O caso Janja na China e a velha regra de Brasília: só quem tem mandato opina

Por Maurício Locks

Discordo de quem considera que as críticas à primeira-dama Janja estejam relacionadas a uma questão exclusivamente de gênero. Lembro que, quando trabalhava em Brasília, durante a tramitação da reforma da Previdência, em 2019, o relator no Senado, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), contratou um dos maiores economistas do país para assessorá-lo em todas as reuniões e discussões sobre o tema.

O jornalista Maurício Locks fala das mudanças da comunicação política e na necessidade de não privilegiar os meios tradicionais

Essa proposta de emenda à Constituição (PEC 6/2019) foi aprovada inicialmente pela Câmara dos Deputados e depois analisada pelo Senado, onde Tasso apresentou parecer com sugestões de ajustes e ainda encaminhou uma PEC paralela para incluir estados e municípios.

Em nenhum momento esse economista, contratado por Tasso, dirigiu a palavra diretamente a outro senador. Sempre que havia algum questionamento, ele respondia exclusivamente a Tasso, que então repassava aos demais parlamentares. Isso me chamou a atenção. Por vezes, ouve-se o comentário de que algum servidor entrou em discussões de deputados e logo alguém solta: “Esse se acha deputado.”

Existe uma regrinha na política: quem tem voto, opina. Quem não tem, silencia. Isso vale para todos. Não é uma questão de gênero. Como ela não foi eleita, cabe a ela assessorar quem quiser, mas não cabe a ela assumir o papel de quem fala por si.

O episódio envolvendo Janja na China foi criticado pela mídia com base em aspectos diplomáticos. A política, assim como a sociedade, precisa evoluir nas questões de gênero. No entanto, as críticas não se limitam a isso. Os filhos do ex-presidente Jair Bolsonaro também foram alvos de críticas. Em Santa Catarina, existem histórias folclóricas envolvendo os filhos dos ex-governadores Luiz Henrique da Silveira e Esperidião Amin. Atualmente, também são citados os familiares do governador Jorginho Mello. A política adora uma fofoca, mas até para isso existe liturgia. Nem tudo é uma questão de gênero.


Maurício Locks é jornalista.

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