Opinião | Direita, democracia e barbárie: escolhas que definem o Brasil

O verdadeiro embate político no Brasil atual não é entre direita e esquerda, mas entre aqueles que defendem a democracia e aqueles que flertam com golpes e a subversão da ordem democrática. Nesse contexto, é urgente desfazer a confusão que associa automaticamente ser de direita a ser bolsonarista. Direita não significa apoiar líderes que usam o discurso conservador como escudo enquanto colocam seus interesses pessoais acima do país. Ser de direita é, acima de tudo, valorizar princípios sólidos como o respeito às instituições democráticas, o combate à corrupção e a convivência saudável com adversários políticos, sem transformá-los em inimigos.

Os acontecimentos recentes evidenciam a necessidade desse debate. O caso do policial que jogou um suspeito de cima de uma ponte é um exemplo claro da barbárie que pode emergir quando a violência é normalizada e, pior, defendida publicamente. Quando setores da sociedade passam a apoiar práticas brutais e extralegais sob o argumento de “manter a ordem”, estamos diante de um grave sinal de erosão de valores democráticos e civilizatórios. A direita verdadeira, que respeita o Estado de Direito, não pode compactuar com essas atitudes, nem tampouco endossar líderes que incentivam esse tipo de mentalidade autoritária e violenta.

Bolsonaro, durante seu governo, demonstrou que sua prioridade não era o fortalecimento da democracia ou o combate à corrupção, mas sim proteger os interesses de seus próprios filhos e aliados. Do escândalo das “rachadinhas” envolvendo Flávio Bolsonaro às tentativas escancaradas de enfraquecer órgãos de fiscalização, o discurso anticorrupção ficou apenas nas palavras. Na prática, o governo foi marcado por blindagens políticas e pelo uso sistemático da máquina pública para benefícios privados.

Esse tipo de postura não pode ser confundido com os valores da verdadeira direita, que se baseiam em ética, liberdade individual, responsabilidade fiscal e no fortalecimento das instituições. Apoiar quem atua para desmontar a transparência e instrumentalizar o Estado em favor de um projeto personalista de poder não é ser conservador, é abrir mão de princípios em troca de conveniência.

A convivência democrática exige respeito às diferenças e à alternância de poder, pilares que Bolsonaro tentou minar ao insuflar dúvidas sobre o sistema eleitoral e promover atos que beiraram o golpismo. A verdadeira direita deve se descolar desse tipo de populismo autoritário e reafirmar seu compromisso com a democracia. Não há espaço para lideranças que colocam seus interesses pessoais acima das instituições e da nação.

Lutar contra a corrupção e fortalecer a democracia não são bandeiras de direita ou esquerda, mas compromissos de qualquer cidadão ou líder político responsável. É hora de resgatar a direita que valoriza princípios e abandonar a lógica de idolatria e submissão a projetos de poder que não servem ao país. Afinal, democracia é conviver com adversários, nunca tratar o outro como inimigo. Mas para isso, é preciso, acima de tudo, rejeitar a barbárie — seja ela institucional ou praticada por indivíduos — e reafirmar os valores que nos mantêm civilizados.

Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos

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