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Era 2011, quando Hernan Kazah e Nicolas Szekasy resolveram respirar novos ares. Aventurar-se no setor de venture capital foi um ousado passo, já que ambos – ao lado de Nicolas Berman – fundaram o Mercado Livre e ocupavam cargos importantes no e-commerce e por lá permaneceram 12 anos.
Szekasy foi COO e CFO na companhia, liderando a oferta pública inicial da empresa (IPO) na bolsa, em 2007. Ali, o cofundador da Kaszek entendeu que estava pronto para um novo desafio.
“Ficava cada vez mais claro que havia grandes oportunidades e empreendedores incríveis na América Latina”, relembra. Mas ele também notou que o mercado tinha uma carência não só em termos financeiros, mas de know-how. “Não havia investidores que entendessem – por já terem passado pelo mesmo processo – o que os fundadores precisavam”, explica.
Szekasy ficou no Mercado Livre por mais dois anos, enquanto isso, pessoas o contatavam falando sobre suas startups. “Eles perguntavam: ‘não tenho ideia de onde ir. Você investe pessoalmente? O Mercado Livre investe?’”
O sentimento de que era o momento certo para um novo rumo tomou conta e o cofundador da Kaszek saiu do e-commerce para se tornar investidor, mesmo não tendo “clareza sobre como fazer isso”. Só que não demorou muito para ele ter companhia, já que Kazah tomou a mesma decisão. Juntos acordaram que criariam uma empresa de venture capital, a Kaszek Ventures.
Em 14 anos de existência, a companhia apostou em 286 empreendedores, 124 empreendimentos e nove fundos. Ao longo desse período, levantou mais de US$ 3 bilhões (R$ 16,59 bilhões) em diferentes fundos e se tornou a maior investidora em startups da América Latina. Desde 2021, a empresa é a única da da região a estar na Midas List, que cita os maiores investidores de venture capital do mundo todos os anos.
Protagonismo das fintechs
Para definir onde investir, a Kaszek busca ficar antenada às tendências. “Seguimos o que os empreendedores decidem”, destaca o cofundador da venture capital. Ele explica que rotineiramente também são feitos mapeamentos para identificar negócios potenciais.
No portfólio da empresa, as fintechs são destaque. Szekasy afirma que isso não é por acaso. “Os empreendedores perceberam que a América Latina estava muito atrasada no acesso a serviços financeiros”, explica. Desde o início de sua jornada, a empresa abraçou o segmento, que logo de cara apostou na Creditas e no Nubank. “Investimos muito cedo, quando o banco era ainda um PowerPoint”, brinca. “Era o David Vélez sozinho. Uma pessoa e uma apresentação”.
Ele lembra que nos primeiros anos da década de 2010, as pessoas estavam direcionando suas estratégias para o segmento business to consumer (B2C), mas logo esse mercado resolveu expandir e atender empresas. Nessa nova guinada, a Kaszek investiu em empresas como a Cora e a Xepelin. Agora, Szekasy acredita que o boom do setor está no banking as a service e nas processadoras de pagamentos.
Mas a venture capital não se atém às fintechs. “Ás vezes aparecem oportunidades fora do nosso radar e, mesmo sem sermos especialistas no setor, conhecemos equipes extraordinárias, o que nos leva a apoiá-las”, afirma o executivo. Ele cita como exemplos a climate tech Mombak, a healtech Alice e a Musa, que oferece serviços de coleta e gestão de resíduos.
Szekasy atrela o crescimento do seu venture capital na América Latina e, sobretudo, no Brasil, comparando o nível de bancarização e tecnologia existentes nos Estados Unidos há muitos anos. “Lá, há 15 anos, mesmo em uma pequena cidade, você teria acesso a uma conta de banco, hipoteca e afins, algo que não era oferecido por aqui”, diz.
“Isso explica por qual razão o Nubank, por exemplo, cresceu tanto ao longo dos últimos dez anos, chegando a 100 milhões de usuários. O tamanho da oportunidade era muito maior”, afirma o executivo. Ele também acredita que algo semelhante aconteceu com o Mercado Livre.
A hora e a vez da inteligência artificial
O investidor entende que a inteligência artificial (IA) é um divisor de águas que mudará praticamente tudo o que conhecemos. Por isso, a Kaszek tem direcionado seus investimentos em startups do setor. “O que vivemos hoje é muito parecido com o que víamos em 1999, quando estávamos começando o Mercado Livre e era o início da era da internet”, explica. Ele acredita que a IA é uma mudança de paradigma, que abre portas para as novas empresas, enquanto auxilia as já existentes, proporcionando infraestrutura.
“Essa tecnologia afetará tudo, da operação de uma fábrica ao trabalho de um contador. Isso significa que há muitas oportunidades para três jovens em uma garagem começarem uma empresa e criarem valor usando IA”, destaca.
Brasil, o carro-chefe das startups
“A grande vantagem de investir em startups na América Latina é que elas não só oferecem serviços para quem já tinha acesso, mas também melhoram a sua qualidade, além de trazer para o jogo muitas pessoas que antes não tinham nenhum acesso”, destaca. “Aliás, não só pessoas, mas empresas também”.
Segundo o cofundador da Kaszek, entre os negócios abraçados pela empresa, ao menos metade são brasileiros, enquanto outros 25% estão no México e os demais 25% são divididos entre Argentina, Colômbia, Chile e Uruguai. Além disso, o Brasil também é responsável por quase metade da receita da companhia. Não por acaso, para Szekasy, os maiores investimentos são todos do país: Nubank, Wellhub, Creditas e Quinto Andar.
“O Brasil se tornou o ecossistema mais robusto e desenvolvido em tecnologia e empreendedorismo da América Latina. São Paulo é a capital tecnológica da região”, afirma.
Volatilidade é “apenas ruído”
Ao ser reconhecido como o melhor venture capital da região, a companhia reforça a sua aposta na América Latina e o seu know-how para investir em países emergentes.
O executivo acrescenta que o olhar de sua empresa é a longo prazo e que a América Latina tem muito potencial. “Quem não conhece bem a região costuma reclamar da volatilidade e dos desafios macroeconômicos, mas nós enxergamos de cima e consideramos que é apenas ruído”, diz.
Szekasy reconhece os desafios, mas acredita que as tendências superam esse aspecto, porque nada disso afeta o surgimento e a consolidação de novas empresas. “O Nubank nasceu durante a pior recessão da história do Brasil, enquanto o Mercado Livre atravessou todo tipo de dificuldade ao longo de 25 anos e, hoje, vale cerca de US$ 150 bilhões (R$ 862,5 bilhões). Trata-se da empresa mais valiosa da América Latina”, argumenta o cofundador.
Outro ponto que Szekasy considera como algo favorável é o tempo de experiência que ele e seu sócio acumularam em 25 anos de carreira. “Isso dá à Kaszek uma grande vantagem competitiva sobre fundos que observam a América Latina de fora”, diz.
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