

Cabo Dyego com as três crianças argentinas. – Foto: Divulgação/ND
“Quem salva uma vida salva o mundo inteiro”, diz um ensinamento do “Talmude”, obra fundamental da tradição judaica. A frase, que atravessou séculos, resume o gesto de heroísmo do cabo Dyego de Souza Pereira, policial de SC reconhecido pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina.
Em férias na praia da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, o policial militar manezinho, morador de Palhoça, integrante do NIS (Núcleo de Inteligência e Segurança Institucional) do TJSC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina), evitou o afogamento de uma menina e ajudou no salvamento de outras duas crianças na tarde de 27 de março. As três são argentinas.
Emocionada, logo depois do resgate, a mãe das crianças relatou: “Visto de fora, o mar não parecia agressivo, mas de repente as ondas nos atingiram, senti uma forte correnteza e não consegui segurá-las. Graças ao Dyego e aos guarda-vidas, elas estão aqui comigo agora. Eles devolveram meus filhos à vida”.
Uma das crianças acrescentou: “Agradeço muito o que eles fizeram por mim e pela minha família.” A cena foi gravada por uma banhista e repercutiu nas redes sociais.

Caso aconteceu na tarde de 27 de março – Foto: PMSC/Divulgação/ND
A Câmara de Palhoça aprovou uma moção de parabenização e agradecimento a Dyego, e a Câmara de São José aprovou uma moção de aplausos e reconhecimento.
“Fico muito feliz e agradecido com este reconhecimento. E muito grato a Deus por ter me colocado ali, no lugar certo, na hora certa, para ajudar aquelas crianças.

Cabo Dyego com integrantes do NIS, do TJSC, na homenagem na ALESC. – Foto: Divulgação/ND
Como policial de SC salvou as crianças
Aconteceu tudo rápido. Na praia, sentado ao lado da namorada, Dyego ouviu gritos de socorro e viu o guarda-vidas correr em direção ao mar. Um homem estava sendo arrastado pela maré, a cerca de 60 metros da areia. Decidiu agir. “Sinceramente não sei o que passou pela minha cabeça naquele momento. Foi Deus”, disse.
Quando superou as ondas e a rebentação, a surpresa: não era um homem que se afogava, mas sim uma criança. Percebeu também que não era apenas uma, mas três. Ele fica emocionado ao lembrar deste momento. “Tive uma sensação muito ruim, porque me dei conta que não conseguiria salvar as três”, contou.
Dyego nadou em direção à criança que viu primeiro, a mais distante da praia. Sem boias e sem nadadeiras, conseguiu alcançá-la. Segurou-a com força – e ela segurou nele. Chama-se Emília e tem 5 anos. O guarda-vidas, com uma boia, conseguiu alcançar as outras.

Reencontro de Emília com a mãe, acompanhado do cabo Dyego. – Foto: Divulgação/ND
Dyego teve de enfrentar outra vez a correnteza, agora em direção à praia, até se aproximar do guarda-vidas. Parecia, enfim, que o drama teria um ponto final. Porém, atordoado no meio das ondas, o guarda-vidas supôs que Dyego também fosse se afogar e empurrou a boia – e as duas outras crianças.
Escolha errada. Neste instante, uma onda quebrou em cima de todos eles. Sem possibilidade de segurar as três crianças, o militar abraçou Emília e pensou: “Aconteça o que acontecer, não vou largá-la”. O mar os engoliu e os lançou para baixo.
Ele não lembra quanto tempo ficou submerso, apenas do momento em que conseguiu tocar os pés outra vez no chão, já perto da praia. O guarda-vidas, com o auxílio de um colega, pegou as outras duas crianças.
Finalmente, chegaram todos salvos à praia. As cenas mais impactantes registradas pela banhista são do reencontro das crianças com a mãe, circundadas pelo militar catarinense.
Exemplo na família
Dyego nasceu em Florianópolis, tem 34 anos, mora em Palhoça e é formado em direito. Filho de um policial militar aposentado, alimentou desde pequeno o desejo de seguir a carreira do pai.
Está há 13 anos na PM. Atuava no Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) até ser convidado para integrar o NIS do Poder Judiciário de Santa Catarina.
“É uma honra trabalhar no Judiciário”, afirmou. Reconhecido pela eficiência e pelos projetos inovadores, elogiado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça), o NIS é coordenado pelo desembargador Sidney Eloy Dalabrida.
O major Carlos Eduardo Steil Silva, integrante do NIS, destacou: “É uma satisfação constatar, mais uma vez, que a equipe do NIS, diversa e ao mesmo tempo coesa, é formada por pessoas guiadas pela mesma missão, independentemente se estamos em serviço, se estamos de férias, se estamos aqui ou fora do Estado. Somos policiais 24 horas por dia”.