Aquela ideia que não deixa você dormir: como nasce um empreendedor de startup

Depois de muitas conversas, mentorias e aprendizados ao lado de empreendedores que passaram pelos programas da Sapienza, decidi transformar esta coluna em algo mais vivo e contínuo.

A partir de agora, você vai acompanhar uma série em formato de temporadas e episódios, como uma narrativa. Cada texto trará dilemas, decisões e momentos-chave da jornada empreendedora, inspirados em histórias reais, com nomes e contextos fictícios, mas muito próximos da realidade de quem está construindo uma startup no Brasil.

Nasce aqui a série “Vida de Startup”, uma narrativa dividida em temporadas e episódios, inspirada em desafios reais enfrentados por quem decidiu inovar.

Seja bem-vindo à nova fase da coluna. Aqui, vamos falar sobre o que ninguém ensina no pitch: a vida real de quem empreende.

Temporada 1 – O Começo de Tudo

Episódio 01 – Day One

Aquela ideia que não deixa você dormir: como nasce um empreendedor de startup

João Amaral sempre foi o tipo de profissional que entregava antes do prazo, sabia lidar com pressão e gerenciava equipes com leveza. Com quase 40 anos, tinha acumulado promoções, viagens internacionais, um MBA e um certo prestígio entre os colegas da multinacional em que trabalhava. Mas, nos bastidores, sentia um incômodo difícil de explicar — uma sensação de que, apesar da estabilidade, sua energia estava sendo desperdiçada em ciclos repetitivos, projetos que não saíam do PowerPoint e reuniões que terminavam como começaram: em nada.

A inquietação cresceu quando, durante um café com um amigo de infância, ouviu o relato de uma enfermeira que lutava para agilizar exames básicos de pacientes da rede pública. João fez uma pergunta despretensiosa, mais por curiosidade do que por intenção:
“E se as farmácias de bairro fossem usadas como pontos de triagem, com apoio de tecnologia?”
A conversa mudou de tom. Silêncio. O amigo olhou curioso. E João sentiu aquilo que ele chamaria, meses depois, de Day One.

Naquela noite, João chegou em casa e abriu um bloco de notas no celular. Deixou ali algumas palavras soltas: “farmácias”, “diagnóstico rápido”, “plataforma”, “descentralizar”. Nos dias seguintes, começou a pesquisar. Descobriu soluções parecidas na Índia e na África do Sul. Leu sobre startups de healthtech. Mapeou indicadores de exames não realizados no SUS. E, sem perceber, mergulhou de cabeça em algo novo. Pela primeira vez em anos, sentia entusiasmo — não por cumprir um objetivo imposto, mas por construir algo que partia de si.

Com o tempo, a rotina na empresa começou a perder o brilho. As metas pareciam sem propósito, as reuniões mais arrastadas. A ideia que antes era só curiosidade virou rascunho, depois hipótese, depois… desejo.

João não largou tudo de uma vez. Pediu licença de três meses, economizou, conversou com a esposa, mapeou riscos. Trocou o crachá por cafés com empreendedores, mentorias em hubs de inovação e muito, muito aprendizado autodidata. Participou de eventos gratuitos, fez cursos online, entrou em comunidades e ouviu histórias de quem já tinha tentado, falhado, começado de novo.

A decisão de mudar não foi simples — nem romântica. Era feita de medos, incertezas e um constante sentimento de inadequação. Mas também de uma nova liberdade: poder criar.

Essa é a fase em que muitos empreendedores se revelam. Quando a dor de permanecer no mesmo lugar supera o medo do desconhecido. A transição de carreira, ao contrário do que se pinta nas redes sociais, não é um salto triunfante. É um processo interno e turbulento, onde o mais difícil não é largar o emprego — é largar a identidade de quem você foi por anos.

João ainda não tinha CNPJ, produto ou pitch pronto. Mas tinha algo que a maioria não tinha: um problema real para resolver e uma motivação que vinha de dentro.

Aprendizados do episódio:

  • A transição para o empreendedorismo é menos sobre sair do emprego e mais sobre ressignificar sua identidade.
  • Ideias poderosas geralmente nascem de incômodos reais e cotidianos — preste atenção neles.
  • Antes de buscar investimento ou produto, cultive o mais importante: motivação genuína e disposição para aprender com os outros.

No próximo episódio:

Problema de verdade ou ilusão de founder?

Será que a dor que João queria resolver era mesmo um problema real… ou só uma obsessão sua?

Sobre o autor: Geraldo Campos é fundador e CEO da Sapienza, Doutor em Engenharia e Gestão do Conhecimento e colunista do Economia SC. Atua há mais de 30 anos com inovação e empreendedorismo apoiando o desenvolvimento de startups, programas de inovação e educação empreendedora no Brasil e em países da América Latina e Europa. 

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