Como Resorts de Luxo na Suíça Estão Transformando Viajantes em Investidores Imobiliários

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Viajar com luxo em 2025 envolve criar conexões significativas que vão além do conceito tradicional de férias. Um exemplo disso é a Suíça, onde os melhores hotéis do país vêm respondendo a visitantes que retornam ano após ano — e, por vezes, de forma definitiva. Com a demanda crescente por experiências de viagem personalizadas e autênticas, muitos resorts suíços nas montanhas estão redefinindo o significado de viajar com propósito.

Esses hotéis devem manter alta procura nos próximos anos, com a Suíça se tornando cada vez mais popular entre viajantes com alto poder aquisitivo e investidores imobiliários. Segundo o relatório High-End Tourism 2023, da Aliança Europeia das Indústrias Culturais e Criativas (ECCIA) e da associação de bens de luxo Altagamma, o país, pequeno, seguro e politicamente estável, é considerado o principal destino mundial para férias de luxo nas montanhas.

O público de altíssima renda não está apenas passando férias na Suíça, mas também escolhendo viver e trabalhar lá: segundo o Global Entrepreneurial Wealth Report do HSBC, 9% dos entrevistados dos Emirados Árabes Unidos e 8% de Hong Kong estão considerando emigrar para o país. Experiências de viagem excepcionais costumam ser o primeiro passo para a compra de imóveis.

Thierry Weber

Os pilotos de jatos particulares estão bem equipados nos Alpes, incluindo os aeroportos de Gstaad-Saanen e Sion

Seja pelas escolas de hotelaria suíças que formam profissionais altamente qualificados, seja pela excelente infraestrutura do país (como os aeroportos Gstaad Saanen e Sion, adaptados para jatos particulares), não surpreende que os hóspedes mais ricos retornem — e fiquem por mais tempo. Andrea Scherz, proprietário do Gstaad Palace e presidente da rede Leading Hotels of the World, informou à Forbes Global Properties que a média de permanência no hotel subiu de 3,1 para 4,9 noites.

De experiências únicas a atividades para todas as idades e ao longo do ano, há diversas formas pelas quais a hospitalidade nos Alpes suíços está cativando seu público mais abastado.

Six Senses Crans-Montana

No topo do seu jogo, no topo do mundo no Golf Club Crans-sur-Sierre, no alto dos Alpes, em Crans-Montana

Viagens com propósito: a busca por significado em vez de indulgência

Nadine Friedli, gerente geral do Alpina Gstaad, um hotel com 56 quartos, afirma que viagens com propósito são hoje a principal motivação de seus hóspedes de alta e altíssima renda. “Não basta mais se hospedar em um hotel luxuoso — os hóspedes querem vivenciar algo especial, que enriqueça suas vidas e gere memórias duradouras. Eles buscam experiências autênticas e exclusivas, desde aventuras sob medida nas montanhas até jornadas gastronômicas com chefs estrelados.”

The Alpina Gstaad

Nesta temporada, o The Alpina Gstaad inaugurou uma nova sala de jantar comunitária, Monti, elevando o seu portfólio de restaurantes para cinco

“Hoje não se trata apenas de reservar um hotel — trata-se de reservar uma experiência”, afirma Leyla Hoffmann, gerente geral do hotel LeCrans, localizado acima da estação de Crans-Montana. “Os hóspedes querem que o tempo longe da rotina tenha propósito e significado… O foco deixou de ser apenas relaxar e passou a ser criar experiências que promovam crescimento pessoal, bem-estar e conexão mais profunda com os lugares visitados.”

Essa abordagem é descrita por Toan Ly, gerente comercial assistente do Six Senses Crans-Montana, como “privacidade sem isolamento”. Segundo ele, os hóspedes “buscam exclusividade, mas também desejam conexões humanas autênticas — por meio de vivências culturais locais ou de formas de viajar que permitam verdadeira imersão, e não apenas passagem pelo destino. Nos últimos anos, houve uma mudança expressiva em direção ao bem-estar consciente, experiências culturais imersivas e viagens regenerativas.”

Sustentabilidade integrada: uma expectativa do setor hoteleiro

Embora a sustentabilidade seja prioridade no Alpina Gstaad, os hóspedes preferem que ela esteja integrada de forma natural. “Sustentabilidade não é mais uma palavra da moda”, observa Friedli, “é um valor importante e uma expectativa. Mas os hóspedes não querem ser lembrados disso o tempo todo — deve fazer parte da experiência, sem esforço.”

Ly concorda: “Sustentabilidade deixou de ser um diferencial e passou a ser uma exigência. Os hóspedes querem saber de onde vem a comida, como a estadia contribui positivamente para o ecossistema local e se sua presença está deixando um impacto reduzido. Eles buscam propriedades que ofereçam não apenas um serviço cinco estrelas, mas também gestão ambiental equivalente.”

“Nosso objetivo não é apenas atingir emissão líquida zero”, completa. “Queremos deixar os lugares melhores do que os encontramos.” Entre as ações sustentáveis do Six Senses Crans-Montana estão o uso de painéis solares, operação com 100% de energia renovável, reaproveitamento da água do degelo e parcerias com iniciativas locais de preservação ambiental.

Louis Dasselborne

A administração ambiental está no topo das agendas das empresas de hospitalidade alpinas, cujos cenários naturais imaculados (na foto, Crans-Montana) estão entre as principais atrações para visitantes

A sustentabilidade também é um dos pilares do LeCrans, parceiro do Programa Suíço de Turismo Sustentável. Segundo Hoffman, “os hóspedes querem se conectar com o destino de forma mais profunda, entendendo as origens, os benefícios e os efeitos do que consomem.” O restaurante do hotel segue o conceito “da fazenda à mesa”, com ingredientes locais e informações sobre sua origem. Já a premiada adega reúne cerca de 1.000 vinhos, metade deles provenientes dos vinhedos da região de Valais. “É uma oportunidade de conhecer a história do vinho suíço”, comenta Hoffman.

Bem-estar: a tendência da saúde como forma de riqueza

O turismo de bem-estar está crescendo no mundo todo e deve atingir valor de US$ 1,3 trilhão (R$ 7,8 trilhões) neste ano. E o público de altíssima renda está optando por destinos voltados ao bem-estar, que combinem relaxamento com check-ups preventivos, consultas de saúde personalizadas, alimentação equilibrada e programas de longevidade com base científica.

Chris Franzen, diretor do Bürgenstock Resort — um complexo com três hotéis localizado a 500 metros acima do Lago Lucerna — relata que houve um aumento expressivo na busca por experiências de bem-estar personalizadas nos últimos anos. A região tem longa tradição nesse segmento, incluindo hidroterapia, banhos termais e os benefícios associados ao ar puro das montanhas.

Bürgenstock Resort

O Alpine Spa do Bürgenstock Resort relata que muitos hóspedes combinam tratamentos e atividades de bem-estar com viagens de negócios

“Os hóspedes não estão mais em busca apenas de luxo ou relaxamento,” afirma Franzen. “Eles querem jornadas de bem-estar que atendam às necessidades físicas, mentais e emocionais.”

Segundo ele, muitos hóspedes, especialmente os que viajam a trabalho, estão combinando bem-estar com suas agendas profissionais. “Por exemplo, clientes de eventos e conferências costumam incluir corridas nas montanhas, caminhadas ou momentos de atenção plena em meio à natureza antes ou depois das atividades, e até fazem ligações de negócios enquanto caminham ao ar livre.”

Ciência e atenção plena: uma megatendência de inovação

“No Six Senses, não seguimos tendências — nós as criamos”, diz Toan Ly. Ele cita desde as suítes de biohacking com terapias de infravermelho até banhos de floresta e meditações guiadas nos Alpes. Segundo Ly, “a procura por orientações de bem-estar altamente personalizadas e com base científica cresceu muito — virou uma megatendência. Os hóspedes querem soluções que vão além do spa, com impacto real na vitalidade, no desempenho e na longevidade.”

O bem-estar também é prioridade no Alpina Gstaad, cujo spa registrou aumento de 25% no uso nos últimos dois anos, especialmente entre os homens. “Muitos de nossos hóspedes vivem rotinas intensas e procuram maneiras de se reconectar consigo mesmos e com a natureza”, afirma Friedli. O resort ampliou suas opções de bem-estar com programas de cura tibetana, aulas de atenção plena e tratamentos de biohacking.

John Athimaritis

Respondendo ao interesse de hóspedes recorrentes, muitos resorts agora oferecem retiros de bem-estar privados personalizados que incluem tudo, desde programas de desintoxicação a terapias de recuperação de alto desempenho

“Uma tendência marcante é o crescimento da demanda por abordagens holísticas”, aponta Hoffman. “Viajantes experientes buscam terapias baseadas em evidências para lidar com questões como estresse e esgotamento, com foco em programas que os conectem à natureza.”

Caminhadas alpinas, trilhas ou passeios pela floresta incentivam os hóspedes a se conectarem fisicamente com o ambiente natural, ajudando a reduzir o estresse e absorver a energia tranquila do local. “Acreditamos que o ar puro das montanhas e o ambiente sereno são complementos ideais para nossas ofertas de bem-estar, promovendo conexão entre corpo e mente”, diz Hoffman.

“Em um momento em que tudo é acelerado, nossa missão diária é oferecer um espaço onde hóspedes possam relaxar, se desconectar e recarregar as energias”, afirma André Rytlewski, gerente assistente do The Chedi Andermatt, em um dos resorts mais recentes da Suíça. “Recebemos pessoas de todas as partes do mundo.”

Yannick Andrea/Gstaad Palace

O Gstaad Palace oferece aos hóspedes mais jovens um gostinho da vida na montanha no Sammy’s Kids’ Club

Cresce o número de viagens em família multigeracional

Segundo a consultoria McKinsey & Company, viagens de luxo com três gerações da mesma família — avós, pais e filhos — estão em alta. Essas famílias preferem acomodações espaçosas e privadas, como vilas exclusivas.

Hotéis suíços de luxo já estão acostumados a atender diferentes perfis demográficos. Muitos, como o Gstaad Palace, são administrados por famílias há gerações.

O Gstaad Palace ampliou seu clube infantil Sammy’s Club, que agora inclui atividades com cães São Bernardo, piscina infantil e visitas ao “Saaniland”, instalado em um antigo quartel de bombeiros na cidade vizinha de Saanen. O cardápio do restaurante Le Grand também foi ajustado para diferentes idades: o número de pratos no menu à la carte subiu para 70, permitindo que “adultos recebam seu bacalhau assado ao sal ao mesmo tempo que as crianças recebem o macarrão”, explica Scherz.

JP Kalonji/Alpina Gstaad

O artista suíço Jean-Philippe Kalonji liderou um workshop criativo na Alpina Gstaad em 2024, patrocinado pela Caran d’Ache

“Famílias querem destinos com opções para todas as idades, além de atividades que possam fazer juntas”, afirma Friedli. O Alpina Gstaad oferece clube infantil, oficinas de pintura com patrocínio da Caran d’Ache e planeja construir um novo parquinho próximo ao terraço. No inverno e no verão, o hotel também organiza visitas a artesãos locais e degustações com produtores de queijo da região.

The Chedi Andermatt

A vila de Andermatt, no Valais, está, como muitas estâncias de esqui alpino, a investir na atracção de visitantes e investidores imobiliários durante todo o ano

Os trens a vapor e as paisagens ao estilo de Heidi podem dar a impressão de que a Suíça tem um ritmo lento e bucólico. Mas seus hotéis de luxo são bastante dinâmicos. Em um país que lidera constantemente o Índice Global de Inovação, esses resorts alpinos estão preparados para acompanhar todas as tendências do turismo de luxo — e entregam um padrão que atrai quem busca o mais alto nível de excelência. Por isso, muitos acabam voltando para ficar de vez.

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