Frango Impulsiona Lucro da Pilgrim’s Pride

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A demanda por frango vem aumentando há décadas e, atualmente, é a proteína mais consumida no mundo. Os benefícios para a saúde e o custo mais acessível têm impulsionado essa procura, enquanto o mercado de carne bovina enfrenta dificuldades com a baixa oferta de gado, preços elevados e queda no consumo.

Sem uma operação de carne bovina para impactar negativamente seus lucros, a Pilgrim’s Pride (PPC), uma das maiores empresas de processamento de carne de frango do mundo, fundada em 1946, nos Estados Unidos. A companhia se beneficia de um mercado em rápido crescimento, ao mesmo tempo em que mantém a lucratividade e gera caixa.

A PPC oferece uma relação risco/retorno favorável com base nos seguintes fatores:

  • aumento nas vendas em todos os segmentos de negócio;
  • crescimento da demanda por frango e carne suína;
  • lucratividade superior à concorrência; e
  • ações com avaliação barata.

Demanda por frango supera a carne bovina

O frango vem ganhando popularidade de forma constante nas últimas décadas. O consumo per capita nos EUA subiu de 12,7 quilos em 1960 para 46,7 quilos em 2024. Esse crescimento ocorreu em grande parte às custas da carne bovina, cujo consumo per capita caiu de 63 libras em 1960 para 59 libras em 2024.

Como resultado, o frango é hoje a proteína mais consumida no país.

Expectativa de crescimento

As projeções indicam que o consumo de frango continuará aumentando de forma consistente ao redor do mundo. O mercado global de frango deverá crescer 6% ao ano entre 2024 e 2033.

Em termos de consumo, estima-se que a demanda global por carne de aves aumente de 143 milhões de toneladas em 2025 para 160 milhões em 2033.
Frango segue mais acessível que carne bovina

A tendência de consumo de frango em comparação à carne bovina reflete a “atratividade” da proteína avícola para os consumidores, impulsionada em grande parte por seu custo relativamente mais baixo. De acordo com dados da Circana, empresa líder em dados de mercado e insights de consumidores, 87% das refeições preparadas em casa contém carne ou aves, e o valor por quilo é um dos três principais fatores na decisão de compra.

Nos últimos dois anos, a diferença de preço entre carne moída e frango aumentou, o que torna o segundo ainda mais atrativo. Nesse período, o preço por libra do peito de frango sem osso caiu 4%, e das coxas com osso, 3%, enquanto o custo da carne moída subiu 20%. A tendência é que essa diferença continue crescendo em 2025.

Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), o rebanho bovino do país encolheu pelo sexto ano consecutivo em 2024, e o número de cabeças em 1º de janeiro de 2025 representa o menor nível desde 1951. O USDA projeta uma queda de quase 2% na produção comercial de carne bovina em 2025, enquanto a disponibilidade total de proteína deve crescer 1,2% em relação ao ano anterior.

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Atualmente, o frango é a proteína mais consumida nos EUA

Mercado de carne suína também cresce

O consumo per capita de carne suína passou de 22,2 quilos em 2015 para 22,7 quilos em 2024. O mercado global de carne suína deverá crescer 4% ao ano (em taxa composta) entre 2025 e 2034.

No curto prazo, o USDA projeta um aumento de 3% na produção comercial de carne suína em 2025, com a forte demanda e os preços elevados da carne bovina sustentando o valor da carne suína.

Liderança global

A Pilgrim’s Pride é o segundo maior produtor de frango dos Estados Unidos, atrás apenas da Tyson Foods (TSN). A empresa tem atuação geograficamente diversificada, com vendas nos EUA, México, Reino Unido e Europa.

Segundo a PPC, a empresa é responsável por 1 a cada 6 quilos de frango vendidas nos EUA; 1 a cada 4 quilos de frango vendidas no México; 1 a cada 4 quilos de frango vendidas no Reino Unido; e 1 a cada 4 quilos de carne suína vendidas no Reino Unido.

Nos últimos cinco anos, as vendas da Pilgrim’s Pride cresceram, em média, 7% ao ano nos EUA, 9% no México e 17% no Reino Unido e Europa. No total, as vendas em todas as regiões cresceram 9% ao ano entre 2019 e 2024.

Diversificação entre os produtos de frango

O maior segmento gerador de receita da Pilgrim’s Pride é sua operação nos EUA, responsável por 59% da receita de 2024 e 68% do lucro bruto do ano.
A empresa vende principalmente produtos frescos, que representaram 90% da receita nos EUA em 2024. No entanto, o valor está bem distribuído entre diferentes categorias: 37% vêm de produtos com frangos pequenos, 33% de frangos prontos para abate, 24% de frangos grandes e 6% de conversão de proteína ou outros produtos.

Fundamentos sólidos há décadas

A Pilgrim’s Pride soube aproveitar o crescimento da demanda por frango e, embora não seja uma empresa de crescimento acelerado, vem expandindo receita e lucro líquido há mais de 20 anos.

Desde 1998, a receita cresceu 11% ao ano e o lucro operacional líquido após impostos (NOPAT) aumentou 12% ao ano. A margem NOPAT subiu de 5% em 1998 para 8% em 2024, enquanto a rotatividade do capital investido caiu de 2,5 para 2,1.

Ainda assim, o aumento da margem compensou a queda na eficiência de capital, elevando o retorno sobre o capital investido (ROIC) de 13% em 1998 para 17% em 2024.

Além disso, o lucro essencial cresceu de US$ 51 milhões em 1998 para US$ 1,4 bilhão em 2024, uma alta de 14% ao ano. Nos últimos cinco anos, a empresa aumentou a receita em 9% ao ano, enquanto o NOPAT subiu 22% ao ano no mesmo período.

Lucratividade superior à concorrência

A Pilgrim’s Pride não é apenas uma das maiores produtoras de carne do mundo: é também a mais lucrativa entre as empresas listadas em bolsa.

A empresa possui a maior eficiência operacional (margem NOPAT) e de capital (rotatividade do capital investido), o que impulsiona seu ROIC, o maior entre os pares listados, como Tyson Foods (TSN), Smithfield Foods (SFD), Hormel Foods (HRL) e outros produtores de carne e alimentos.

Sem garantia, mas dividendos extraordinários podem gerar retorno

A Pilgrim’s Pride não distribui dividendos regulares nem recompra ações com frequência. Em 31 de dezembro de 2024, a última recompra de ações havia ocorrido em 2022.

Contudo, a empresa anunciou um dividendo extraordinário de US$ 6,30 por ação em março de 2025, pago em meados de abril. Com base no preço de fechamento do dia anterior ao anúncio, esse dividendo representou um retorno de 12,5%.

Apesar de dividendos extraordinários não serem recorrentes, caso a Pilgrim’s Pride volte a distribuí-lo, o potencial de retorno aos acionistas pode ser significativo.

Geração consistente de caixa

Desde 2018, a Pilgrim’s Pride gerou US$ 1,8 bilhão (R$ 10,2 bilhões na cotação atual) em fluxo de caixa livre acumulado, o que representa 13% de seu valor de mercado. Esse resultado se manteve positivo mesmo com a grande queima de caixa registrada em 2021, após as interrupções causadas pela COVID no ano anterior.

Nota de crédito para enfrentar incertezas

A dívida total da empresa caiu de US$ 3,7 bilhões (R$ 21 bilhões) em 2021 para US$ 3,6 bilhões (R$ 20 bilhões) em 2024, enquanto o caixa e equivalentes subiu de US$ 428 milhões (R$ 2,4 bilhões) para US$ 2 bilhões (R$ 11,4 bilhões) no mesmo período. Como resultado, a dívida ajustada líquida de caixa recuou de US$ 3,7 bilhões para US$ 2,4 bilhões (R$ 13,6 bilhões).

A Pilgrim’s Pride possui uma classificação de crédito considerada atraente no geral. Mesmo que as condições econômicas piorem ou a demanda oscile, a solidez financeira da empresa garante sua operação no futuro previsível.

Aumento no custo de insumos já está precificado

Os preços dos principais ingredientes usados na ração de frangos e suínos — milho, soja e trigo — impactam fortemente os custos da Pilgrim’s Pride, e de todos os produtores de carne. Em 2024, esses insumos representaram 42%, 38% e 5% dos custos de alimentação da empresa, respectivamente.

Para 2025, o USDA projeta uma safra recorde de milho e espera queda nos preços médios de milho, soja e trigo em comparação a 2024. No curto prazo, isso é positivo para a Pilgrim’s Pride, que poderá reduzir custos e aumentar suas margens.

No entanto, não há garantia de que os preços permanecerão baixos. Uma temporada agrícola ruim, por exemplo causada por clima adverso, ou outro choque na cadeia de suprimentos como em 2020 — quando milho e soja dispararam — impactaria negativamente as margens e lucros da empresa.

A boa notícia para os investidores é que o preço atual das ações já pressupõe uma queda permanente de 40% nos lucros da empresa. Qualquer aumento nos custos de alimentação já está amplamente precificado.

Acionistas colocam um piso no valor das ações

A JBS S.A., maior produtora de carne do mundo, detém mais de 82% das ações ordinárias da Pilgrim’s Pride. A JBS adquiriu o controle da empresa ao ajudá-la a sair da recuperação judicial em 2009, com um investimento de US$ 800 milhões (R$ 4,5 bilhões), que lhe garantiu 64% de participação na época.

Em agosto de 2021, a JBS fez uma oferta para comprar os 20% restantes da Pilgrim’s Pride. A proposta incluía um prêmio de 22% sobre a média dos 30 dias anteriores. No entanto, as empresas não chegaram a um acordo, e a JBS retirou a oferta em fevereiro de 2022.

Desde então, as ações praticamente dobraram de valor, e parece que a administração da Pilgrim’s Pride tomou a decisão certa. Diante dos fundamentos da empresa, não é improvável que a JBS faça uma nova proposta, o que poderia gerar um ganho rápido de mais de 20% para os investidores.

Mesmo sem nova oferta, o interesse demonstrado por um acionista de referência como a JBS deve reforçar a confiança dos investidores na PPC.

Divulgação – JBS

A JBS detém mais de 82% das ações ordinárias da Pilgrim’s Pride

Preço atual pressupõe queda nos lucros

Atualmente, a relação preço/valor contábil econômico (PEBV) da Pilgrim’s Pride é de 0,6. Isso significa que o mercado espera uma queda permanente de 40% no NOPAT da empresa em relação aos níveis de 2024. Essa expectativa parece pessimista, considerando que o NOPAT cresceu 12% ao ano desde 1998 e 6% ao ano desde 2014.

Abaixo está um modelo reverso de fluxo de caixa descontado (DCF) para analisar os diferentes cenários de valorização para as ações da PPC.

Cenário 1: expectativas atuais do mercado
Se considerarmos que:

  • a margem NOPAT cai imediatamente para 4% (metade da margem de 2024 e igual à média dos últimos cinco anos) até 2034;
  • e a receita cresce 4% ao ano até 2034 (contra 8% nos últimos dez anos e abaixo dos 6% projetados para o mercado de frango);
  • então a ação vale US$ 53 (R$ 302) — igual ao preço atual. Nesse cenário, o NOPAT da Pilgrim’s Pride cairia 3% ao ano entre 2025 e 2034.

Cenário 2: ações podem subir mais de 20% mesmo com queda nos lucros
Se, por outro lado, considerarmos que:

  • a margem NOPAT cai para 4,7% (média desde 2009) até 2034; e
  • a receita cresce 4% ao ano (mesmo ritmo do cenário anterior);
  • então a ação vale US$ 64 (R$ 364,8) — ou 21% a mais do que o valor atual.

Nesse cenário, o NOPAT da Pilgrim’s Pride cairia 2% ao ano até 2034. Caso o NOPAT cresça mais em linha com o histórico da empresa, o potencial de valorização das ações é ainda maior.

Vantagens competitivas sustentáveis impulsionarão valor ao acionista

Algumas vantagens competitivas da Pilgrim’s Pride permitirão que a empresa continue gerando NOPAT superior ao que o mercado atual pressupõe:

  • posições de liderança no mercado global de frango;
  • ampla rede de distribuição e presença internacional;
  • lucratividade superior aos concorrentes — tanto em margens quanto em ROIC;
  • balanço patrimonial sólido.

O que os investidores de curto prazo não enxergam na Pilgrim’s Pride

Atualmente, poucos investidores se dedicam a identificar bons alocadores de capital com uma governança corporativa alinhada aos interesses dos acionistas. Com a proliferação dos noise traders, investidores que seguem ruídos do mercado, o foco está nas tendências técnicas de curto prazo, enquanto análises fundamentais mais confiáveis são ignoradas. Eis um resumo do que esses investidores estão deixando passar:

  • demanda crescente por carne de frango;
  • crescimento consistente dos Lucros Principais por mais de duas décadas;
  • a avaliação atual implica que os lucros cairão permanentemente em 40%.

Lucros acima do esperado podem impulsionar as ações

A Pilgrim’s Pride superou as estimativas de lucro em 8 dos últimos 10 trimestres, incluindo o trimestre mais recente, encerrado no 4T24.

A superação das expectativas e o crescimento consistente tanto da receita quanto do lucro líquido ajudam a explicar o desempenho superior das ações da PPC em relação ao setor de bens de consumo básicos desde o início deste ano.

No acumulado de 2024, as ações da PPC registram alta de 13%, enquanto o fundo Consumer Staples Select Sector SPDR Fund (XLP) apresenta valorização de apenas 3%. Novas surpresas positivas nos resultados podem impulsionar ainda mais as ações e ampliar essa diferença de desempenho.

Remuneração dos executivos pode ser aprimorada

Os executivos da Pilgrim’s Pride recebem incentivos anuais e prêmios em ações de longo prazo. Os incentivos anuais estão atrelados à “margem PBT”, definida como o lucro antes dos impostos conforme os princípios contábeis geralmente aceitos (GAAP), excluindo certos ajustes, e expressa como uma porcentagem das vendas líquidas.

Já os prêmios em ações de longo prazo estão vinculados ao lucro antes de juros e impostos (EBIT) por libra processada e à margem EBIT. A empresa poderia vincular a remuneração dos executivos ao ROIC. Essa abordagem garante um maior alinhamento entre os interesses dos executivos e os dos acionistas, uma vez que há uma forte correlação entre a melhoria do ROIC e a geração de valor para os acionistas.

Melhorar o ROIC exige atenção a todas as áreas do negócio. Portanto, incluí-lo no plano de remuneração incentivaria os executivos a buscar avanços em toda a operação, e não apenas atingir metas específicas de vendas ou lucro.

Apesar de utilizar a margem PBT e metas de EBIT na política de remuneração, a gestão da Pilgrim’s Pride aumentou os lucros econômicos — o verdadeiro fluxo de caixa do negócio — em 4% ao ano na última década, passando de US$ 646 milhões (R$ 3,68 bilhões) em 2014 para US$ 921 milhões (R$ 5,25 bilhões) em 2024.

Negociações internas e tendências de posições vendidas

Nos últimos 12 meses, executivos e diretores adquiriram 316.919 ações e venderam 176.983 ações, resultando em um saldo líquido de 139.936 ações compradas. Essas vendas representam menos de 1% do total de ações em circulação.

Atualmente, há 6,8 milhões de ações vendidas a descoberto, o que corresponde a 4% das ações em circulação e representa pouco mais de quatro dias de negociação para cobrir essas posições.

Fundos atrativos que possuem participação em PPC

Os seguintes fundos, que possuem classificação atrativa ou superior, mantêm alocações significativas em ações da Pilgrim’s Pride:

  • First Trust Consumer Staples AlphaDEX Fund (FXG) – alocação de 4,9% e classificação atrativa;
  • Invesco Food & Beverage ETF (PBJ) – alocação de 3,1% e classificação atrativa;
  • Euclidean Fundamental Value ETF (ECML) – alocação de 2,4% e classificação muito atrativa.

* David Trainer é colaborador da Forbes EUA, onde escreve sobre mercado.

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