Medicina em tempos de inteligência artificial

A Inteligência Artificial  IA) avança a passos de gigante em todas as áreas do conhecimento humano e até no cotidiano das pessoas. Não há dúvidas que quando utilizada de forma apropriada pode ajudar na formulação de diagnósticos, planejamento de tratamentos e previsão da evolução das doenças que somos acometidos. 

É provável que aquele sentimento estranho que temos hoje ao conversar sobre nossa saúde com um banco de dados que processa bilhões de informações por segundo vai desaparecer em poucos anos ou em menos de uma geração. 

O filho de um amigo está fazendo residência em cirurgia geral nos Estados Unidos, me conta que quase a totalidade dos procedimentos são realizados por cirurgia robótica e que utilizam a inteligência artificial para a condução dos casos clínicos tanto no pré-operatório quanto no pós-operatório.  

Recentemente um paciente com problemas digestivos me relatou que ficou frustrado com o atendimento do médico especialista que apenas escutou suas queixas e solicitou vários exames.  

Ficou inconformado pelo fato de o profissional não examinar seu abdômen, a região com dor. Ouviu do médico que o ultrassom esclareceria o diagnóstico melhor do que qualquer exame físico. 

Sim, vivemos numa época em que escutar atentamente o paciente é uma raridade, examinar minuciosamente a região afetada também. Estamos deixando que as máquinas e os exames cada vez mais sofisticados sejam o único elemento com potencial para chegar a um diagnóstico. 

Séculos de conhecimentos clínicos acumulados estão desaparecendo. 

As consultas médicas online são mais frequentes, podem ter a conveniência de poupar tempo, mas é o contato humano que proporciona uma série de informações objetivas e subjetivas. Nas consultas online o exame físico é impossível. 

A nível coletivo a Inteligência Artificial já está contribuindo de diversas formas. Ao examinar em segundos uma ampla base de dados a IA pode prever com bastante exatidão a probabilidade de um paciente vir sofrer alguma doenças crônicas como diabetes ou cardiovasculares. 

Este tipo de análise por IA é chamado de aprendizagem automática. Para analisar imagens a IA usa as chamadas redes neurais profundas, camadas de neurônios artificiais que simulam a organização de nosso cérebro. 

Essa estratégia permite analisar alterações de imagens que não são perceptíveis ao olho humano, conseguindo diagnósticos mais precoces e mais exatos. 

O processamento de linguagem natural (PLN) é outro mecanismo adotado pela IA para analisar textos médicos extensos, facilitando com isso a toma de decisões terapêuticas em casos clínicos complexos ou em doenças raras. 

Um estudo da Clínica Mayo (USA) mostrou que a IA pode prever o aparecimento de um evento cardiovascular severo com meses de antecipação, possibilitando, portanto, o tratamento precoce. 

Hospitais do primeiro mundo que usam estas técnicas têm agilizado o atendimento aos pacientes e conseguido melhores resultados. Já existem sistemas de apoio baseados em IA para a toma de decisões clínicas por parte dos médicos. 

Na área de oncologia estes sistemas de apoio têm melhorado a eficiência dos diagnósticos e tratamentos em 30%. 

A IA também tem acelerado as pesquisas médicas, na área da farmacologia a IA permite analisar milhares de moléculas e sugerir quais são as que tem maior potencial terapêutico. 

É provável que num futuro próximo um robô provido de inteligência artificial consiga ter um desempenho melhor num atendimento clínico do que a grande maioria dos médicos. 

Parece ser que o instrumento que magnificamente representava o exame físico do paciente, o estetoscópio, inventado por René Laennec em 1816 está prestes a ser aposentado, substituído por um conjunto de exames de altíssima tecnologia. 

Sentiremos falta do médico de família, do aperto de mãos, do abraço, da conversa aleatória, da confiança criada por anos de acompanhamento com o mesmo profissional? 

É melhor ir se adaptando aos novos tempos.

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