A carta de Juscelino: exemplar na forma, mas faltou alma.

O país inteiro já sabe: o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, entregou sua carta de demissão ao presidente Lula e, como manda o figurino, ele e sua equipe tentaram produzir um texto com estratégia e blindagem. 

A intenção era tentar sair de cena sem fazer barulho, manter a reputação e, claro, proteger o governo Lula de mais desgaste. 

Não vou entrar no mérito da sua demissão, afinal o tema da coluna será, sempre, a comunicação. Afinal, a carta cumpriu o seu papel?

Ela é notadamente bem escrita – diria acima da média em episódios semelhantes. Mas contém falhas que chamam atenção, as quais abordarei ao final.

Logo de cara, Juscelino deixou claro que está saindo não por falta de compromisso, mas para “proteger o projeto de país” que o governo vem construindo. 

Traduzindo: ele quer dizer que não está saindo porque errou, e sim porque não quer virar um problema para Lula. Do ponto de vista político, é um bom movimento. 

Mostra lealdade ao presidente, evita bater de frente com o governo e se despede como alguém que coloca o projeto coletivo acima da própria cadeira. Temos, neste trecho, um acerto.

A carta também tem momentos em que acerta no tom emocional. Quando diz que foi a missão “mais bonita” da sua vida pública ou que sai com a “cabeça erguida”, ele consegue gerar empatia. 

É uma linguagem simples, direta, fácil de entender — e isso sempre conta ponto, como diria Chico, o Vendedor Raiz.

O texto não tem nada de juridiquês ou discurso técnico. Ele fala com qualquer um que tenha dois minutos para ler, e isso é algo que nem todos os políticos conseguem fazer.

Apesar desses acertos, o texto tem falhas importantes — principalmente se a ideia era também mostrar força e preparo para seguir na vida pública. 

A primeira delas é a falta de firmeza ao se defender. Ele até diz que as acusações são infundadas e que confia no STF. Ok. Mas o tom é quase frio. Em momento nenhum ele diz claramente “não fiz nada errado” ou mostra alguma indignação. 

Faltou, a meu ver, aquela frase de impacto, algo como “jamais me envolvi em qualquer esquema”, que deixaria sua posição mais clara para a opinião pública. Sem isso, a carta pode parecer meio lavada, calculista demais. E num momento em que o público quer sinceridade, essa frieza pesa contra.

Outro ponto que chama atenção é o fato de ele não mencionar, nem por alto, do que está se defendendo. Isso pode passar a impressão de que está fugindo do assunto. 

Ele poderia ter feito uma menção simples, como “acusações envolvendo uso de recursos públicos”. Isso já daria um sinal de transparência. Como eu já disse esse espaço, o silêncio comunica — e às vezes comunica a coisa errada.

Resumindo: a carta de demissão de Juscelino Filho é, no geral, correta. Cumpre a função de evitar ruídos maiores com o governo, passa a mensagem de que ele é um político responsável e reforça algumas conquistas que teve no Ministério. 

Mas é uma carta mais voltada ao protocolo do que à comunicação com o público. Faltou firmeza, clareza e um pouco de calor humano. 

É aquela coisa: acertou na forma, mas poderia ter ido além no conteúdo. Em momentos de crise, quem consegue se comunicar com verdade e convicção costuma sair melhor.

Se eu pudesse dar uma nota, seria 7,5. O que não é ruim.

Ps: leia a íntegra da carta neste link: https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2025/04/08/saio-com-a-cabeca-erguida-diz-ministro-juscelino-em-carta-leia-integra.htm

Ps2: imagem feita com IA.

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