
Moradores e comerciantes dos bairros Massaguaçu, Jetuba, Capricórnio, Cocanha e Tabatinga, em Caraguatatuba, programaram uma manifestação para o dia 23 de abril, às 16h30. Eles protestam contra o projeto da Concessionária Tamoios que visa a duplicação da rodovia Rio-Santos (SP-55), à beira-mar. O plano contempla trecho de 40 km entre Caraguatatuba e Ubatuba (leia aqui).
Os habitantes da região reivindicam que suas preocupações sejam consideradas no planejamento da obra. Segundo eles, a mudança poderá não apenas aumentar o congestionamento, mas também provocar impactos negativos permanentes na orla.
O projeto, segundo os moradores, reduziria a atratividade da praia, dificultaria o acesso dos residentes e prejudicaria o comércio local. Além disso, eles destacam a necessidade urgente de melhorias no transporte público e de uma infraestrutura que priorize a mobilidade urbana sustentável.
O biólogo Roque Alves, presidente da Associação Caraguatás Ambiental, expressou preocupações sobre a falta de transparência no projeto, apontando a ausência de informações sobre os estudos realizados e os critérios científicos utilizados.
“Os municípios de Caraguatatuba e Ubatuba estão entre os mais impactados pelas mudanças climáticas. Investir em uma infraestrutura que pode ser rapidamente degradada pelo avanço do mar não é recomendável”, afirmou.
Para Alves, a manifestação será uma oportunidade para que a população se una em busca de alternativas mais sustentáveis para a mobilidade na região. Os organizadores incentivam a participação ativa da comunidade em audiências públicas e eventos relacionados ao processo de duplicação, para garantir que suas vozes sejam ouvidas.
Perigos da duplicação segundo especialistas
Em relação aos impactos ambientais da obra, especialistas alertam para o risco de erosão costeira, que já é uma preocupação para diversas praias da região. O aumento da impermeabilização do solo decorrente da duplicação pode intensificar esse processo, conforme estudos recentes. Além disso, a mudança na paisagem e a possível degradação da qualidade de vida dos moradores também foram temas abordados por membros da comunidade.
Em decorrência do intenso processo erosivo que afeta as praias do Estado de São Paulo, especialistas recomendam o recuo do traçado da rodovia que margeia a costa. A duplicação da via pode gerar maior impermeabilização do solo, o que agravaria ainda mais a erosão nas áreas litorâneas.
Segundo o professor Eduardo Siegle, vice-diretor do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP), construções próximas à linha de costa tendem a aumentar o recuo da praia, especialmente em função das mudanças climáticas e da tendência de elevação do nível do mar.
A geóloga, mestre em oceanografia geológica, e doutora em ciências na área de geologia sedimentar, Dra. Célia Regina de Gouveia Souza, aponta a praia do Massaguaçu como uma das mais ameaçadas.
Um estudo recente dela indica a necessidade de estabelecer zonas de proteção e amortecimento ao longo da costa para mitigar os impactos da elevação do nível do mar e a aceleração dos ciclos hidrológicos.
“Ao redor de todo o Estado de São Paulo, não existe nenhuma praia fora de risco, dado que o nível do mar continua subindo, apresentando um dos primeiros impactos em áreas costeiras”, ressalta a pesquisadora.
Conforme o mapa de risco da erosão costeira divulgado pelo Governo do Estado no início deste mês, as praias do Itaguá, Praia Grande, Toninhas, Enseada, Maranduba e Lázaro (Ubatuba) estão classificadas com níveis altos e muito altos de risco. Em Caraguatatuba, praias como Tabatinga, Mococa e Massaguaçu também enfrentam risco crítico de erosão.
Os fenômenos de erosão costeira, que incluem tanto a erosão crônica, que se estende por anos a décadas, quanto a erosão aguda, associada a tempestades, têm consequências significativas. Tais impactos incluem a redução da largura da praia, desaparecimento de zonas de pós-praia, alteração da circulação estuarina, perda de habitats naturais e aumento da frequência de inundações.
Ainda segundo os especialistas, a erosão pode ocasionar problemas em sistemas de esgoto, diminuição da qualidade das águas costeiras, e prejuízos aos setores turísticos e pesqueiros, levando a gastos elevados com a recuperação da orla marítima.
A comunidade pede a implementação de medidas de proteção e preservação da costa para preservar esses ambientes e a infraestrutura urbana que depende deles. Do outro lado, a Concessionária Tamoios já apresentou o projeto da obra, com visualização do espaço pronto em 3D, e aguarda aprovação do governo estadual.
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