Desaparecidos: conheça história de homem surdo e mudo que foi encontrado depois de um ano

Foram 12 meses de angústia e busca por respostas até que a família Ferreira conseguisse reencontrar Carlos Roberto da Silva, de 54 anos. O morador de Vinhedo, conhecido como “mudinho” na cidade, por ser surdo e não ter a fala desenvolvida, desapareceu em um dia comum, quando saiu de casa e não voltou mais.  

O sumiço do homem surdo e mudo  

Carlos mora na Vila Junqueira, mas foi criado no bairro Capela, para onde ia constantemente. No último dia em que foi visto, ele tinha ido para uma chácara, para encontrar o dono, que era um conhecido dele. Depois, ele foi para um bar, onde ficou até sumir, deixando para trás uma bolsa com tomates que havia ganhado. Quando a sobrinha, Renata Ferreira, foi buscá-lo, mas não encontrou o tio.   

“Aí eu falei, tem alguma coisa estranha, porque se ele tivesse saído para não voltar, ele teria levado a bolsa, mas ele deixou a bolsa com as ferramentas. Passamos quarta, quinta, sexta, sábado, procurando. Na segunda-feira eu fui abrir o boletim de ocorrência”, conta a sobrinha.

Ela e a mãe, Maria Aparecida Ferreira, passaram alguns dias acreditando que Carlos iria reaparecer, por isso registraram boletim de ocorrência cerca de cinco dias depois. Elas entraram em contato com uma investigadora para auxiliar nas buscas e também compartilharam anúncios do desaparecimento do homem, o que contou com muito apoio dos outros moradores de Vinhedo, segundo Renata.   

Quanto mais o tempo sem notícias passava, a angústia também aumentava. A irmã do “mudinho” conta que ouvia muitas pessoas falando mentiras sobre o sumiço do irmão. “Eles iam na minha porta e falavam para mim: ‘Ai, o Carlinhos, falaram em tal lugar que o Carlinhos não volta nunca mais’. Aí passava dois dias, vinha outro e falava assim ‘Ah, o Carlinhos foi pego num carro preto no Capela’(…) Eu sei que eu sofri, sabe? Todo mundo vindo contar mentira para mim.”  

As buscas levaram a família para outras cidades, como Cajamar, São Paulo, Ilha Comprida e Caraguatatuba. Nessa última, foram incentivados após ouvirem que tinham levado o homem surdo e mudo para trabalhar na praia, mas não encontraram Carlos no local.  

Conforme a incerteza aumentava, Maria Aparecida chegou a ficar sem conseguir se alimentar, e até mesmo a acreditar que o irmão estava morto.   

“Eu pensei que ele estava morto, não tinha mais esperança. A Renata tinha esperança. Eu mesmo sendo uma mulher de fé, eu não acreditava mais que ele estava vivo, sabe? (…) Eu falei para a Renata, se algum dia alguém chegar falando que mataram meu irmão, enterraram ele, se achar o corpo do meu irmão, você não conta para mim não. Deixa eu pensar que ele está andando para o mundo”, relata a irmã de Carlos.  

O reencontro  

desacreditadas de um possível reencontro, passados 12 meses do sumiço, Renata recebeu uma mensagem no WhatsApp, de um homem que falava que precisava falar sobre o Carlinhos. Em ligação telefônica, ele contou que havia visto o homem surdo e mudo na Avenida Paulista, em São Paulo.   

“Ela deu um grito: ‘Mãe, encontramos o Carlos!’, e eu pensei que eu ia ter um infarto. Meu coração começou a tocar. Aí eu corri, tomei uma água gelada lá e eu comecei a chorar, chorar. Já liguei para a investigadora”, relembra Maria Aparecida.   

Renata então falou com a namorada do sobrinho, que mora na capital, e a mãe dela se propôs a ir até o local onde Carlos estaria. “Ela disse que na hora que ela parou, que ela atravessou, ele estava parado olhando para ela, tipo assim, ‘Eu tô aqui, é só me levar’, no semblante dele. Ele ficou parado. Aí ela mostrou uma foto minha para ele, e ele começou a gritar de alegria, porque ele reconheceu”, conta a sobrinha do “mudinho”.  

Com o reencontro, a família do homem surdo e mudo descobriu que ele havia sido levado para a capial por um caminhoneiro. Segundo Carlos, o motorista acenou para ele, acreditando que seria uma pessoa em situação de rua, e, por não conseguir se comunicar, ele entrou no veículo e foi levado para a capital, onde o homem o deixou na Avenida Paulista e deu uma quantia em dinheiro.   

“Eu acho que foi maldade, porque o pessoal tirou daqui e levar para lá, foi muita maldade, porque assim, será que esse caminhoneiro não viu nenhuma reportagem?”, afirma Renata.   

Carlos viveu por um tempo na rua, e relatou que chegou a apanhar nessa condição, até que foi acolhido por um grupo de pessoas. Então, ele passou a dormir na casa dessas pessoas, além de tomar banho e ganhar comida. “A gente fez tudo o que a gente pôde, cuidou dele com muito carinho, com muito amor”, conta o entregador Paulo Henrique Araújo Silva, que foi uma das pessoas que acolheu o morador de Vinhedo.  

“O que eles fizeram foi muita coisa de Deus. Olhar para uma pessoa de rua e procurar entender e ajudar”, disse Renata, que hoje mantém um grupo de WhatsApp com as pessoas que acolheram o tio, em que conversam diariamente e nutrem uma relação de amizade.  

“Senhor, muito obrigado, viu? Muito obrigado por essa bênção, essa vitória. É tudo no meu tempo, não, é no seu. E não foi no meu, foi no dele”, finaliza Maria Aparecida. 

Plataforma

A EPTV e o acidade on lançaram nesta segunda-feira (9) uma plataforma para divulgar informações sobre desaparecidos na área de cobertura do Grupo EP. Essa é a única página na internet com esse tipo de serviço aqui no estado de São Paulo.

Famílias ou conhecidos que tem casos de entes próximos que desapareceram podem usar a plataforma para reportar esse tipo de situação. A iniciativa está disponível para as praças de Araraquara, Campinas, Piracicaba, Ribeirão Preto e São Carlos.

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Além de informações sobre pessoas desaparecidas, também é possível conferir na página reportagens de serviços como, por exemplo, o programa que integra câmeras de monitoramento das prefeituras ao banco de dados do estado para ajudar a encontrar quem está desaparecido.

Todo conteúdo pode ser encontrado no https://www.acidadeon.com/desaparecidos/.

Série Desaparecidos

Com o lançamento da plataforma, o EPTV1 está exibindo uma série de reportagens especiais com histórias de pessoas que buscam informações de familiares que sumiram de uma hora para outra e que vivem o drama da espera por notícias, e a esperança do reencontro, de um final feliz.

Já o EPTV2 vai contar com reportagens de serviço e orientações voltadas para os familiares e conhecidos dos desaparecidos, como, por exemplo, qual é o procedimento necessário para reportar às autoridades esse tipo de situação. 

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