
Os bebês reborn têm feito sucesso no Brasil pelo seu hiper-realismo, e também por serem alvo de polêmicas nas redes sociais. A febre dos bebês realistas também chegou à região de Brusque, onde há mulheres que fabricam e também compram as bonecas.
Para entender como funciona este mercado, o jornal O Município conversou com duas moradoras de Guabiruba: uma que fabrica e outra que compra bebês realistas, para conhecer mais sobre suas histórias com a chamada cultura reborn.
Rejane Carvalho, de 50 anos, mora no Centro de Guabiruba, e conta que o interesse surgiu há nove anos, quando ainda morava no Rio Grande do Sul, após comprar uma boneca para sua filha, então com 1 ano e meio. Ela conta que caiu de paraquedas no mundo das bonecas realistas e que não conhecia muito sobre a área.
A partir da interação com o brinquedo, Rejane diz que se apaixonou pela arte. “Como já gostava de artesanato, decidi fazer um curso e comecei a criar meus próprios bebês”.

Ela ressalta que, na época, não havia muitos artistas no Brasil, então decidiu criar as bonecas como forma de complementar a renda. Rejane era servidora pública da área da justiça no Rio Grande do Sul. “Foi um sucesso e logo a renda com os bebês superava a de funcionária pública”.
Ela explica que tempos depois, deixou a função no serviço público e passou a se dedicar exclusivamente à criação de bonecas. As vendas tornaram-se sua principal fonte de renda. E por estar trabalhando em um ateliê dentro de casa, pôde acompanhar de perto o crescimento da filha.
Em 2020, Rejane se mudou para Brusque e residiu por dois anos no bairro Guarani, até se mudar para Guabiruba. Enquanto morava em Brusque, a empresária chegou a montar um berçário de bebês reborn, mas não chegou a inaugurar devido à pandemia da Covid-19. “Porém, a ideia é montar novamente a maternidade”.
Fabricação e público
Rejane fabrica os bonecos a partir de um molde em vinil siliconado cru. Os “bebês” ganham vida durante o processo de pintura. “As mães escolhem as características do bebê, como o tom da cor da pele, dos olhos e do cabelo”. E completa mencionando que os cabelos são implantados fio a fio.

Conforme a empreendedora, o maior público do negócio são crianças, mas a arte também encanta os adultos. “Muitas mulheres me procuram para adquirir os bebezinhos para colecionar ou para realizar o sonho de ter uma boneca — aquelas mulheres que não tiveram durante a infância”.
Entre o público adulto, a artesã conta que vários pedidos são de pessoas que buscam bebês semelhantes à aparência dos filhos, quando bebês, como uma forma de guardar para sempre essa fase. Há também a procura por colecionadores.
O maior público da moradora de Guabiruba está fora do estado de Santa Catarina.
Uma situação complicada relatada por Rejane foi um pedido feito por uma mãe para que fosse feito um bebê semelhante ao filho, que havia nascido sem vida. “Eu não quis recriar. Nem consegui abrir a foto. Nesse caso acredito que atrapalharia a elaboração do luto dela, mas, em muitos casos o bebê ajuda a atravessar fases difíceis”.
Opiniões sobre os bebês reborn
Por utilizar sua casa como ateliê para fabricação dos bebês, a empresária conta, em tom de brincadeira, que já escutou de amigos que não sabem como ela consegue dormir com todos os bebês dentro do seu apartamento.
Questionada se já foi alvo de comentários negativos, ela responde que não, e até que a procura aumentou principalmente depois do tema ganhar relevância nas redes sociais.
“Apesar de muitas pessoas entenderem de forma equivocada o que de fato acontece no mundo reborn e a real utilidade de uma boneca quase real, nossa arte continua sendo amada pelas crianças e pelas colecionadoras”.
Ela completa que há muitos casos em que o bebê reborn serve de suporte emocional para pessoas com alzheimer, luto perinatal e depressão. “Não é uma fuga da realidade e sim um objeto de apoio emocional para uma fase difícil”.

Mãe de bebês reborn
Ana Paula Kormann Motta, de 41 anos, moradora do Centro de Guabiruba, conta que a filha sempre quis uma boneca reborn, foi a partir disso, em uma conversa com as amigas, que soube que uma mulher em Guabiruba vendia esse tipo de brinquedo.
“Aí que eu entrei em contato com ela através do Instagram e fui até o apartamento dela para conhecer de perto o trabalho, porque às vezes você vai comprar pela internet e vê que não é tão real”.

Ana menciona que foi bem recebida e que se surpreendeu com a quantidade de bonecas e bonecos que a Rejane possui em seu ateliê. “Ela tem uma maternidade de bebês lá, é a coisa mágica. A minha filha ficou encantada e eu também”.
Na visita de Ana, foi possível escolher entre as bonecas disponíveis à pronta entrega ou fazer pedidos por encomenda. A filha de Ana hoje possui duas bonecas, uma comprada em setembro de 2023 e outra no ano seguinte, em junho. Todas escolhidas pela filha no ateliê de Rejane. “Eu comprei uma prematura e uma um pouquinho maior”.

“Vale cada centavo”
O preço dos bebês reborn é algo que chama muito a atenção, uma bebê pode custar a partir de R$ 700 e passar de R$ 3 mil.
Sobre os valores, Ana menciona que quem procura por um bebê reborn sabe que não é uma boneca qualquer. “E bem por isso que eu estava há muito tempo procurando, procurando, procurando, mas nenhuma me agradava assim e eu nem chegava a mostrar para minha filha. Eu sempre pensava em ver de perto, né, porque ver de perto ou comprar pela internet, são situações totalmente diferentes”.
Falando especificamente do trabalho de Rejane, Ana conta que vale cada centavo. “Eu sou apaixonada pelas bonecas, como mãe da minha filha, mas sou apaixonada pelas bonecas, porque, na minha infância, eu também brincava de boneca. E hoje ela tem sete aninhos e continua brincando com essas bonecas. Se tivesse a possibilidade de comprar mais, com certeza compraria”.
Ela pontua que recentemente entrou em contato com Rejane para falar que a filha agora tem interesse em ter um boneco. “É muito acessível pelo trabalho que ela faz”.
Boneca que chama atenção
O hiper-realismo dos bebês é o principal destaque dos bonecos, quando vistos em locais abertos chamam atenção como se fossem de verdade.
Ana conta que um dia foi dar uma volta com a filha pela cidade e que a boneca levou a curiosidade de todos que chegavam perto. “A gente foi dar uma volta e a minha menina levou a boneca junto, a prematura, e realmente parece uma ‘bebezinha’. Muitas pessoas paravam e falavam: ‘Gente, que coisa mais linda! Meu Deus, não é um bebê, é uma boneca’.”
Projetos de lei
A febre envolvendo o mundo reborn tem sido tão grande no Brasil que, por diversas partes do país, projetos de lei envolvendo o assunto foram anunciados. Entre eles, o PL Nº 5357/2025, de autoria do deputado Rodrigo Amorim (União), do Rio de Janeiro, que constitui na criação de um Programa de Saúde Mental para pessoas que se consideram pais e mães de bebês reborn no estado.
O projeto tem o objetivo de acolher pessoas que se consideram pais e mães de bebês reborn com orientações e informações específicas dos perigos de se utilizar os bonecos reborn como uma fuga da realidade e com dependência afetiva do objeto.
Tem como intuito também a prevenção e acompanhamento de saúde mental de pessoas — consideradas pais ou mães dos bebês — que já manifestem transtornos de ordem psíquica que possa levá-los a um estado de depressão ou suicídio. Além disso, propõe a formatação de estratégias de enfrentamento de alterações sociais e de aceitação, em conjunto com o núcleo familiar.
O projeto está em análise na Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj).
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