Analisando o comunicado de Eduardo Bolsonaro. Que nota o discurso dele merece?

Por essa ninguém (ou pouca gente) esperava.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro surpreendeu o país ao anunciar, em vídeo postado em suas redes sociais, que se licenciará de suas funções parlamentares para permanecer nos EUA. 

As motivações do filho de Jair Bolsonaro ficaram claras no pronunciamento. Convencer o governo Donald Trump a atuar pela anistia aos envolvidos no ataques do 8 de janeiro e conseguir sanções ao ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes.

O viés político desta notícia não interessa à coluna, e sim o discurso carregado de emoção e apelo ideológico que Eduardo proferiu.

Afinal, o comunicado foi tecnicamente eficaz? Ele alcançou seus objetivos?

O ideal é que o leitor assista ao vídeo antes de ler meus argumentos. 

A íntegra está aqui, postada pelo portal Metrópoles: https://www.youtube.com/watch?v=2Nc9h7qzXpo

O conteúdo aparentemente foi gravado com uso de teleprompter, um equipamento acoplado às câmeras que exibe o texto a ser lido.

O uso de teleprompter é correto neste caso, um vídeo com conteúdos sensíveis. O equipamento permite seguir o roteiro à risca, sem risco de improviso e facilitando a ênfase nas palavras-chave.

O comunicado, no geral, teve erros e acertos.

Comecemos pelos aspectos positivos, entre eles a narrativa emocional com o objetivo de provocar reações no receptor. Técnicas persuasivas que seu campo político sabe utilizar muito bem, diferentemente da esquerda. Mas essa é uma outra – e polêmica – história.

Foi fácil identificar no texto a jornada do herói: um líder que enfrenta (juntamente com sua família) injustiças e está disposto a fazer sacrifícios por sua causa. 

Para carregar ainda mais na emoção, Eduardo fez um forte apelo à religião e usou um tom heroico. Frases como “Aceito esse sacrifício com honra” e “Deus está me mostrando o caminho” corroboram essa tese.

Essa estratégia ajuda a criar empatia e indignação entre os apoiadores, incentivando a mobilização e o senso de missão coletiva.

Por falar em frases, ele utilizou várias com forte poder de impacto. 

Essa, particularmente, achei muito boa: ”Vocês, homens de geleia, pequenos e vaidosos, não estão acostumados a lidar com homens de convicção.” 

Outra com forte apelo: “Minha meta de vida será fazer você pagar por toda a sua crueldade com pessoas inocentes.” 

São expressões pensadas para viralizar nas redes e engajar seguidores.

Outro acerto estratégico de Eduardo foi a identificação de inimigos comuns.

O comunicado escancara os adversários a serem combatidos, como Alexandre de Moraes (tido como “psicopata” e “tirano”), o STF e o PT. 

Esse tipo de discurso reforça a ideia, que o bolsonarismo propaga com rara eficiência, de um embate entre bem e mal.

Agora, vamos aos pontos (evitarei falar em “erros”) que tornaram o discurso potencialmente menos eficaz.

O pecado capital foi a duração excessiva do discurso. Foram mais de dez minutos de fala, o que nos tempos atuais torna o vídeo praticamente um longa-metragem.

O discurso ficou longo porque ele repetiu as mensagens-chave. O deputado abusou da redundância, diluindo o impacto do conteúdo e tornando a fala mais longa.

Um comunicado mais objetivo e direto teria maior capacidade de persuasão.

Outro equívoco, na minha opinião, foi o excesso de dramatização. O que soa exagerado tende a perder credibilidade.

Separei duas frases como exemplo: “Talvez eu jamais reencontre meu pai” e e “Vou morar longe dos meus amigos e família.” 

O objetivo de ambas é despertar emoção, mas podem descambar para o vitimismo.

O leitor pode questionar: afinal, qual o problema de exagerar um pouco na emoção?

São vários, mas o principal é afastar eleitores moderados, falar para a própria bolha ideológica.

A propósito, esse é o maior problema estratégico do comunicado, pois não favorece a expansão da base de apoio de Eduardo – e do bolsonarismo.

O discurso parece ter sido redigido para os seguidores mais fiéis (reforçando sentimentos e convicções). Mas falha na tentativa de convencer indecisos ou atrair novos aliados. Se é que era esse o objetivo de Eduardo. Eventualmente não era e está tudo bem.

Para falar fora da bolha ele precisaria moderar a linguagem para públicos que ainda não estão alinhados com sua visão.

Enfim, o comunicado, no geral, foi bom. Se o intuito era manter sua base mobilizada, eu daria nota oito. No entanto, se era expandir sua influência para além de seu grupo político, a nota cairia para seis. Na média, sete, o que é uma boa nota.

Ah, a comunicação não verbal do Filho 03 foi adequada. Ele usou o gestual, especialmente as mãos, como forma de enfatizar trechos e complementar visualmente o conteúdo verbal. 

Não por acaso, Eduardo Bolsonaro é o mais talentoso orador do clã.

Foto: O Globo

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