A onda de golpes digitais em Santa Catarina: entenda por que o estelionato virou o “crime da moda” no Brasil

Santa Catarina vive uma epidemia de golpes digitais. Em 2024, o estado registrou mais de 100 mil casos de estelionato, aumento de 6,2% em relação ao ano anterior, conforme aponta o relatório de indicadores de criminalidade da Polícia Civil. E há uma migração para o ambiente online: sete em cada dez ocorrências envolvem fraudes praticadas pela internet.

Os casos vão de abordagens simples até esquemas extremamente sofisticados. Um dos mais recentes ocorreu em São Miguel do Oeste, no Extremo Oeste do Estado, onde uma idosa perdeu mais de R$ 30 mil após cair no chamado “Golpe do Amor”, forma de estelionato em que criminosos fingem um envolvimento afetivo para conquistar a confiança da vítima. O golpe só foi descoberto quando ela tentou contratar empréstimos em bancos locais para enviar ao suposto companheiro.

De acordo com o advogado criminalista Eduardo Herculano, esse tipo de crime tem crescido com velocidade alarmante e se tornado mais difícil de combater. “Os golpistas têm se beneficiado das facilidades da tecnologia para escalar os crimes. Usam inteligência artificial, bots, engenharia social e até deepfakes de voz para convencer as vítimas”.

Crescimento de 360% no país

No Brasil, foram registrados quase 2 milhões de casos de estelionato em 2023, um salto de 360% em relação a 2018, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Só no primeiro semestre de 2024, já eram mais de 800 mil tentativas de golpes registrados em plataformas digitais.

Além do “Golpe do Amor”, as fraudes assumem outras formas: pirâmides financeiras travestidas de investimentos em Web3, apostas esportivas manipuladas e produtos inexistentes vendidos por influenciadores digitais. Segundo Herculano, as organizações criminosas por trás desses golpes têm atuação transnacional, com servidores hospedados em países que dificultam a cooperação com as autoridades brasileiras.

Isso porque, desde as alterações introduzidas pelo Pacote Anticrime, a investigação do estelionato só ocorre mediante representação da vítima, o que gera subnotificação e retroalimenta o problema. “Esse cenário fragmentado dificulta as investigações e reduz drasticamente as chances de punição, especialmente quando somado ao fato de que a maioria das vítimas sequer registra ocorrência”.

Para o especialista, enfrentar essa nova “geometria do crime” exige mais do que a atuação policial tradicional. É preciso investir em tecnologia de rastreamento, cooperação internacional e educação digital em larga escala. “Se a resposta do Estado não acompanhar o ritmo da inovação dos criminosos, continuaremos correndo atrás do prejuízo”.

Como evitar cair em golpes digitais: confira 6 cuidados essenciais

  • Desconfie de propostas afetivas ou comerciais que parecem boas demais para ser verdade. Golpistas apelam para emoção ou ganância.
  • Nunca envie dinheiro ou compartilhe dados bancários com desconhecidos, mesmo que pareçam confiáveis.
  • Evite clicar em links enviados por e-mail, SMS ou aplicativos de mensagens, principalmente se não tiver solicitado nada.
  • Pesquise antes de comprar ou investir, especialmente se o produto for promovido por influenciadores ou usar termos técnicos como “NFT”, “cripto” ou “Web3”.
  • Use verificação em duas etapas em redes sociais, e-mails e contas bancárias.
  • Converse com amigos ou familiares antes de tomar decisões financeiras incomuns, uma segunda opinião pode evitar um grande prejuízo.
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