Superior-geral do Movimento Sodalício de Vida Cristã assinou, no Vaticano, decreto que extingue definitivamente a sociedade de leigos fundada na década de 1970
Da redação, com Vatican News

Vaticano / Foto Pawel P’s Images via CanvaPro
O Movimento Sodalício de Vida Cristã (SVC), mais conhecido como “Sodalício”, foi suprimido depois de escândalos de abuso e corrupção de alguns de seus líderes. Essa sociedade leiga, fundada na década de 1970, era muito difundida na América Latina, onde representava uma das realidades mais ativas na evangelização.
Em nota publicada no site oficial, o movimento informou que o superior geral, José David Correa, assinou o decreto de supressão da sociedade leiga, nesta segunda-feira, 14, na sede do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada, no Vaticano, na presença da prefeita do Dicastério, Irmã Simona Brambilla.
Monsenhor Jordi Bertomeu Farnós foi nomeado comissário apostólico para as atividades relacionadas à supressão do Sodalício. Trata-se do monsenhor catalão, funcionário do Dicastério para a Doutrina da Fé, já nomeado pelo Papa Francisco no passado para investigar, juntamente com o arcebispo Charles Scicluna, casos de abuso no Chile e em outros lugares da América Latina, incluindo o Peru. O fundador do Sodalício, Luis Fernando Figari, foi expulso do movimento em agosto de 2024 devido a acusações de violência física, psicológica e sexual, inclusive contra menores. Expulso, isto é, do movimento que ele mesmo criou.
O caso do Sodalício remonta a cerca de 20 anos antes, no início dos anos 2000, após denúncias de ex-membros que desencadearam investigações e reportagens da mídia sobre abusos, humilhações e maus-tratos de membros principalmente mais jovens das comunidades “sodálites”.
Em 2015, a publicação do livro dos jornalistas Pedro Salinas e Paola Ugaz reuniu os testemunhos das vítimas e, a partir daí, várias medidas do Ministério Público peruano e investigações internas no próprio Sodalício se seguiram até a intervenção do Papa, que sempre prestou muita atenção ao caso.
No início de dezembro do ano passado, o Pontífice havia recebido Salinas e Ugaz no Palácio Apostólico, acompanhados pela jornalista Elise Harris Allen, que relataram as denúncias legais e os ataques, especialmente por meio das mídias sociais, que eles haviam recebido por causa de seu trabalho. Naquela ocasião, de acordo com um relato da audiência no site Crux, o Papa havia anunciado a próxima conclusão do processo.
Dor e obediência
Esta segunda-feira, portanto, o anúncio oficial da dissolução. Uma decisão que é acolhida “com dor e obediência” pelos membros, como sublinhado na nota publicada no site onde também está anexado o recente “informe” sobre os atos de reparação implementados pelo movimento de maio de 2016 a abril de 2025, incluindo apoio acadêmico, ajuda terapêutica e ressarcimento financeiro.
Os próprios membros da sociedade dizem que agradecem a Deus por ter permitido que “muitas pessoas de diferentes países vivessem conosco uma experiência comum de fé autêntica, de fraternidade e de zelo apostólico, que deu muitos frutos”.
No entanto, o maior pensamento vai para as vítimas, a quem é renovado “nosso sincero pedido de perdão pelos maus-tratos e abusos cometidos em nossa comunidade”. “Também pedimos perdão a toda a Igreja e à sociedade pela dor causada”, diz a nota, “confiamos que os esforços feitos no processo de reparação darão frutos, e continuaremos a oferecer nossas orações para que o Senhor cure as feridas causadas”.
Tempo de conversão
A nota expressa sua gratidão àqueles que fizeram parte da comunidade e que “generosamente” dedicaram anos de suas vidas à missão da Igreja. E agradecimentos também aos pastores que têm comunidades nas dioceses, aos delegados pontifícios que “nos guiaram e acompanharam com grande dedicação, caridade e sabedoria em nosso processo de renovação”, às famílias e amigos que demonstraram proximidade e apoio.
“O Bom Senhor tem caminhos misteriosos, através dos quais pode sempre fazer novas todas as coisas”, conclui a nota, expressando a esperança de que o que se abre agora possa ser “um tempo privilegiado de conversão e de renovada escuta da voz de Deus, sempre em comunhão com o Santo Padre e com a nossa Mãe, a Igreja”.
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