Quando o voto desafia os algoritmos — e o Equador desafia seu destino

Amanhã o Equador vota. E, mais uma vez, o voto chega antes da esperança.

Quem acompanha esse processo de fora, talvez veja apenas uma eleição presidencial em um pequeno país andino, dividido entre continuidade e mudança. Mas quem está atento — como eu estive em 2023, quando Daniel Noboa saiu do nada e se tornou presidente — sabe que o que está em jogo agora é muito mais do que um segundo turno.

Naquela eleição, acompanhei cada passo, publiquei mais de dez análises e comentários nas redes sociais, observando com atenção a escalada digital de um candidato que, até poucas semanas antes do pleito, era um nome desconhecido. Noboa virou fenômeno. E mais que isso: virou case. Um candidato moldado no ritmo dos reels e das playlists do TikTok, que transformou presença digital em presença política em tempo recorde, numa campanha marcada pela violência e pela sensação de urgência.

Dois anos depois, ele chega à reta final com números que impressionam. Mais de 8 milhões de engajamentos no Facebook nesta segunda volta, contra 3,5 milhões da adversária Luisa González. No Instagram, 3,6 milhões contra 817 mil. Numa América Latina onde o digital ainda é, muitas vezes, mal interpretado como palco de vaidade ou bolha de militância, Noboa mostra que sabe jogar o jogo.

Gráfico de engajamentos(reações, curtidas e compartilhamentos) orgânicos por semana, IG e FB agregados.

Mas será o suficiente?

A resposta não está nas métricas, mas nas ruas — ou talvez nem mais nas ruas, mas no medo. O Equador vive hoje um estado de exceção. A violência virou o pano de fundo permanente da vida política e social. E a eleição se transformou num referendo sobre quem consegue proteger melhor o país, com um toque de desconfiança generalizada em todas as promessas.

É aqui que a análise se impõe. Sim, o digital importa. É ferramenta, é poder, é termômetro. Mas não é tudo. Nunca foi.

A presença online de Luisa é menor, mas mais coesa. Sua base é fiel, engajada, interligada. Mas falhou — até agora — em se traduzir em volume, em alcance, em energia de virada. Noboa, por outro lado, domina os canais, mas carrega o peso de ser agora o incumbente. Já não é o outsider que encanta. É o presidente que precisa convencer.

Como estrategista digital e como alguém que acompanha de perto as eleições latino-americanas, o que vejo no Equador é um embate entre redes e realidades. Um lembrete de que a política, por mais digital que seja, ainda se decide no voto. E que nem toda interação é intenção.

Amanhã, quando os equatorianos saírem para votar, não estarão escolhendo só entre Noboa e Luisa. Estarão, mais uma vez, tentando escrever uma saída para um país cercado por urgências. O digital pode ajudar a contar essa história. Mas quem decide como ela termina é o povo — e só ele.

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