteriormente se desentendeu com Musk em questões comerciais e políticas.

A SpaceSail não quis comentar quando questionada pela Reuters sobre seus planos de expansão. No ano passado, um jornal controlado pelo regulador chinês de telecomunicações elogiou a empresa como sendo “capaz de transcender fronteiras nacionais, penetrar na soberania e cobrir incondicionalmente todo o mundo… uma capacidade estratégica que nosso país deve dominar”.

Kuiper, Telesat, Starlink e o Ministério das Comunicações do Brasil não responderam aos pedidos de comentário.

Poucos concorrentes internacionais de Musk demonstram a mesma ambição da SpaceSail, que é controlada pelo governo municipal de Xangai. A empresa anunciou planos para lançar 648 satélites LEO neste ano e até 15.000 até 2030. Atualmente, a Starlink conta com cerca de 7.000 satélites, segundo McDowell, e tem como meta operar 42.000 até o final da década.

Os lançamentos da SpaceSail farão parte da constelação Qianfan, ou “Mil Velas”, que marca a primeira incursão internacional da China na banda larga via satélite. Outras três constelações chinesas também estão em desenvolvimento, com Pequim planejando lançar 43.000 satélites LEO nas próximas décadas e investindo em foguetes capazes de transportar múltiplos satélites.

“O objetivo final é ocupar o maior número possível de posições orbitais”, afirmou Chaitanya Giri, especialista em tecnologia espacial da Observer Research Foundation, da Índia.

A corrida da China para ocupar mais espaço na órbita baixa da Terra gerou preocupações entre formuladores de políticas no Ocidente, que temem que isso possa ampliar o alcance do regime de censura da internet de Pequim. Pesquisadores do think tank American Foreign Policy Council alertaram, em um relatório de fevereiro, que Washington deveria aumentar a cooperação com países do Sul Global se quiser “enfrentar seriamente a crescente incursão da China no domínio digital”.

Os pesquisadores também descreveram o Qianfan como uma peça-chave da componente espacial da Iniciativa do Cinturão e Rota da China. O plano global de infraestrutura, avaliado em US$ 1 trilhão, é uma política emblemática do líder chinês Xi Jinping, mas críticos o acusam de ser, sobretudo, um instrumento de expansão da influência geopolítica de Pequim.

O Ministério do Comércio e o regulador de telecomunicações da China não responderam aos pedidos de comentário. Já o Ministério das Relações Exteriores chinês afirmou, em resposta às perguntas da Reuters, que, embora não estivesse ciente dos detalhes sobre a SpaceSail e a expansão dos satélites LEO chineses no exterior, Pequim busca cooperação espacial com outros países para o benefício de suas populações.

A SpaceSail declarou que seu objetivo é fornecer internet confiável para mais usuários, especialmente aqueles em áreas remotas e durante operações de recuperação após emergências e desastres naturais.

O “Velho Oeste” Espacial

A rápida expansão da Starlink e seu uso na guerra na Ucrânia chamaram a atenção de pesquisadores militares, como os da Universidade Nacional de Tecnologia da Defesa da China, levando a um aumento significativo de investimentos estatais em redes de satélites concorrentes.

A Hongqing Technology, fundada em 2017 e responsável pelo desenvolvimento de uma constelação de 10.000 satélites, arrecadou este mês 340 milhões de yuans, principalmente de investidores estatais.

No ano passado, a SpaceSail garantiu um financiamento de 6,7 bilhões de yuans (US$ 930 milhões) em uma rodada liderada por um fundo de investimentos estatal voltado para o fortalecimento da capacidade industrial da China.

Pesquisadores chineses, incluindo muitos ligados ao Exército de Libertação Popular, também voltaram sua atenção para esse setor. Em 2023, a China publicou um recorde de 2.449 patentes relacionadas a tecnologia de satélites LEO, um salto em relação às 162 registradas em 2019, segundo o banco de dados AcclaimIP, da Anaqua.

Muitas dessas patentes focam na criação de redes de satélites mais econômicas e sistemas de comunicação de baixa latência, conforme análise da Reuters, ressaltando os esforços da China para reduzir sua defasagem tecnológica.

“O mundo espacial está evoluindo rapidamente e passando por muitas experiências”, disse Antoine Grenier, chefe global de espaço da consultoria Analysys Mason. “Os pioneiros estão aproveitando essa liberdade relativa e moldando-a a seu favor para garantir posições estratégicas antes que as regras se tornem mais rígidas – como no Velho Oeste.”

Algumas das pesquisas chinesas parecem estar focadas diretamente na Starlink. Um pedido de patente vinculado ao Exército de Libertação Popular descreve o sistema norte-americano como essencial para reconhecimento e comunicações militares, ao mesmo tempo em que representa “ameaças à segurança de redes, dados e operações militares”.

Além disso, Pequim está desenvolvendo ferramentas para rastrear e monitorar a constelação da Starlink. Pesquisadores de dois institutos ligados ao exército chinês afirmaram, em um estudo publicado em janeiro em uma revista de engenharia chinesa, que projetaram um sistema e um algoritmo para rastrear megaconstelações como a da Starlink, inspirando-se no método usado pelas baleias jubarte para capturar presas ao cercá-las com bolhas em espiral.

“Com a crescente tendência de militarização do espaço, o desenvolvimento de ferramentas para monitorar e rastrear essas megaconstelações é de importância crítica”, escreveram os pesquisadores.

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