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Os preços dos ovos estão finalmente caindo nos Estados Unidos. Depois de dois anos de altos e baixos nas prateleiras dos supermercados — primeiro por causa da gripe aviária, depois pela inflação e pelo pânico — o Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) de maio mostrou que os ovos continuam sua lenta trajetória de volta à acessibilidade.
Quando os consumidores começam a se sentir um pouco mais estáveis com seu ovo mexido matinal, um recall, recolhimento por suspeita de risco à saúde, da proteína está fazendo muitos olharem duas vezes para a embalagem. É o tipo de situação que nos lembra que segurança alimentar não diz respeito apenas à oferta, mas também à confiança, e essa parte leva mais tempo para ser reconstruída.
No início de junho, a August Egg Company, empresa norte-americana especializada na produção e distribuição de ovos, recolheu a proteína que havia sido distribuída na Flórida após uma amostragem ambiental revelar possível contaminação por Salmonella Enteritidis, uma das principais bactérias causadoras de surtos de intoxicação alimentar no mundo, segundo a FDA, agência reguladora de medicamentos e alimentos do país.
O recall foi relativamente limitado em termos geográficos, mas seu impacto foi significativo. Consumidores que tinham começado a respirar aliviados após meses de choque com os preços foram lembrados de que preços mais baixos nem sempre significam tranquilidade.
Um produto tão simples e essencial quanto os ovos ainda carrega os traumas dos últimos dois anos.
Por que isso importa agora
O CPI mostra que os preços dos ovos estão em queda na comparação anual, após uma disparada dramática durante 2022 e 2023. Mas a história não está completa. Nas prateleiras, o custo continua historicamente altos em relação ao que os consumidores lembram como “normal”, e até mesmo um alívio modesto não apaga da memória coletiva os cartazes de “limite de unidades” e as caixas de ovos a US$ 7 (R$ 38,7 na cotação atual).
O mais recente relatório de mercado de ovos do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) confirma isso. Embora os preços anunciados no varejo para ovos brancos grandes convencionais criados em gaiolas tenham caído 16%, chegando a US$ 3,34 (R$ 18,49) por dúzia neste mês, a média nacional ainda está elevada.
E os movimentos de preços variam por região. Na Califórnia, o preço dos ovos com casca grandes caiu recentemente para US$ 3,49 (R$ 19,3) por dúzia — mas somente depois de atingir mais de US$ 10 (R$ 55,4) no início deste ano.
Enquanto isso, a demanda por ovos no início de junho estava “bem abaixo do que foi registrado em anos anteriores”, segundo a divisão de Notícias de Mercado de Gado, Aves e Grãos do USDA. Não se trata apenas de economia. Há uma sensação no ar, e ela ainda não desapareceu, mesmo com o retorno das promoções.
O que isso reflete
Os americanos não estão somente comprando ovos. Eles ainda estão reagindo à possibilidade de não conseguir comprá-los. O recall é um lembrete de que a estabilidade é frágil. Assim como a própria cadeia de suprimentos.
Apesar da queda nos preços ao consumidor, os produtores de ovos ainda enfrentam dificuldades. A influenza aviária altamente patogênica (HPAI) já eliminou mais de 36 milhões de galinhas poedeiras somente em 2025, segundo o USDA, o que representa uma perda superior a 10% do plantel nacional. Isso após um devastador 2024, quando outras 40 milhões de aves foram perdidas, metade delas apenas no último trimestre do ano.
O prejuízo se espalha muito além das fazendas. Ele alterou o estoque do varejo, mudou quais tipos de ovos são destacados nos encartes de supermercados e levantou dúvidas sobre a resiliência de longo prazo dos sistemas de produção tanto convencionais quanto livres de gaiolas.
Mesmo com o crescimento no número de galinhas poedeiras livres de gaiolas (não orgânicas), o sistema ainda está tentando equilibrar a recuperação com a volatilidade do consumidor.
Em alguns mercados, os preços no atacado estão voltando a subir conforme a oferta diminui. Em outros, o custo das embalagens caiu enquanto os ovos vendidos soltos voltaram a subir, o que prova que “preços em queda” não contam a história completa.
Os estoques aumentam em algumas regiões, mas continuam menores do que no ano passado em outras. A oferta já não está em queda livre, mas também não está estável.
A corrente emocional
Para muitos consumidores, a seção de ovos do supermercado é mais do que uma linha no orçamento. Ela é um termômetro de quão quebrado ou recuperado nosso sistema alimentar parece. E essa sensação de desorganização não desaparece só porque os preços caem.
A contradição entre “queda no CPI e aumento da ansiedade” é emblemática de um atraso emocional maior no comportamento do consumidor. Eles se lembram da inflação e de como foi não saber se conseguiriam comprar o que precisavam.
É por isso que os recalls de alimentos ainda provocam tanto impacto. Eles ativam uma memória muscular de incerteza. E complicam a narrativa que os dados do governo tentam contar: de que as coisas estão melhorando.
O que vem a seguir
Alguns consumidores mudaram seus hábitos de forma permanente. O interesse em criar galinhas no quintal disparou durante o pior momento da crise dos ovos e, embora nem todos tenham mantido essa prática, a ideia de que segurança alimentar pode ser feita em casa não desapareceu. Nem o instinto de conferir o prazo de validade duas vezes ou simplesmente evitar comprar ovos quando uma notícia negativa surge.
Até grandes fabricantes de alimentos estão se adaptando. Alguns desaceleraram as linhas de produção diante de picos de demanda por embalagens, enquanto outros estão mantendo estoques, esperando o próximo movimento dos preços. O mercado está ativo, mas também cauteloso, um reflexo do mesmo sentimento que muitos lares carregam.
Embalagem familiar, sentimento diferente
Quando os consumidores veem ovos em promoção novamente, é tentador acreditar que a crise passou. Ver R$ 19,32 na prateleira é uma coisa. Lembrar que eles precisavam ligar antes para saber se ainda havia ovos, é outra.
Mas o preço é apenas parte do cenário. No rastro da inflação e da contaminação, a confiança é uma mercadoria mais difícil de reconstruir.
Dos galinheiros caseiros às trocas cautelosas no carrinho, os americanos ainda estão renegociando sua relação com um produto que antes era garantido. E embora os relatórios do CPI possam trazer alívio econômico, o que os consumidores sentem conta uma história mais profunda.
* Stephanie Gravalese é colaboradora da Forbes EUA, onde escreve sobre restaurantes e cultura alimentar da fazenda ao garfo.
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