Como as Tarifas Podem Impactar o Agronegócio dos EUA e Suas Implicações Aos Investidores

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Após os recentes aumentos tarifários, especialmente sobre as importações da China e do México, os holofotes voltaram a colocar luz nas políticas comerciais globais que moldam a agropecuária dos Estados Unidos. Embora o impacto de longo prazo ainda seja incerto, os primeiros sinais sugerem que essas mudanças políticas podem afetar os insumos de produção e a competitividade das exportações do país.

Para os investidores, especialmente aqueles que acompanham commodities ou ativos reais, entender como as tarifas se cruzam com a agricultura é essencial para tomar decisões informadas sobre seus portfólios.

Um Resumo Rápido: Quais São as Tarifas de 2025?

No segundo trimestre de 2025, o discurso político foi dominado pelos planos tarifários introduzidos pela administração Donald Trump, incluindo uma tarifa generalizada de 10% sobre todas as importações e tarifas de até 145% sobre determinados produtos chineses.

A administração também implementou tarifas de 25% sobre certos produtos agrícolas mexicanos e canadenses, em resposta a disputas contínuas sobre imigração e desequilíbrios comerciais.

Essas medidas, instituídas no início de 2025, já começaram a moldar o sentimento nos mercados globais, gerando especulações sobre como os produtores e exportadores americanos podem reagir.

Exposição às Exportações: Por Que as Tarifas Importam para a Agricultura dos EUA

A economia agrícola dos EUA é profundamente integrada aos mercados globais. Segundo o Departamento de Agricultura do país (USDA), mais de 20% de todos os produtos agrícolas americanos são exportados anualmente, tendo China, México e Canadá entre os principais destinos.

A imposição de tarifas sobre importações chinesas e mexicanas levou a medidas retaliatórias direcionadas às exportações agropecuária dos EUA. Já vimos isso antes. Em 2018, uma rodada semelhante de tarifas desencadeou uma guerra comercial com a China, reduzindo as exportações de soja dos EUA em 75% ano após ano no auge das tensões.

Em 2025, as tensões comerciais contribuíram para interrupções de curto prazo nas exportações do setor nos EUA. Segundo o relatório de abril deste ano do USDA, as vendas de soja caíram 50% em relação à primeira semana do mês e estão agora 25% abaixo da média de quatro semanas atrás, com analistas apontando o aumento das tarifas entre EUA e China como principal causa. As exportações de carne suína para a China também se retraíram. Esses efeitos têm sido mais pronunciados nas culturas anuais e na pecuária, setores fortemente ligados aos fluxos comerciais EUA-China.

Por outro lado, as culturas permanentes demonstraram maior estabilidade, como as nozes, maçãs e frutas cítricas. Essas culturas atendem a mercados diversificados, e seus ciclos de produção mais longos limitam ajustes rápidos na oferta, ajudando a reduzir a volatilidade dos preços. Como resultado, os mercados de culturas permanentes foram menos afetados pelas tarifas atuais, embora os custos com insumos e a disponibilidade de água continuem sendo variáveis relevantes.

Para muitos investidores, essas dinâmicas ressaltam a importância de entender as culturas e regiões específicas às quais estão expostos, uma vez que nem todas as partes do setor agrícola respondem igualmente às mudanças políticas globais. Embora ainda seja cedo para medir o impacto total das tarifas de 2025, os primeiros sinais indicam que alguns setores estão mais expostos à volatilidade de curto prazo do que outros.

Custos com Insumos: Tarifas Afetam Mais do que Exportações

As tarifas funcionam em mão dupla. Embora grande parte da atenção da mídia se concentre no que os EUA vendem para o exterior, é igualmente crítico considerar o que o país compra. Os agricultores americanos dependem de insumos importados, especialmente fertilizantes, pesticidas e componentes de maquinário.

Por exemplo, mais de 80% do potássio usado nos EUA é importado, principalmente do Canadá. Embora o potássio canadense compatível com o Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA) continue isento de tarifas de importação, a atual administração Trump impôs uma tarifa de 10% sobre as importações canadenses que não cumprem o acordo. Essa tarifa deve elevar os custos de produção de milho e soja entre US$ 12 e US$ 30 por acre, segundo o Departamento de Economia Agrícola e do Consumidor da Universidade de Illinois.

O maquinário é outro ponto de atenção. Muitos tratores, colheitadeiras e sistemas de irrigação utilizam componentes de precisão fabricados no exterior. Caso esses itens permaneçam sujeitos a tarifas generalizadas, os custos dos equipamentos podem aumentar, potencialmente desacelerando a adoção de novas tecnologias.

Dito isso, os produtores rurais historicamente se adaptaram a pressões sobre insumos por meio de fontes alternativas, ciclos de ativos mais longos ou ajustes nas culturas, demonstrando flexibilidade operacional e resiliência ao longo do tempo.

Impactos Regionais: Nem Todas as Fazendas São Afetadas da Mesma Forma

A geografia importa. Na Califórnia, onde predominam culturas especiais de alto valor como amêndoas, uvas viníferas e frutas cítricas, os produtores estão mais atentos às tarifas retaliatórias da Ásia e da Europa, destinos-chave para exportações premium dos EUA. A Califórnia exportou mais de US$ 20 bilhões em 2024, destacando a escala e o alcance agrícola do estado.

Embora expostas a flutuações comerciais, muitas dessas culturas se beneficiam de mercados finais diversificados e demanda relativamente inelástica, contribuindo para um ambiente de preços mais estável ao longo do tempo.

No Meio-Oeste dos EUA, onde se concentram culturas anuais como milho e soja, a discussão gira em torno de escala e exposição. Grandes produtores de commodities continuam fortemente dependentes de compradores internacionais e de insumos importados como fertilizantes e maquinário. Em resposta, alguns estão explorando mudanças na área plantada em direção a culturas com maior demanda doméstica, como trigo ou sorgo.

Em estados do sul, como Geórgia e Flórida, a incerteza tarifária tem se somado aos riscos climáticos persistentes, criando um duplo desafio para os produtores que enfrentam tanto a volatilidade econômica quanto a ambiental.

Investimento em Terras Agrícolas: Uma Visão de Longo Prazo

Em meio às recentes disrupções de curto prazo, é importante adotar uma perspectiva de longo prazo sobre as terras agrícolas. Historicamente, essas terras têm demonstrado notável resiliência durante períodos de volatilidade econômica e política.

O NCREIF Farmland Index, principal referência de desempenho para investimentos em terras agrícolas nos EUA, apresentou retornos anuais positivos em 33 dos últimos 35 anos, incluindo durante períodos críticos como a crise financeira de 2008 e a guerra comercial EUA-China de 2018-2019.

Embora 2024 tenha registrado uma leve retração, com retorno total negativo de 1,03% por causa da desaceleração da valorização fundiária e aos maiores custos com insumos, essa retração permanece como uma exceção em um histórico de estabilidade e renda de décadas. É importante destacar que o valor fundamental da terra agrícola permanece ancorado em fundamentos biológicos: as culturas continuam a crescer, e a produtividade da terra persiste independentemente dos ciclos mais amplos do mercado.

Para os investidores, as terras agrícolas continuam sendo uma classe de ativos historicamente resiliente, oferecendo oportunidades de diversificação, proteção contra a inflação e estabilidade de valor de longo prazo, mesmo diante do ruído de mercado gerado por políticas de curto prazo.

Uma Perspectiva Cautelosa para os Investidores em Agricultura

O cenário tarifário de 2025 representa um desenvolvimento significativo, mas não inédito, para a agricultura dos EUA. Embora a incerteza traga riscos ligados ao comércio, aos custos de insumos e à volatilidade de mercado, esses impactos reforçam o papel da agricultura e pecuária na segurança alimentar global e na estabilidade econômica.

Para os investidores, este é um momento de vigilância. A diversificação e uma abordagem de longo prazo baseada em fundamentos continuam sendo essenciais. Aqueles que mantiverem disciplina poderão descobrir que a agricultura, especialmente as terras agrícolas, atua como uma força resiliente nos portfólios, capaz de resistir a mudanças políticas e gerar valor sustentável a longo prazo.

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