Treasuries: É Hora de Abandonar os ‘Ativos Mais Seguros do Mundo’?

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Investir no mercado financeiro não é como seguir uma simples receita de bolo, mas há alguns comportamentos consolidados como adequados dependendo do cenário econômico. 

Em tempos de incerteza e instabilidade, por exemplo, a fuga para ativos de segurança como ouro e títulos do Tesouro americano sempre pareceram o caminho a ser seguido. 

Mas o que fazer quando uma dessas teses enfraquece e traz mais perguntas do que respostas para os dilemas dos investidores.

É o que anda acontecendo com os Treasuries — por muito tempo considerados os ativos mais seguros do mundo. Nos últimos meses, os ativos estão passando por turbulências capazes de renovar mínimas ou máximas em questão de dias. 

O resultado é a perda de valor dos títulos e a alta das taxas de retorno, especialmente em títulos de 10 anos. 

O aumento da dívida do governo americano, rebaixamento de notas de crédito dos títulos soberanos, dúvidas com relação a continuidade da hegemonia do dólar e uma política econômica caótica nos primeiros meses do ano colocam uma interrogação na mesa. 

Ainda dá tempo de correr para a segurança dos Treasuries ou é tempo de procurar um novo porto seguro? 

Na média, os especialistas consultados pela Forbes Brasil apontam que, apesar da perda de atratividade dos títulos de curto prazo, o foco no médio e longo prazo pode se tornar uma estratégia vencedora, com uma ótima janela de oportunidade disponível no momento — e, em um futuro próximo, o dólar muito dificilmente perderá a sua atratividade como moeda global. 

Um breve panorama 

Atrelados às emissões da economia mais forte do mundo, os Treasuries têm um histórico de serem considerados os ativos mais seguros do mundo. A alcunha, em parte, se deve à segurança do mercado de que os Estados Unidos dificilmente dará um calote em sua dívida e à dominância do dólar como uma moeda forte que ainda é utilizada como reserva por boa parte dos bancos centrais globais e em operações de comércio exterior. 

Nos últimos meses, as coisas mudaram. Há uma maior percepção de risco sobre a economia americana — e as razões são inúmeras. A primeira delas atende pelo nome de Donald Trump. 

A guerra tarifária que se arrasta desde o início do ano, com inúmeras idas e vindas, traz incertezas constantes para a mesa já que, se elas se prolongarem, cresce a probabilidade de pressão inflacionária e uma eventual recessão. Levando esses elementos em conta, há também uma preocupação sobre qual será a postura do Federal Reserve nas próximas reuniões uma vez que os dados macroeconômicos mostram leituras mistas do cenário, dificultando as projeções para o rumo dos juros no curto prazo. 

Dúvidas com relação ao crescimento da dívida pública também pesam na balança. Hoje, o déficit orçamentário é de cerca de US$ 36 trilhões. A Moody’s espera para 2025 que a relação dívida e PIB dos EUA ultrapasse a casa dos 130% — com os pagamentos de juros correspondendo a 30% de toda a arrecadação federal. 

Nas últimas semanas, a agência de risco rebaixou a nota do país de Aaa para Aa1, segundo os passos da Fitch e da S&P, que também haviam revisto suas classificações nos últimos anos.

Uma economia mais fraca reflete em uma moeda mais fraca — em um momento em que alternativas ao dólar são consideradas constantemente por outras nações. A tese, no entanto, não parece assustar os especialistas. A libra esterlina, por exemplo, viu o Reino Unido perder a sua supremacia global ao longo de mais de um século e hoje, apesar da crise no Reino Unido e do surgimento do euro, segue uma moeda mais forte que o dólar em valor. 

“Mais do que tentar imaginar se o dólar vai ser ou não dominante, é tentar proteger o patrimônio independente desse cenário. Um dos maiores erros que o investidor pode ter é achar que o governo A ou governo B é o que vai determinar o valor de uma moeda — e não é”, aponta Luis Ferreira, CIO do EFG para as Américas. “São muitas outras variáveis que se consideram”. 

João Piccioni, CIO da Empiricus Gestão, também é cético quanto ao enfraquecimento generalizado do dólar, com muito da queda já precificada pelo Dollar Index, ainda que exista espaço para que o euro se valorize. Para ele, hoje a economia americana possui uma maior participação na exportação de commodities — produtos que não apontam sinais de enfraquecimento. 

“Eu não subestimaria os Estados Unidos nesse momento. O investidor geral global ganhou antipatia pelos EUA, falando ‘olha não dá para investir em nada’ e não é bem assim. Você não pode subestimá-los. Nos últimos quase 100 anos, eles se reinventam, as corporações se reinventam e tem uma certa atratividade do capital ainda em curso”, pondera Piccioni. 

Treasuries como opção para a carteira

Para Rodrigo Aloi, chefe de pesquisa e estratégia da HMC Capital, mesmo com a maior incerteza no ambiente global e em relação à economia norte-americana, a exposição aos juros americanos ainda é interessante, considerando uma ótica de longo prazo. Apesar da desvalorização recente, o dólar registra valorização nos últimos cinco anos. Para o investidor brasileiro, isso significa um atrativo a mais para além das taxas de retorno. 

Luis Ferreira, do EFG, aponta que a janela para investir nos Treasuries com retornos acima da média histórica pode estar acabando. Na reunião do Fed marcada para 30 de julho, o mercado precifica o início dos cortes — o que deve derrubar as taxas ao longo de toda a curva. Isso se os efeitos da guerra comercial não obriguem o BC americano a voltar ao processo de aperto monetário. 

“A taxa média dos Treasuries (Fed Funds) nos últimos 20 anos é de 1,63%, e hoje está em 4,25% – mais que o dobro. Nos últimos 30 anos, a média é de 2,40%. O investidor está diante de uma das melhores oportunidades nas últimas décadas”, pondera, ao salientar que as maiores oportunidades estão nos títulos de médio e longo prazo. 

Piccioni, da Empiricus, acredita que o momento favorece o posicionamento nos ativos com o horizonte mais longo, mas vê os títulos alemães como os principais concorrentes dos Treasuries no momento atual — mas com menor atratividade devido ao retorno das taxas dos EUA. Para ele, se a política fiscal americana mostrar disciplina, os europeus podem perder apelo. Até lá, ganham o capital daqueles que buscam segurança sem a turbulência cambial do dólar. 

 

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