Política Torna Ajuste Econômico Mais Difícil, diz Solange Srour, do UBS

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Divulgada em setembro de 2024 e tendo entrado em vigor no início de 2025, a Instrução Normativa (IN) da Receita Federal nº 2219/2024 seria apenas uma alteração burocrática na maneira de as instituições financeiras reportarem dados de seus clientes ao Fisco. Seria. Uma ruidosa campanha de desinformação de parlamentares da oposição transformou o assunto em uma questão polêmica e obrigou o governo a cancelar a medida no início da semana passada.

Noticiário à parte, a turbulência que o assunto provocou e a guinada do governo são sinais preocupantes para a economia, avalia Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil no UBS Global Wealth Management. “O que ocorreu mostra que não há um ambiente político para tomar decisões duras, como implantar uma regra fiscal crível e que traga a confiança do mercado”, diz ela em entrevista exclusiva à Forbes Brasil.

Isso é particularmente sério devido ao governo ter iniciado a segunda metade do mandato, quando tende a ser mais difícil elevar impostos e cortar despesas. Essas são decisões impopulares que requerem um governo forte, com coesão e ambiente político favorável, algo que não existe. “Ainda que o episódio do PIX não tivesse ocorrido, há várias questões mal resolvidas, como o caso das emendas parlamentares”, diz Srour. “Ela mostra o desentendimento que existe entre os Poderes.”

Segundo a economista, essa desarmonia torna ainda mais difícil implantar e executar as políticas de austeridade demandadas pelo mercado financeiro. “Se não há concordância sequer para implantar uma medida técnica que é correta e defensável, pois melhora a fiscalização e limita a sonegação, como esperar um aumento de impostos para compensar a elevação dos gastos?”, questiona.

Cenário internacional

O cenário internacional segue adverso. Segundo Srour, os profissionais do mercado estão receosos dos dados da economia americana que serão divulgados ao longo do primeiro trimestre deste ano. As projeções são de inflação em alta e de um mercado de trabalho ainda aquecido, o que tende a pressionar o Federal Reserve (FED), o banco central americano, a suspender o corte de juros que vinha sendo esperado para este ano. “A pandemia trouxe uma alteração na sazonalidade”, diz ela. “Normalmente o trimestre mais aquecido era o último de cada ano, mas boa parte dessa atividade migrou para o primeiro trimestre do ano seguinte.” Ou seja, o trimestre em que estamos.

Isso já aparece nos preços de mercado. O FED fez uma redução drástica de meio ponto percentual nos juros em setembro, reduzindo os juros referenciais para o intervalo entre 4,75% e 5,00% ao ano. E realizou mais duas reduções de 0,25 ponto percentual em outubro e em dezembro. Assim, os juros americanos encerraram 2024 no intervalo entre 4,25% e 4,50% ao ano. A expectativa inicial era de novos cortes neste ano, com as taxas recuando até o intervalo entre 3,75% e 4,00%, mas agora não há tanta certeza. “Desde o corte [de 0,5 ponto percentual] em setembro, os juros dos títulos públicos americanos de dez anos no mercado secundário subiram quase um ponto percentual”, diz Srour.

Isso indica uma percepção do mercado de que será difícil ver a continuidade da queda dos juros ao longo deste ano. E juros mais altos nos EUA significam um dólar apreciado em relação ao real, o que pressiona ainda mais a inflação e eleva os custos de rolagem da dívida pública, agravando o cenário.

Expectativas desancoradas

As consequências da dificuldade de adotar medidas que propiciem o equilíbrio fiscal são uma piora da taxa de câmbio e dos juros. “Não está visível sequer algo essencial, como a ancoragem das expectativas de inflação”, diz a economista. E isso ocorre apesar de a economia estar bem, com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo e o desemprego em níveis historicamente baixos. No entanto, é preciso que o governo dê um “choque de credibilidade”, tomando medidas concretas para estabilizar a dívida pública, que está em uma trajetória crescente.

Nesse ambiente, o que fazer com seu dinheiro? A recomendação de Srour é adotar uma estratégia cautelosa para o dinheiro e que privilegie aplicações líquidas e de curto prazo. “O mundo é incerto, não só o Brasil”, diz ela. “Por isso uma boa ideia é diversificar. Volatilidade vai ser grande, mas a diversificação dos ativos sempre ajuda o investidor a atravessar esses momentos.”

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