Conforme divulgado no recente relatório da UNAIDS, intitulado Metas Globais 2025 para Pessoas que Usam Drogas: Onde estamos agora?, os dados revelam que as pessoas que usam drogas injetáveis ainda são deixadas para trás na resposta ao HIV. O estudo afirma que em 2022, a prevalência média global do HIV entre pessoas que fazem uso de drogas injetáveis era de 5% nos 50 países que forneceram dados.
O documento ressalta que, apesar dos compromissos internacionais e da existência de uma “Estratégia Global contra a AIDS 2021–2026”, que pela primeira vez inclui metas sobre reforma legislativa e liderança comunitária, a implementação prática ainda é deficiente. Segundo o relatório, em 2019, menos de 1% das pessoas que faziam uso de drogas injetáveis viviam em países com cobertura recomendada de programas de agulhas e seringas e terapia de manutenção com agonistas opioides. Desde então, nenhum país adicional relatou ter atingido esse nível de cobertura, evidenciando uma estagnação preocupante nos avanços.
A análise da UNAIDS destaca que a meta de ter 95% das pessoas em risco de infecção pelo HIV utilizando opções eficazes de prevenção combinada está longe de ser alcançada. Nos 20 países que reportaram dados, uma média de apenas 37% das pessoas que usam drogas injetáveis relataram ter recebido pelo menos dois serviços de prevenção ao HIV nos últimos três meses. Este número demonstra uma lacuna significativa entre as necessidades de prevenção e a oferta real de serviços essenciais para este público.
Outro ponto abordado é o acesso a seringas e agulhas esterilizadas. A meta estabelece que mais de 90% das pessoas que usam drogas injetáveis deveriam ter acesso a esses materiais, com os países fornecendo anualmente 200 agulhas e seringas por pessoa. No entanto, desde 2018, entre 44 países declarantes, apenas cinco reportaram fornecer o número recomendado. Uma análise mais aprofundada da UNAIDS concluiu que menos de um quarto (22%) das pessoas que usam drogas injetáveis vivem em países com a cobertura recomendada para agulhas e seringas.
Perguntado sobre o assunto, Kalleo Lima Bueno, proprietário e responsável pela Clínica de Recuperação em Guarulhos para Dependentes Químicos, São Paulo, Grupo Clínicas Vitae, afirmou que os dados da UNAIDS refletem obstáculos enfrentados diariamente. “Conforme apontado no estudo, é imperativo um investimento robusto e contínuo em estratégias de redução de danos que sejam verdadeiramente acessíveis e despidas de estigma, para que possamos reverter esse quadro alarmante e proteger vidas”.
O relatório também aponta para a baixa cobertura da Terapia de Manutenção de Agonistas Opioides (OAMT). Embora operacional em 88 países em 2023, sua implementação ocorre majoritariamente em pequena escala e, frequentemente, em contextos de aplicação da lei que se mostram contraproducentes. Desde 2018, apenas três países, entre os 35 que forneceram dados, relataram ter atingido as metas para 2025 de alcançar pelo menos metade das pessoas que usam drogas injetáveis com OAMT. Globalmente, estima-se que apenas 0,5% das pessoas que usam drogas injetáveis vivem em países com cobertura OAMT recomendada.
Perguntado sobre o relatório, Kalleo disse que analisando o panorama completo apresentado pela UNAIDS, fica evidente que a abordagem predominantemente punitiva e a falta de investimento consistente em programas de redução de danos, como a Terapia de Manutenção com Agonistas Opioides (OAMT), são os principais entraves para alcance das metas de prevenção do HIV. “É fundamental uma mudança de paradigma, como a que ocorre na clínica de reabilitação na unidade de São Paulo, com políticas de drogas focadas na saúde pública e nos direitos humanos, para que, de fato, exista formas de proteger essa população e avançar no combate à AIDS”.
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