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A série “Sereias“, da Netflix, não sai da minha cabeça — muito por conta de uma das tramas: uma personagem é sufocada, pouco a pouco, por uma relação de poder disfarçada de parceria. E o pior é a demora para perceber. Já que quem manipula bem, geralmente, começa oferecendo espaço, escuta e até “reconhecimento”.
Mas aos poucos, a troca se desequilibra. Você dá demais, se cobra demais, se diminui. E começa a achar que o problema é você.
Me vi ali, anos atrás. Antes de me encontrar profissionalmente, descobrir minha voz e reconhecer meu potencial, fui engolida — mais de uma vez — por relações abusivas no trabalho. Situações onde elogios vinham seguidos de humilhações, onde a lealdade era testada por meio do medo. Até que meu corpo pediu socorro. Foram dois burnouts até entender: não existe entrega que valha a nossa saúde mental.
Hoje, sei que poder se afastar desses ambientes é um privilégio. Nem todo mundo pode simplesmente dizer “não” ou mudar de rota. Mas existem pequenas atitudes que nos ajudam a manter a sanidade e, aos poucos, construir uma carreira mais saudável. Compartilho aqui o que me ajudou:
- 1. Aprenda a ler o jogo antes de entrar em campo. Preste atenção no tom das conversas, nos silêncios forçados e nos apelidos disfarçados de piada. Ambientes tóxicos se revelam rápido, quando estamos dispostos a enxergar.
- 2. Não confunda exigência com opressão. Uma liderança inspiradora cobra, sim, mas com clareza, respeito e propósito. Se o medo virou rotina, algo está fora do lugar.
- 3. Crie uma rede segura. Cultive relações fora do ambiente tóxico: amigos, terapeutas, colegas de confiança. É esse suporte que vai te lembrar quem você é quando tentarem te fazer duvidar disso.
- 4. Entenda seus limites antes que eles gritem. Ouça seu corpo, sua intuição, seu cansaço. Descansar não é desistir. É se preservar.
- 5. Busque lugares onde você não precise se provar o tempo todo. Trabalhar com propósito é maravilhoso. Mas não pode ser à custa de você mesmo.
No fim das contas, o maior poder que podemos conquistar é saber onde não vale a pena ficar. E essa consciência, sim, é um sucesso que ninguém pode tirar de nós.
*Juliana Ferraz é sócia da Holding Clube e tem quase 30 anos de carreira no universo da comunicação e eventos no Brasil.
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