Jorge Campos analisa, em artigo, os efeitos dos primeiros cem dias do novo mandato de Donald Trump, marcados por uma guinada protecionista e por políticas internas voltadas à reindustrialização dos Estados Unidos.

Os primeiros meses do novo mandato de Donald Trump não deixaram espaço para dúvidas: o mundo caminha para uma nova fase de disputas comerciais, rearranjos diplomáticos e políticas internas cada vez mais voltadas para dentro das fronteiras nacionais. A agenda exposta por Trump, tanto em discursos quanto na entrevista recente concedida à revista TIME, confirma uma guinada mais assertiva em direção ao protecionismo e à reindustrialização americana. Para o Brasil — e particularmente para Santa Catarina, estado de economia aberta e exportadora — os sinais vindos de Washington exigem atenção redobrada e respostas estratégicas.
A aposta de Trump na elevação de tarifas e no redesenho de acordos internacionais impacta diretamente setores-chave da economia catarinense, que hoje dependem fortemente do acesso a mercados externos. Indústrias como a têxtil, a agroindustrial e a metalomecânica, tradicionais motores do estado, podem sentir os efeitos de um ambiente global mais fechado. Nesse cenário, a FIESC (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina) e a ACATE (Associação Catarinense de Tecnologia) surgem como atores centrais: a primeira, mobilizando esforços para diversificação de destinos de exportação e fortalecimento da produtividade industrial; a segunda, impulsionando a inovação e a internacionalização de empresas de tecnologia que podem encontrar novas portas abertas na transformação digital global.
Além disso, o reposicionamento americano fragiliza mecanismos multilaterais que vinham favorecendo economias emergentes. O Mercosul, que por vezes foi negligenciado em debates internos brasileiros, volta a ter papel estratégico: aprofundar parcerias regionais pode ser a chave para manter competitividade e segurança comercial num mundo em reorganização. Santa Catarina, com sua tradição exportadora e sua base empresarial robusta, tem tudo para ser protagonista nesse movimento — desde que atue com inteligência diplomática e visão de longo prazo.
O que os primeiros cem dias do governo Trump ensinam é que o novo jogo global será menos previsível e mais competitivo. Para o Brasil e para Santa Catarina, a resposta não está em temer as mudanças, mas em compreendê-las e se adaptar. Reforçar a capacidade produtiva, apostar na inovação e diversificar relações internacionais será fundamental. Resta saber com os nossos representantes políticos e associativistas vão se posicionar neste novo cenário.
Jorge Campos é consultor de investimentos e vive nos Estados Unidos.