Empreender em família parece, para muitos, o caminho mais natural. Quem melhor para dividir um negócio do que quem já compartilha valores, sonhos e uma história de vida? É assim que nascem desde pequenos comércios até grandes empresas. Também é assim que muitos negócios de tecnologia e inovação têm surgido no Brasil. Irmãos, casais, pais e filhos unindo forças para transformar ideias em empresas.
No começo, tudo parece mais fácil. A confiança já existe. As decisões são rápidas. Todos compartilham do mesmo entusiasmo. Mas, conforme o negócio evolui, a dinâmica muda. Novos sócios entram. Investidores se aproximam. As decisões ficam mais complexas. E aquilo que antes era uma vantagem, a proximidade familiar, pode se transformar em um desafio silencioso.
Ao longo da minha trajetória, já acompanhei empresas familiares que prosperaram por décadas porque os fundadores souberam crescer sem perder o alinhamento. Estabeleceram papéis claros. Definiram regras objetivas. E, acima de tudo, entenderam que o vínculo familiar não podia substituir a governança e as boas práticas empresariais.
Também presenciei histórias em que a falta de preparação transformou sócios em adversários. Conflitos pessoais atravessaram a sociedade. Negócios que tinham tudo para crescer foram prejudicados porque os laços emocionais não se adaptaram à complexidade do crescimento e à chegada de novos sócios ou investidores.
Nos negócios de tecnologia e inovação, esses desafios se ampliam. À medida que investidores e aceleradoras se envolvem, os laços familiares precisam conviver com novas exigências de mercado, metas agressivas de crescimento e governança formalizada. O que antes era resolvido com conversas rápidas entre parentes agora exige contratos claros, pactos de sócios bem estruturados e uma cultura empresarial que vai além dos vínculos pessoais. Muitos negócios promissores enfrentam dificuldades não pela falta de inovação ou mercado, mas porque as relações familiares não evoluíram junto com a empresa.
Empreender em família exige maturidade. É preciso entender que o negócio precisa de uma estrutura societária clara, acordos bem definidos e, muitas vezes, de decisões que não serão unânimes, mesmo entre familiares. A empresa deixa de ser “da família” e passa a ser um organismo próprio, com seus próprios interesses e com pessoas que confiaram seus recursos e seu tempo esperando que ela cresça de forma profissional.
É aqui que muitos erram. Confundem lealdade familiar com resistência a mudanças. Tentam manter controle absoluto mesmo quando o negócio já exige governança compartilhada. Ou, no outro extremo, deixam de enfrentar conversas difíceis com parentes-sócios por medo de desentendimentos, acumulando problemas até que eles explodem.
Empreender em família pode ser um grande diferencial competitivo quando as relações são saudáveis, transparentes e profissionalizadas. Mas pode se tornar uma armadilha se os envolvidos não estiverem dispostos a evoluir como sócios e como líderes.
Confiança é essencial para começar. Maturidade e clareza são indispensáveis para crescer.
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