Avaí e Figueirense se manifestam sobre clássicos com torcida única em Florianópolis

Tanto o Avaí quanto o Figueirense se uniram para discordar da recomendação do MPSC (Ministério Público de Santa Catarina) para que os dois próximos clássicos envolvendo as equipes sejam disputados com torcida única. A medida foi acatada pela Federação Catarinense de Futebol e divulgada em coletiva de imprensa nesta terça-feira (27).

Dirigentes do Avaí e do Figueirense se reúnem em prol da paz nas vésperas do último clássico - Foto: Divulgação/FFC

Dirigentes do Avaí e do Figueirense se reúnem em prol da paz nas vésperas do último clássico – Foto: Divulgação/FFC

Enrico Ambrogini, CEO da SAF do Alvinegro, afirmou que o clube não concorda com a decisão – embora acate “até por obrigação” por conta da filiação à FCF. Segundo ele, ambas as instituições “são o que são” por conta de suas torcidas. Além disso, diz que outras formas de abordar o problema poderiam ser propostas; medidas estas que já estariam sendo feitas no âmbito particular do Furacão desde que a nova gestão assumiu.

“A gente não concorda com esse movimento. Achamos que há outros meios para fazê-lo, como o próprio Figueirense está fazendo: abrindo o estádio duas horas antes, fazendo evento dentro do estádio; com música, tenda mais coberta, baixando o preço de alguns produtos ali dentro para trazer o torcedor antes para evitar que ele fique na rua, pra evitar o alcoolismo, de ficar mais bêbado antes de entrar no jogo”.

Ele classifica o corre-corre no clássico como um evento isolado – completando que o relacionamento com a torcida alvinegra é bom e tem melhorado. Até mesmo com um contato inicial tendo sido feito com representantes das arquibancadas para entender até que ponto a instituição pode ajudar a manter o bom clima.

Clima de paz entre torcedores de Figueirense e Avaí - Foto: Ian Sell/ND

Clima de paz entre torcedores de Figueirense e Avaí – Foto: Ian Sell/ND

“Nosso relacionamento com a torcida é excelente. Inclusive tivemos contatos com as torcidas para entender quais são as demandas para que a gente possa ajudar e manter esse relacionamento, mas a gente respeita o torcedor do bem que vem pro estádio, e é o que temos feito: melhorar preço, comunicação. Nosso relacionamento com nosso torcedor é nota 10 e queremos manter assim, manter o ambiente do Scarpelli um ambiente familiar, com torcedor do bem”.

Ao que tange o Figueira, o CEO afirma que a segurança no Orlando Scarpelli será reforçada a partir de câmeras e o que mais couber nas capacidades financeiras do clube.

Avaí sublinha

No lado azurra, o presidente do Conselho do Avaí, Bernardo Pessi, ecoa. Ele afirma que nenhuma medida de conscientização ou prevenção foi proposta antes de se partir para outra mais drástica – que não teria surtido efeito em exemplos pelo país. O Leão, no entanto, também acatará à ordem.


Imagens mostram momento em que a cavalaria da PM dispersa uma tentativa de emboscada – Vídeo: X/Reprodução/ND

“A visão do Avaí é de lamentação. Não achamos que seja a melhor medida. Será preciso avaliar internamente como encarar isso. Sumariamente podemos observar que são medidas punitivas. A gente consegue enxergar que faltou alguma proposta de educação, conscientização, de prevenção, e não só de punição. A novidade agora é a torcida única. Se pegarmos exemplo no país, não surtiram muito efeito. A gente obviamente vai acatar as determinações do poder público, mas espera que a gente consiga avançar no ponto de vista de políticas públicas, educação. Problema de violência não é só no futebol, é na sociedade brasileira como um todo”.

Pessi também afirma que há boa relação entre instituição e torcida, assim como sugeres meios diferentes de punir infratores – buscando o indivíduo, e não o grupo.

“O clube tem uma obrigação ter relação com a torcida, organizada ou não. A gente procura manter a melhor relação possível para inclusive prevenir, conscientizar e participar. Acredito que quanto mais próximo, mais conseguimos prevenir e resolver problemas. O Avaí e qualquer pessoa em sã consciência não vai aprovar nenhum ato de violência. O que devemos buscar é punir as pessoas, o CPF que cometeu esses crimes e não transferir essa responsabilidade a um aglomerado de pessoas que as vezes nem sabe o que aconteceu, ou à própria entidade. O clube, afinal, vai se prejudicar de alguma forma”.

Clubes divergem

Enquanto o Leão da Ilha se considera vitimado pela medida, em razão das imagens exibidas durante a coletiva não mostrarem violência no interior da Ressacada, o Furacão enxerga diferente – por uma lei estadual que destina a receita da bilheteria visitante ao próprio visitante.

Enrico afirma que apesar da possibilidade de ampliar a arrecadação, não enxerga o fato como positivo.

Avaí x Figueirense

Clássico na Copa SC foi marcado por confusão fora da Ressacada – Foto: Reprodução/Internet/ND

“Eu não diria [que somos] vítima, pois financeiramente seria mais vantajoso ao clube. Aqui em Santa Catarina, a receita do visitante é toda destinada ao visitante, então acaba que eu posso abrir o estádio inteiro para minha torcida, então financeiramente seria positivo para o clube, mas eu não queria ter essa receita. Sinceramente, eu queria que ambos os clubes fossem representados ali dentro de campo. Acho que é muito mais bonito pro nosso produto, que tentamos valorizar”.

Na contramão, o conselheiro azurra diz que a punição foi descabida em razão dos motivos apresentados pelos Ministério Público – sobretudo, por uma série de vídeos de brigas nos últimos clássicos mostrados como justificativa.

“Eu entendo que sim. Imagino que que haja outras imagens, mas as que foram mostradas aqui não exibem nenhum evento que tenha ocorrido dentro do estádio da Ressacada, então nesse sentido, o Avaí entende que as medidas talvez não tenham sido bem equalizadas”.

Por fim, o CEO do Figueirense citou a experiência como gestor do Cruzeiro para afirmar que a decisão é passível de reversão – a partir do exemplo dado pelas diretorias e pelo andamento do clássico a partir desta terça-.

“Como meu último clube foi o Cruzeiro e lá é permitido a torcida mista dentro do estádio, eu participei de uma final de Mineiro com torcida dividida 50% a 50% e não teve briga. Então eu acredito sim na bondade do ser humano para que a gente possa ter torcida dividida aqui, quem sabe até setor misto no futuro. Acho que o Figueirense tem caminhado pra isso e cabe sugerir ao Avaí, quem sabe, num pré-clássico, pra demonstrar que a gente tem que dar o exemplo. Acredito que é transitório, que dá pra voltar atrás, e dá até para migrar para setor misto”.

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