Francisco: o Papa da “cultura do encontro” e da alegria do Evangelho

A cultura do encontro foi um dos termos recorrentes no pontificado de Francisco: encontro para acolher migrantes, para promover a paz, para uma vida fraterna

Júlia Beck
Da Redação

Papa Francisco em visita ao Brasil em 2013 / Foto: Robson Siqueira – Arquivo Canção Nova

No início de se pontificado, o Papa Francisco visitou o Brasil para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Rio 2013. O Pontífice proferiu discursos que foram capazes de alcançar os corações não só dos católicos mais jovens, como também dos mais “antigos”.

Foi também no país que o pedido por uma “conversão pastoral” da Igreja começou a ecoar, assim como a promoção da “cultura do encontro” – exortações estas que permearam muitos de seus discursos ao longo de seu pontificado.

A cultura do encontro foi uma fala repetida de Francisco na defesa de migrantes e refugiados. “Chaga aberta na humanidade”, o drama de tantos homens e mulheres que enfrentaram o naufrágio, a fome, desertos e até mesmo a morte não passou em branco nos anos em que Francisco esteve à frente da Igreja.

Além da cultura do encontro, o pedido foi por acolhimento, proteção e integração dos milhares de migrantes e refugiados.

Alegria do Evangelho

No final de 2013, mais precisamente em novembro, a Igreja pôde palpar, de fato, uma prévia do que seria o papado de Francisco. No dia 26 daquele mês, foi publicada a sua primeira Exortação Apostólica, a Evangelii Gaudium – A alegria do Evangelho.

O documento – visto como uma espécie de “programa de seu pontificado” – despertou uma transformação missionária a partir do conceito de “Igreja em saída”. O Santo Padre encorajou o clero, desde o princípio, a se lançar até as periferias humanas com misericórdia diante dos desafios da época – o que lembra seu seu lema papal: “Miserando atque eligendo” (Olhou-o com misericórdia e o escolheu).

Papa acena para fiéis em sua visita ao Brasil em 2013, por ocasião da JMj no Rio de Janeiro / Foto: Ed Alves – Arquivo Canção Nova

Não à guerra entre nós

Muitas guerras eclodiram neste período. O “não à guerra entre nós”, escrito pelo Santo Padre em sua primeira exortação, ecoou de forma recorrente nos seus incontáveis apelos e ações pela paz.

Um ato emblemático, em 2019, aconteceu quando Francisco recebeu os líderes políticos do Sudão do Sul no Vaticano – eles haviam acabado de assinar um Acordo de Paz. O país, mesmo com a sua independência, em 2011, segue com uma história marcada por guerras civis e pela fragilidade política, militar e econômica.
Ao final do encontro, o Santo Padre inclinou-se para beijar os pés dos líderes do país reunidos para a iniciativa de paz. A cena chamou atenção do mundo e refletiu os esforços constantes do Pontífice pela paz.

O pedido pelo fim das guerras foi eloquente nos anos que sucederam o ataque militar da Rússia na Ucrânia, em fevereiro de 2022, e o ataque surpresa perpetrado pelo Hamas contra Israel, em outubro de 2023.

A todo momento o Papa mostrou a abertura do Vaticano em intermediar o fim das guerras, sempre visando os mais frágeis e afetados pela imoralidade das armas – uma indústria ferozmente criticada por Francisco.

Fraternidade humana

Em contraponto à guerra, a misericórdia e a fraternidade humana tornaram-se uma promoção do Santo Padre. Em 2015, ele anunciou o Jubileu da Misericórdia. O Ano Santo Extraordinário exortou os católicos a uma conversão espiritual e a viver a misericórdia no mundo.

Na cerimônia que marcou o início deste Ano Santo, o Pontífice abriu a Porta Santa da Basílica de São Pedro. A Porta Santa era simbólica: ela representava o passo do pecado à redenção, da morte à vida, do não crer à fé.

O rito de abertura da Porta Santa aconteceu em Santuários e Catedrais do mundo todo. Segundo Francisco, quem passasse por ela poderia experimentar “o amor de Deus que consola, que perdoa e dá esperança”. Ao final do Ano Santo, o Papa afirmou: “Embora se feche a Porta Santa, continua sempre escancarada para nós a verdadeira porta da misericórdia que é o coração de Cristo”.

Quanto à fraternidade, ela ganhou contornos ainda mais evidentes no pontificado de Francisco com a assinatura do histórico “Documento sobre a fraternidade humana para a paz mundial e a convivência em comum”. O documento, datado de 2019, é um marco na relação entre cristianismo e islamismo. O compromisso firmado entre o Papa Francisco e o Grande Imame de Al-Azhar, Ahmad Al-Tayyib, indicou uma valorização da cultura do diálogo, da colaboração comum e do conhecimento mútuo.

O documento é um apelo para pôr fim às guerras e condena os flagelos do terrorismo e da violência, especialmente os que têm motivos religiosos. “A fé leva o crente a ver no outro um irmão a ser apoiado e amado”, diz o prefácio.

O post Francisco: o Papa da “cultura do encontro” e da alegria do Evangelho apareceu primeiro em Notícias.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.