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São apenas 15 anos de existência, mas o suficiente para que o WeWork reescrevesse sua história de diversas formas. Antes da pandemia do coronavírus deixar marcas profundas no mercado imobiliário global, a empresa despontou como uma das startups mais valiosas do mundo ao ressignificar a gestão de escritórios e serviços de coworking. Poucos anos depois, a empresa nova-iorquina passou de queridinha dos investidores de venture capital para um problema.
Uma abertura de capital fracassada e os problemas de gestão financeira fizeram o valor de mercado da companhia despencar. Com o isolamento social imposto pela crise do coronavírus, os problemas só aumentaram. A partir de 2020, a empresa passou a vagar prédios e renegociar contratos.
Em 2023, cerca de 80% de toda a receita gerada era utilizada no pagamento de aluguéis e juros de dívidas. Em novembro do mesmo ano, o WeWork entrou oficialmente em recuperação judicial nos Estados Unidos, em um processo conhecido como Chapter 11 — que perdurou até junho de 2024 e envolveu a eliminação de US$ 4 bilhões em dívidas do seu balanço.
Claudio Hidalgo, atual presidente da WeWork Latam, foi uma das peças-chave nesse processo. Na época, o executivo atuava como diretor de operações global da companhia e acompanhou de perto toda a preparação e execução do plano de recuperação judicial. Como parte do novo capítulo de sua história, a empresa americana adquiriu o controle total de todas as suas operações no Chile, Argentina, Colômbia, México e Brasil.
Em uma breve passagem pelo país, Hidalgo se sentou para uma conversa com a Forbes Brasil para falar sobre o novo momento do WeWork, a importância do Brasil dentro do mercado global e as perspectivas pós-reestruturação.
Se antes ele estava focado na reestruturação operacional da companhia, agora, apesar de cuidar de uma região menor, o objetivo é integrar toda a operação latino-americana com o restante do mundo — e os braços operacionais nos Estados Unidos/Canadá e Europa/Ásia-Pacífico. Atualmente, são 600 prédios em quase 40 países operados pelo WeWork.
A conversa não poderia ter começado de outra maneira. No fim de 2024, diversos veículos de imprensa noticiaram que, apesar do fim da recuperação judicial, a operação brasileira ainda enfrentava problemas financeiros — com ameaças de despejo e problemas de negociação com os fundos imobiliários detentores de alguns dos imóveis ocupados pela empresa.
Hidalgo não nega os problemas, mas argumenta que “os números falam por si mesmos” e que a operação brasileira já começa a apresentar lucratividade. A afirmação foi confirmada por números apresentados à reportagem da Forbes pela companhia.
“Quando olhamos para os problemas, eles fazem parte do passado para nós. Passamos por um processo de reestruturação global e o Brasil não foi exceção”, explica Hidalgo. “Mas isso já ficou muito para trás. A recuperação foi extremamente rápida porque a marca que temos é muito poderosa. Acho que nunca oferecemos a experiência que estamos oferecendo hoje. Estamos extremamente orgulhosos disso.”
Segundo o executivo, o Brasil é hoje um dos líderes em diversas métricas importantes para o WeWork — a taxa de ocupação dos imóveis está acima dos 80%, e o NPS (indicador de satisfação) é superior a 70, o segundo melhor mercado da companhia. “Isso significa que temos uma demanda significativa. Os membros querem estar conosco, querem renovar, querem continuar conosco. Se você fosse uma empresa em dificuldades e todas as notícias fossem negativas, isso não corresponderia aos dados.”
Hidalgo afirma que a companhia aprendeu com seus erros e que ter redesenhado a rota é o que deve garantir o crescimento sustentável nos próximos anos, com foco quase exclusivamente no aumento da receita.
“Não voltaremos aos mesmos objetivos do passado. Os problemas estruturais já foram resolvidos. Podemos cometer um erro aqui ou ali, mas estruturalmente o negócio está em uma situação completamente diferente do que estava antes. Temos orgulho do nosso passado, temos orgulho do nosso presente e temos orgulho do nosso futuro. Não nos arrependemos do que fizemos antes. E os números estão mostrando isso.”
Confira alguns destaques da conversa com o executivo do WeWork. As aspas foram editadas para maior fluidez e síntese.
Forbes: Qual o estado atual da operação do WeWork no Brasil e na América Latina?
Claudio Hidalgo: Cada região tem um desafio. Dependendo do nível de ocupação, você precisa reter, expandir ou adquirir novos membros.
Todas as regiões que temos hoje formam uma empresa saudável — financeiramente saudável, lucrativa, em crescimento, sustentável — tudo de positivo está acontecendo. E o Brasil é um desses exemplos de sucesso, não apenas em termos financeiros, mas também em termos de experiência dos membros. Temos países na América Latina com 94% de ocupação, como o Chile, e mercados como o México, com algo em torno de 70%. O Brasil está na casa dos 80% e é o nosso segundo maior mercado global em termos de ocupação, o que fala muito bem sobre nossas equipes de vendas. Nossa marca é super forte.
Todos os mercados que temos na América Latina estão com bom desempenho, mas em estágios diferentes. Eu diria que o Chile, por exemplo, está com mais de 90% de ocupação. Então eles estão mais focados em retenção e renovações. E temos mercados com ocupação na casa dos 70%, que estão mais focados em aquisição. Cada um tem suas próprias estratégias comerciais, que variam de acordo com o estágio em que estão, mas todos estão saudáveis, financeiramente estáveis e crescendo. Não há um único mercado que esteja para trás. A chave para isso foi o processo de reestruturação.
Forbes: Vocês tiveram alguns problemas no fim do ano passado no Brasil. O processo de reestruturação realmente acabou para o WeWork?
Claudio Hidalgo: Está resolvido, posso te garantir. Eu liderei esse processo na região e ele já foi concluído. Tivemos alguns desafios no ano passado, mas conseguimos resolver tudo, fechar acordos, encontrar os melhores caminhos com nossos parceiros. Na verdade, hoje estamos discutindo crescimento com os mesmos parceiros com quem, até pouco tempo atrás, estávamos em desacordo. Hoje estamos em uma posição muito favorável. Estamos falando sobre expansão, uma nova fase da empresa. Tudo isso [problemas] ficou para trás. A solidez que a empresa tem hoje nos abre perspectivas que a gente nem imaginava há algum tempo atrás. As oportunidades que estão surgindo, as portas que estão se abrindo — tanto em novos negócios quanto em parcerias — são coisas que antes simplesmente não aconteciam. Proprietários nos procurando, nós indo atrás deles, construindo relações e discutindo crescimento… Isso é novo para a gente.
Forbes: Qual a importância estratégica do mercado latino?
Claudio Hidalgo: Somos uma empresa global e nossos clientes esperam que estejamos em todos os lugares. Não podemos deixar de ter presença em um mercado grande como o Brasil e a América Latina. Isso faz parte da nossa proposta de valor.
Quando você olha para a América Latina, é essencial estar no Brasil, é essencial estar no México. Você não pode chamar sua empresa de global se não tiver presença nesses mercados. Se a América Latina não fizer parte da proposta global, então não somos uma empresa global. Nosso negócio no Brasil, por exemplo, é maior do que nosso negócio na Ásia-Pacífico. Não tem como não estar aqui.
Forbes: Qual é o seu grande objetivo para 2025?
Claudio Hidalgo: O meu principal objetivo para este ano é a integração de todas as operações que adquirimos à empresa global. Estamos integrando sistemas, processos, políticas etc. Antes já éramos globais, mas em um modelo diferente, operacionalmente distinto. Agora é 100% WeWork global. Assim, conseguimos obter todas as sinergias da marca, da experiência dos membros e clientes. O modelo de vendas no Brasil, por exemplo, é um modelo que está sendo exportado e compartilhado com outras regiões. A realidade na Coreia do Sul pode ser diferente da realidade em Berlim, que é diferente da realidade em Brisbane, na Austrália, e pode ser diferente de São Paulo. Mas a visão global da empresa é 90% a mesma — só que respeitamos as particularidades locais, e é por isso que capturamos as melhores práticas de todos os lugares.
Forbes: Quais são os desafios que ainda persistem?
Claudio Hidalgo: Eu diria que os nossos desafios hoje estão relacionados ao fato de que não vamos voltar ao que éramos anos atrás. Isso faz parte do passado para nós. A disciplina financeira, a entrega da nossa proposta de valor, a expansão global, a qualidade de serviço que temos… Tudo está em um nível que nunca esteve antes. E é um desafio, mas não um desafio no sentido clássico. Eu diria que é mais um compromisso de continuar nesse caminho.
Os maiores problemas que tivemos como empresa já foram resolvidos, como a diferença entre o aluguel que pagávamos e o que estava sendo pago pelo mercado. Foi a reestruturação que fizemos no ano passado e isso ficou para trás. Agora, todas as conversas estão focadas em receita, crescimento da receita, como vamos aumentar a receita daqui para frente. Há alguns anos estávamos preocupados com redução de custos e outras questões. Hoje temos uma empresa extremamente disciplinada e financeiramente consciente dos nossos recursos. Não queremos voltar ao que tínhamos antes. Por isso, estamos muito conscientes das decisões que tomamos, das análises que fazemos, das expansões que estamos realizando. Pode-se chamar isso de uma experiência de aprendizado, mas eu diria que é simplesmente a vida. Todos nós cometemos erros, e não há julgamento quanto a isso. O caminho que estamos trilhando é muito positivo. Foi uma fase da nossa história, da nossa experiência, mas já está no passado.
Forbes: Como o momento de incerteza global afeta os negócios?
Claudio Hidalgo: Não vimos essa desvantagem porque a incerteza exige mais flexibilidade, e essa é a nossa proposta de valor. Esse período nos deu a oportunidade — e quando eu falo “nos deu”, não estou falando apenas de nós, mas da indústria como um todo — de trazer empresas que talvez não tivessem pensado no nosso modelo antes e agora testam e dizem: “Na verdade, eu vou crescer aqui”.
Isso pode afetar alguns membros que temos, mas temos clientes em todos os setores. No geral, a incerteza de estar em uma localização diferente é muito melhor do que assinar um contrato de 10 anos, seja qual for o setor em que você esteja. Para aqueles que possam estar enfrentando dificuldades, a nossa proposta de valor é ainda mais vantajosa, porque é flexível e permite que eles se movam conforme necessário.
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