Quem Faz as Roupas do Papa: Tradição, Alfaiataria e Preparação no Vaticano

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Antes que o novo papa seja apresentado ao mundo da sacada da Basílica de São Pedro, há um momento reservado e carregado de simbolismo que acontece longe dos olhos do público. É na chamada Sala das Lágrimas, uma sacristia anexa à Capela Sistina, que o pontífice recém-eleito se veste pela primeira vez como líder da Igreja Católica. O nome do espaço — parte do Palácio Apostólico desde o século XVI — vem das lágrimas que muitos papas já derramaram ali, diante da responsabilidade do cargo que acabaram de aceitar.

No interior da sala, tudo está pronto antes mesmo de o conclave terminar. Batinas brancas em três tamanhos (P, M e G), mocassins vermelhos, capas de seda e estolas bordadas em dourado aguardam o novo líder. Um vídeo recente divulgado pelo Vaticano mostra o cuidado com cada detalhe: nada ali é improvisado.

Boa parte dessa preparação começa do lado de fora dos muros do Vaticano. Em Roma, alfaiates especializados produzem as vestes papais com base em medidas padrão, já que ninguém sabe quem será o escolhido. Um deles é Raniero Mancielli, de 86 anos, que vestiu João Paulo II, Bento XVI e Francisco. Com décadas de experiência, ele observa as preferências de cada pontífice: enquanto Francisco opta por peças mais sóbrias, Bento XVI valorizava tecidos pesados e sofisticados.

Entre as casas responsáveis pela confecção está a tradicional Alfaiataria Clero, fundada em 1962 no bairro Borgo Pio, e a Casa Gammarelli, considerada a alfaiataria oficial do Vaticano desde 1798. Localizada nos fundos do Panteão, a Gammarelli é comandada hoje por Lorenzo Gammarelli, da sexta geração da família. Desde o papado de Pio XI, em 1922, a loja é encarregada de produzir as vestes do sucessor de Pedro — incluindo os emblemáticos mocassins vermelhos e as batinas com 33 botões, em referência à idade de Cristo.

Quem também participa desse processo é a costureira Teresa Palombini, que relata se emocionar toda vez que vê as roupas prontas. Mesmo após anos no ofício, ela afirma que cada nova produção traz a mesma sensação da primeira. As medidas usadas nas confecções são baseadas nos trajes de cardeais, bispos e padres que já são clientes da loja — pontífices como Bento XVI, por exemplo, nunca chegaram a visitar a alfaiataria pessoalmente.

Na primeira aparição pública, o novo papa veste uma batina branca de lã, uma capa também branca, feita de seda, e uma estola bordada, que pode ser branca ou vermelha. Em eventos mais solenes, entra em cena a capa vermelha. Cada peça, apesar de simples à primeira vista, carrega séculos de tradição, simbolismo e costura cuidadosa — feita ponto a ponto longe das câmeras, mas com atenção total ao peso do momento que está por vir.

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