Era Fonseca: a Hora de Unir o Tênis Brasileiro para Construir Um Legado

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O Brasil está vivendo um momento único no tênis. O talento e a ascensão de João Fonseca despertaram um entusiasmo que transcende os fãs habituais do esporte, criando uma nova onda de interesse e esperança para a modalidade no país. 

Fonseca impressiona com seu jogo agressivo e controlado, sua maturidade e força mental, qualidades essenciais para um atleta de elite. O futuro é promissor, e a esperança é de que ele alcance voos ainda mais altos. No entanto, para que essa nova fase se transforme em um legado duradouro para o tênis brasileiro, é essencial que haja um movimento coletivo para estruturar e fortalecer o ecossistema do esporte.

E nesse contexto, recém-chegada à modalidade, escuto de muitos – “uau, que momento para liderar uma entidade de tênis, nessa nova Era Fonseca”. Certamente, é um momento incrível, repleto de oportunidades para crescimento e construção de um legado duradouro para o tênis. 

Após quatro anos como CEO da Confederação Brasileira de Rugby, pude vivenciar de perto o que faz o rugby um esporte tão especial: valores profundamente enraizados como respeito, paixão, solidariedade, integridade e disciplina. No rugby não existem heróis solitários, o sucesso depende sempre da coletividade, onde cada jogador conhece exatamente sua função e entende que seu papel individual é indispensável para o sucesso do grupo inteiro – é essa essência colaborativa que eu acredito que precisamos construir no tênis brasileiro.

Um novo contexto, uma nova oportunidade

Nos meus primeiros dias na Rede Tênis Brasil, deparei-me com um artigo de Marcelo Loureira, no portal MKTEsportivo, intitulado “O tênis brasileiro não está pronto para João Fonseca”. O autor argumenta que, assim como aconteceu na “Era Guga”, o Brasil ainda não possui uma estrutura sólida para converter o sucesso de um atleta em crescimento sustentável para a modalidade, apontando a elitização do esporte como um entrave. O texto me impactou profundamente, levando-me a uma conversa inspiradora com o próprio Loureira para apresentar a Rede Tênis Brasil e discutir caminhos para o tênis brasileiro.

Com base nessa reflexão, discordo do argumento de que o Brasil não evoluiu para potencializar essa nova era do tênis pois, se compararmos o atual cenário ao período da “Era Guga”, percebemos avanços significativos em diversos aspectos. Usando o modelo SPLISS, que identifica nove pilares críticos para o sucesso esportivo de uma nação, podemos analisar a evolução do tênis brasileiro nas últimas décadas.

Um dos pilares mais importantes, o suporte financeiro, está hoje em um patamar muito mais robusto do que estava há 25 anos atrás. Ainda, com a eventual ascensão de um ídolo nacional, o tênis ganhará espaço na mídia e despertará o interesse de mais marcas e empresas. Caberá às entidades do tênis criar projetos relevantes que atraiam investimentos sustentáveis. Outro aspecto fundamental é a governança e gestão das entidades, que também amadureceram consideravelmente em relação ao passado.

Importante reforçar que eu, ainda em fase inicial de compreensão do cenário do tênis brasileiro, não tenho qualquer expectativa ou pretensão de esgotar uma discussão tão complexa e nem de avaliar todos os pilares do cenário tenístico brasileiro através do modelo SPLISS, apenas iniciar um debate e tentar criar uma mobilização no ecossistema do tênis em volta de um crescimento estruturado para um legado ao tênis brasileiro. 

Böhme e Bastos, 2016

Pilares que levam ao sucesso esportivo internacional/ Fonte: Böhme e Bastos, 2016

 

O papel da Rede Tênis Brasil no desenvolvimento da modalidade

Dentre os nove pilares do SPLISS, dois em particular refletem diretamente a atuação da Rede Tênis Brasil – os pilares 3 e 4, respectivamente Participação / esporte na base e Sistemas de identificação e desenvolvimento de talentos.

Nos últimos dez anos, a Rede Tênis Brasil apresentou o tênis a mais de 120 mil crianças, especialmente em escolas públicas, democratizando o acesso à modalidade e se posicionando não só como o maior projeto de massificação do tênis no Brasil, mas também como um dos maiores projetos sociais do esporte brasileiro. O programa não apenas massifica a prática esportiva, mas também estrutura um caminho de desenvolvimento para jovens atletas, proporcionando treinamentos regulares e avaliações periódicas. 

Em 2025, a Rede Tênis impactará cerca de 20 mil crianças em escolas, treinará 1.500 crianças semanalmente e proporcionará treinamento mais intensivo para outras 250, além de oferecer reforço escolar para 300 delas – tudo isso de forma gratuita às famílias.

Para aqueles que se destacam na modalidade, a transição para o alto rendimento é natural. A entidade conta com o Time Rede Tênis que, em 2025, contará com 10 atletas juvenis promissores que passam por um programa de desenvolvimento. Treinados por uma equipe multidisciplinar liderada pelo renomado treinador Léo Azevedo, o programa inclui suporte de treinadores, preparadores físicos, psicólogo e nutricionista, além de suporte financeiro aos atletas e acompanhamento em competições nacionais e internacionais. Bia Haddad Maia, uma das maiores tenistas brasileiras da era moderna, também faz parte da iniciativa, servindo de inspiração para jovens atletas que fazem ou fizeram parte do programa, como as promissoras Nahuany Silva (Naná), Victoria Barros e Pietra Rivoli.

Uma rede de atores para Transformar o Tênis

A Rede Tênis Brasil é apenas um dos agentes nesse ecossistema, outras instituições também têm desempenhado papéis fundamentais nos pilares 3 e 4, respectivamente Participação / Esporte na base e Desenvolvimento de talentos. Fundação Tênis, Instituto Patrícia Medrado, Instituto Ícaro, Projeto Bola Dentro, WimBelemDon, Rio Tennis Academy, Yes Tennis, Fly Sports, ADK Tennis, Dumont Tênis, Etchecoin Tennis, Tennis Route e a própria Confederação Brasileira de Tênis – cada uma dessas entidades contribui de maneira significativa para a expansão do esporte e formação de juvenis.

Apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito. Vemos evoluções desde a “Era Guga”, mas o Brasil ainda precisa de mais torneios, mais treinadores capacitados, mais quadras acessíveis à população e mais programas que promovam o tênis para um público mais amplo.

Lembro-me de uma conversa com Marcelo Motta (Lelo), gestor do projeto de massificação da Rede Tênis Brasil, logo na minha entrada. Perguntei se teríamos capacidade de abrir os novos núcleos que ele queria implementar. Sua resposta foi: “Mari, você já viu A Lista de Schindler?” Assenti com a cabeça. “É sobre isso. Vamos colocar mais gente para dentro, impactar mais crianças. Vamos dar um jeito.” Esse é o nosso propósito: transformar vidas através do tênis e fazer do Brasil um país mais tenístico. Precisamos sempre dar o nosso 100% para fazer mais e melhor.

O chamado para a união

Talvez esse seja o momento ideal para reunir todo o ecossistema do tênis brasileiro – confederações, federações, instituições sem fins lucrativos, academias, promotoras de torneios, ex-atletas, atletas, comunicadores, influenciadores – em um movimento conjunto para fortalecer a modalidade.

Temos desafios, mas também temos oportunidades e condições muito melhores do que no passado. A “Era Fonseca” é uma realidade, e cabe a todos nós garantir que esse momento se transforme em um legado duradouro para o tênis brasileiro.

A Rede Tênis Brasil está de braços abertos para trabalhar de forma coletiva e colaborativa pelo bem do tênis no Brasil.

Mariana Miné é CEO da Rede Tênis Brasil e formada em Administração de Empresas pela FGV. Com vasta experiência nos setores esportivo e corporativo, foi CEO da Confederação Brasileira de Rugby entre 2020 e 2024, tornando-se a primeira mulher a ocupar o cargo em uma entidade olímpica brasileira. Também atuou em posições de liderança na Ambev e Unilever e foi fundadora e CEO de uma empresa de alimentos para animais.

Quer saber mais sobre o Rede Tênis Brasil? Acesse nosso site www.redetenisbrasil.com.br e redes sociais @redetenisbrasil.

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