
A internet tem suas próprias leis — fato infelizmente ignorado pela maioria dos órgãos públicos que precisam se comunicar com a sociedade. Quem entra na arena das redes precisa saber que ali o algoritmo é rei, o meme é munição e o silêncio… é ruído.
Foi nesse campo de batalha que o Ministério da Saúde decidiu entrar — marcando um golaço — quando Jojo Todynho, artista declaradamente de direita, soltou o verbo contra o SUS: “Só defende quem nunca precisou usar.”
A resposta do ministério não veio em nota oficial, mas em vídeo — e não daqueles institucionais, burocráticos. Foi com um título provocativo — “Que mico foi esse?” — e com uma aliada improvável: a influenciadora Cariúcha, que entrou em cena para defender o sistema público de saúde com deboche e vocabulário da internet. Um detalhe: as duas já eram rivais no mundo artístico.
Se o nobre leitor achou ousada a ação, saiba que não parou por aí.
Jojo Todynho não deixou barato e mandou de volta um recado cheio de shade: “Mico é ver um órgão que deveria cuidar da vida das pessoas se metendo em treta da internet enquanto tem paciente morrendo na fila.” E arrematou com um soco retórico: “Quer ser viral? Começa sendo exemplo.”
A crítica é legítima, o debate é válido — mas a coluna aqui é sobre outro ponto: a escolha de se comunicar usando as ferramentas do tempo em que vivemos. E, nesse caso, o Ministério da Saúde acertou no tom.
Porque sim, influenciadores são atualmente um grande canal de conversa com grande parte da população. E, quando bem utilizados, viram ponte entre o institucional e o real.
Outro ponto positivo é que a reação não ficou só na boca da Cariúcha. O próprio ministro da Saúde, Alexandre Padilha, foi às redes, usou seus perfis pessoais e deu cara e voz à defesa do SUS. E isso importa. Porque comunicação pública não pode mais ser um terreno só da burocracia. Gestores precisam se colocar, se posicionar, participar da conversa. Quem tem mandato, tem rede. E quem tem rede, tem responsabilidade.
Durante a pandemia, vimos o uso de influenciadores ser motivo de polêmica — às vezes por boas razões. Mas a estratégia, quando bem feita, não é perfumaria. É política pública. É disputa de narrativa. E narrativa, no mundo de hoje, vale voto, apoio e confiança.
Não se trata de transformar o SUS em meme. Mas de entender que, se a conversa acontece nos stories, é lá que a política também precisa estar. Comunicação não resolve tudo. Mas, sem comunicação, nada se sustenta.
No fim das contas, o caso virou o que todo gestor sonha (mesmo que não admita): um case. Um exemplo de que dá pra sair do tom engessado — e entrar no tom da sociedade.
Precisamos conversar sobre o uso de influenciadores — especialmente microinfluenciadores — na comunicação pública e política. Estão preparados para isso?
Imagem feita por Inteligência Artificial