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À medida que as políticas tarifárias voláteis de Donald Trump continuam a prejudicar a economia global, o temor de uma recessão toma conta de Wall Street. O receio tem razão de ser. A economia americana é vista como um termômetro do cenário global. Quando ela cresce, os investidores respiram aliviados. Porém, em geral, quando o panorama ameaça desacelerar, o mundo segura o fôlego.
A definição técnica de recessão é a ocorrência de dois trimestres consecutivos de redução do Produto Interno Bruto (PIB). Nos EUA, quem dá a palavra final sobre o início ou o término de uma retração é o National Bureau of Economic Research (NBER).
Para NBER, um período de desaceleração vai além da variação negativa do PIB. Ele define recessão como uma “queda significativa na atividade econômica, disseminada por diversos setores da economia e que dure mais do que alguns poucos meses.”
A organização caracteriza um período recessivo por uma combinação de fatores, como uma retração econômica acompanhada por um aumento no desemprego ou por uma queda em determinado setor. Isso significa que a economia americana tem uma chance de escapar da recessão generalizada — desde que a recuperação aconteça rapidamente — fato incerto até o momento.
Segundo Marianna Costa, economista-chefe da corretora Mirae Asset, o NBER também só define se o período foi recessivo ou não depois de aproximadamente um ano da desaceleração econômica.
O que precisa ocorrer para que os EUA entrem, de fato, em uma recessão?
Gatilhos
De acordo com o banco de investimentos Goldman Sachs, a probabilidade de uma recessão nos EUA nos próximos 12 meses está em 45%. O concorrente JP Morgan também avalia que as chances são de quase 50%. Isso mostra uma preocupação maior com os sinais negativos da economia do que a avaliação do NBER. Em outras palavras, para o mercado, as chances de recessão em 2025/2026 são grandes.
Neste ano, segundo a estimativa do Departamento de Comércio dos EUA, o PIB caiu 0,3% em ritmo anualizado no primeiro trimestre — a primeira retração desde 2022. O recuo é uma das consequências das tarifas de Trump e está relacionado, principalmente, ao aumento das importações.
Diante do temor de novas taxas, as empresas americanas anteciparam as compras, elevando o volume importado. O movimento acabou pressionando o crescimento para baixo, já que quanto mais um país importa, menor tende a ser produzido internamente, o que reduz o PIB. Outro dado relevante foi a taxa de desemprego nos EUA que, em março, subiu para 4,2% ante 4,1% de fevereiro. Em abril, o indicador permaneceu estável.
Segundo a economista-chefe da Mirae Asset, o gatilho principal vem das tarifas de Trump. “Ano passado a perspectiva já era de desaceleração econômica, mas em uma magnitude menor. Com os choques tarifários, o cenário mudou”, afirma fulana.
No dia 9 de abril, em resposta às taxas americanas, a China aumentou os impostos de importação para os Estados Unidos para 84%. Seguindo o movimento, no mesmo dia a Casa Branca elevou as tarifas para 145% — pausando as sobretaxas dos demais países por 90 dias. Por fim, em 11 de abril, a China aumentou suas taxas retaliatórias para 125%. “Essa escalada abrupta elevou o nível de incertezas, fazendo com que os economistas aumentassem as chances de recessão”, comenta Juliana Benvenuto, Coordenadora de Alocação e Inteligência da Avenue.
A trégua resolve?
Recentemente, EUA e China anunciaram trégua nas tarifas recíprocas e retomaram as negociações. As taxas dos EUA sobre as importações chinesas caíram para 30% e as da China sobre os produtos americanos foram reduzidas para 10%.
Apesar do alívio inicial, o mercado continua em alerta, já que a suspensão é temporária, e ainda falta um acordo sólido entre os países.
De acordo com Marianna Costa da Mirae Asset, como os impactos atuais têm origem nas taxas de Trump, a recessão pode assumir características diferentes, como um tempo mais curto de desaceleração ou mais localizado em alguns setores.
Para as especialistas, o que vai ditar uma recessão econômica será o ritmo das negociações tarifárias de Trump ou a magnitude das tarifas. Quanto mais altas as taxas, maior o impacto sobre a atividade econômica. “Se os diálogos seguirem em tom mais positivo, como estamos vendo, a expectativa é de uma desaceleração mais fraca ou até restrita a alguns setores”, explica Costa da Mirae Asset. Por outro lado, um clima mais hostil pode aumentar os danos, indicando uma recessão mais forte.
“Além disso, a confiança do consumidor caiu significativamente e a curva dos juros americanos ficou invertida por mais de um ano. Esse movimento, em alguns casos, é um indicativo de recessão no futuro”, destaca Benvenuto da Avenue. O fenômeno ocorre quando os rendimentos dos títulos de dívida do governo com prazos mais curtos são mais altos do que os rendimentos dos títulos com prazos mais longos. “A possibilidade de recessão se concretiza com juros elevados, desaceleração do consumo e pressões externas”, afirma a especialista.
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