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Maior baixa da B3 no pregão da terça-feira (6), com uma queda de 20,5%, as ações do grupo Pão de Açúcar (PCAR3) iniciaram os negócios desta quarta-feira (7) com mais uma baixa, por enquanto de 4%, O processo de queda começou há alguns dias: nos últimos cinco pregões, a desvalorização acumulada das ações é de cerca de 36%.
A queda ocorreu apesar de o Pão de Açúcar ter divulgado, na segunda-feira (5), resultados do 1T25 dentro do esperado pelo mercado e melhores do que os do 1T24. Novamente, a rede de supermercados divulgou um prejuízo nos três primeiros meses do ano, com perda de R$ 169 milhões. No entanto, o vermelho da última linha do demonstrativo de resultados recuou 74,4% ante a perda de R$ 660 milhões registrada no 1T24.
Apesar do prejuízo, os números operacionais melhoraram. A receita líquida cresceu 3,94% para R$ 4,767 bilhões, um avanço inferior à inflação. No entanto, o lucro operacional aumentou, crescendo 5,62% ante os três primeiros meses de 2024, mostrando uma recomposição das margens.
Danielle Lopes, sócia da casa de análise independente Nord, avalia que o resultado foi favorecido principalmente pela evolução positiva do desempenho operacional e pela redução de provisões, incluindo a reversão parcial de valores relacionados a processos tributários anteriores.
O Ebitda ajustado cresceu 9,9% ante o 1T24 para R$ 409 milhões e a margem Ebitda ajustada subiu para 8,6%, um avanço de 0,5 ponto percentual. Segundo Lopes, “em termos de desempenho comercial, o GPA registrou crescimento de vendas nas mesmas lojas (SSS) em todos os seus formatos. As bandeiras Pão de Açúcar e Extra Mercado avançaram 6,5% e 6,6%, respectivamente”.
Vendas de ações
O que justificou essa queda, então? Segundo analistas de mercado, foi um movimento especulativo com duas etapas. Na primeira, houve um forte aumento das posições vendidas, em que investidores alugam ações para poder vender os papéis, visando recompra-los mais barato posteriormente.
Segundo um levantamento da consultoria Elos Ayta, na segunda-feira (5) havia 65,3 milhões de ações alugadas, representando 15,1% do free float (ações em circulação no mercado e que não pertencem aos controladores). Três semanas antes, em 14 de abril, o total de ações alugadas era de 47,4 milhões, ou 7,46% do free float. “O volume de ações alugadas subiu 37,8% de 14 de abril até 5 de maio, o que elevou a relação entre aluguel e free float em 7,65 pontos percentuais”, diz Einar Rivero, CEO da Elos Ayta. “O volume de ações alugadas no dia 30 de abril é o sexto maior da história da companhia.”
A segunda etapa foi um movimento de venda de ações por investidores relevantes. Na segunda-feira (5) o Pão de Açúcar realizou uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) de acionistas, que levou a mudanças na composição do Conselho de Administração, que representa os interesses dos acionistas na empresa. A AGE destituiu os nove membros do Conselho e elegeu pessoas novas, incluindo o investidor Rafael Ferri. Essa mudança gerou incertezas sobre a direção estratégica da empresa.
Após a reunião, anunciou uma redução de sua participação no capital do Pão de Açúcar 2,73%, pouco mais da metade dos 5,28% que possuía no fim de abril, antes da Assembleia. Ferri informou por meio de sua assessoria de imprensa que “a redução da participação foi por conta do encerramento de instrumentos derivativos, que integravam a parte da ‘participação indireta’ presente no comunicado.”
“Essas mudanças na estrutura de governança, aliadas aos resultados financeiros, contribuíram para a volatilidade das ações do GPA, refletindo as incertezas do mercado quanto aos rumos futuros da companhia”, avalia Lopes. Segundo a sócia da Nord, “Fontes do mercado indicam que, após a assembleia, [o investidor Nelson] Tanure teria iniciado a venda de uma parte significativa de sua participação no GPA, que correspondia a cerca de 10% do capital da empresa, considerando ações e derivativos.”
Perspectivas
Os analistas de mercado estão cautelosos com as ações do Pão de Açúcar. Após a divulgação dos resultados, os analistas do banco americano JP Morgan alertaram para “riscos significativos relacionados à estrutura de capital” devido ao endividamento elevado e a opções limitadas para desalavancagem. Os analistas apontaram que “a empresa enfrenta desafios em obter acordos fiscais favoráveis, o que pode limitar sua capacidade de recuperação financeira”.
O Goldman Sachs viu um trimestre em linha com as expectativas, com melhor lucratividade, mas visibilidade limitada do fluxo de caixa. O banco tem um preço-alvo de R$ 3,10 para PCAR3, o que representa um pequeno salto de 5% em relação à cotação vigente e uma queda de quase 20% em relação ao patamar do fechamento da última segunda (5).
Lopes, da Nord, avalia que a rede varejista “mantém seu foco na expansão, mas não apresentou guidance financeiro nem anunciou pagamento de dividendos ou JCP neste trimestre”. Para ela, há “sinais de uma possível recuperação, com evolução nas margens e forte desempenho comercial e digital. No entanto, o prejuízo líquido e a queda no fluxo de caixa livre ainda são pontos de atenção. E o aumento da dívida líquida, apesar do recuo na alavancagem, também merece monitoramento.”
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