VÍDEO: Homem é morto com 11 tiros por furtar sabão em mercado de SP

Imagens de câmeras de monitoramento, divulgadas nessa segunda-feira (3), mostram o momento em que um homem, de 26 anos, é morto a tiros por policial militar de folga, após tentar furtar sabão em um mercado na zona sul de São Paulo. O caso aconteceu no dia 3 de novembro, mas só veio à tona após as gravações serem divulgadas. Gabriel Renan da Silva Soares foi atingido à queima-roupa ao tentar fugir.

Homem, de 26 anos, foi morto a tiros por policial militar após furtar pacotes de sabão

Homem, de 26 anos, foi morto a tiros por policial militar após furtar pacotes de sabão – Foto: Reprodução/ ND

No boletim de ocorrência, ao qual a reportagem do Estadão teve acesso, o policial militar Vinicius de Lima Britto afirma que agiu em legítima defesa, versão que é contestada pela família e confrontada pelas imagens do circuito interno do mercado.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo disse que o policial foi afastado das atividades operacionais e que o caso está sob investigação do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), com acompanhamento da Polícia Militar.

“Caso as apurações apontem para a responsabilização criminal do policial militar, medidas administrativas serão adotadas, incluindo a possibilidade de processo disciplinar que poderá resultar na sua exclusão da instituição”, acrescentou a secretaria.

A pasta disse ainda que as imagens das câmeras de segurança estão sendo analisadas pelas autoridades. A reportagem do Estadão não conseguiu localizar a defesa do agente Vinicius de Lima Britto.

Homem é  morto a tiros por policial militar de folga

Gabriel Renan da Silva Soares foi baleado 11 vezes, conforme laudo pericial

Gabriel Renan da Silva Soares foi baleado 11 vezes, conforme laudo pericial – Foto: Reprodução/ ND

As imagens das câmeras de monitoramento mostram que Gabriel entra no mercado por volta de 22h45min, usando blusa vermelha, com capuz. Ele pega ao menos quatro pacotes de sabão e sai correndo. Ao tentar passar pela porta com a mercadoria, ele escorrega em um pedaço de papelão, colocado por ali por conta das chuvas que atingiram a cidade naquele dia.

Enquanto estava pagando uma compra no caixa, Vinicius percebe a movimentação estranha e saca uma arma de fogo da cintura assim que Gabriel cai no chão. O policial militar, então, efetua vários disparos quando a vítima já está na área do estacionamento do mercado. Um motociclista, de jaqueta preta, corre para longe dos disparos.

Conforme o boletim de ocorrência, o policial militar afirmou que Gabriel teria colocado a mão dentro da blusa, “como se estivesse armado”, e chegou a dizer explicitamente que estava com uma arma de fogo. O agente afirma que isso o teria obrigado a efetuar os disparos. Segundo informações preliminares, foram ao menos 11 tiros em poucos segundos.


Policial militar atira em homem que tentava fugir após furtar sabão em São Paulo – Vídeo: Reprodução/ ND

Funcionário do estabelecimento prestou depoimento

Um funcionário do mercado corroborou com o relato do agente e disse que Gabriel teria afirmado “não mexe comigo, que estou armado, não quero nada que é seu”.

Ele disse ainda que no mesmo dia, mas por volta de 6h, o homem morto a tiros por policial militar teria furtado “caixas de café e bolachas” do estabelecimento. As versões de ambos são contestadas pela família, que afirma que a vítima nem teve tempo de esboçar reação.

O boletim de ocorrência aponta que o rapaz, morto a tiros por policial militar, teve três perfurações no tórax, duas no dedo anelar da mão esquerda, uma no antebraço esquerdo, uma na orelha direita, três no antebraço direito e uma no rosto.

As imagens das câmeras de segurança mostram que ele teria sido atingido por alguns dos disparos enquanto estava de costas, tentando fugir da loja.

Foi execução, não tem outro nome, diz pai da vítima

“Foi execução, não tem outro nome para isso. Tinha treze furos no corpo do meu filho”, disse o motorista Antônio Carlos Moreira Soares, 54 anos, pai do homem morto a tiros por policial militar, ao Estadão. Segundo ele, a família só teve acesso aos vídeos da ocorrência nesta semana, por meio de um advogado que os obteve junto à Polícia Civil. Só então eles entenderam melhor as circunstâncias da morte de Gabriel.

 

“Ele infelizmente era um dependente químico, e deu para ver pelas imagens que ele tinha furtado alguns produtos, não estou falando para ninguém ignorar isso. Mas, que o policial o pegasse e o levasse preso, que cumprisse a lei”, disse. Ele cobra responsabilização do agente da PM. “Nada vai trazer meu filho de volta, mas nós queremos que ele (policial) seja julgado pelo que fez.”

Gabriel caiu no chão ao tentar fugir com pacotes de sabão

Gabriel caiu no chão ao tentar fugir com pacotes de sabão – Foto: Reprodução/ ND

Soares conta que a família só ficou sabendo da morte de Gabriel na manhã seguinte ao ocorrido, uma segunda-feira. Ao ver que o filho não tinha dormido em casa, os pais, que moram no mesmo bairro onde fica o mercado, saíram atrás de notícias sobre o paradeiro do filho. Descobriram, então, que um jovem havia sido baleado na noite anterior.

Ao chegar na porta do mercado, Soares diz que conversou com um atendente. “Perguntei para ele se sabia o que tinha acontecido na noite anterior e ele me disse: um policial matou um nóia por aqui, falando até de forma meio fria. Quando ele me mostrou a foto, vi que era o Gabriel”, disse. “Foi um baque, não é comum um pai ter de enterrar um filho.”

Gabriel foi morto poucos dias antes de completar 27 anos ele faria aniversário no último dia 7. “Já o meu aniversário foi dia 18, a gente fazia no mesmo mês. Agora não sei nem se vai ter Natal, está muito difícil”, disse Soares. Ele se emociona ao se lembrar das histórias sobre o filho.

“A gente é de uma família de corintianos, mas, quando o Neymar jogava no Santos, ele passou a ser santista. Aí quando o Neymar foi embora para o Barcelona, eu falei: e agora?. Então ele foi voltando aos poucos a torcer para o Corinthians”, relembrou. Gabriel foi sepultado no 5 de novembro, no Cemitério Campo Grande, na Vila São Pedro. “Era um menino muito querido.”

*Com informações no Estadão Conteúdo.

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