Decifrando a Inflação: o Que Está por Dentro da Alta dos Preços em 2025?

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

 

Desde que o Brasil adotou o regime de metas de inflação, em 1999, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado o indicador da inflação oficial do Brasil, ultrapassou a meta oito vezes. A última vez que isso aconteceu foi no ano passado, quando o IPCA atingiu alta de 4,83%, superando o teto estabelecido de 3%, com um intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.

Em 2025, a história não deve ser diferente. Na semana passada, os economistas interromperam uma sequência de 19 semanas consecutivas com aumentos nas projeções de inflação para o ano. A expectativa é que o indicador termine dezembro na casa dos 5,68%.

De forma genérica, a inflação é sentida pelos consumidores pelo aumento de preços nas prateleiras. Indo mais a fundo, o IPCA é calculado a partir de 377 produtos e serviços. A definição dos itens leva em conta o padrão de consumo das famílias com rendimentos entre 1 e 40 salários mínimos. No cálculo final, cada segmento recebe um peso específico de acordo com sua relevância no índice.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação em fevereiro atingiu o maior nível em 22 anos com 1,31%, ante alta de 0,16% do mês anterior. A variação é a maior para o período desde 2003, quando ficou em 1,57%.

Apesar de alguns fatores sazonais explicarem a alta da inflação no mês passado, o cenário preocupa. O remédio para a inflação está na política monetária. Preços mais altos resultam em juros mais altos que, por sua vez, pressionam o consumo e o custo do crédito.

Mas o que exatamente está por trás da alta da inflação? Especialistas consultados pela Forbes Brasil abriram os números para explicar as principais tendências de alta nos preços em 2025.

Pressão sobre sobre conta de luz e alimentos

A alta de 5,06% dos preços entre março de 2024 e fevereiro de 2025 é a mais alta desde o período finalizado em setembro de 2023, quando atingiu a marca de 5,19%. No ano passado, a inflação anual até fevereiro foi de 4,51%. Esses avanços são resultado de diversos fatores, tanto internos quanto externos.

Um dos mais recentes é o aumento de 16,8% das tarifas de energia elétrica residencial. No início do ano, os consumidores receberam um desconto na conta de luz. Isso aconteceu por conta de um saldo positivo na hidrelétrica de Itaipu: a usina gerou mais receita do que o esperado e houve um “bônus” aos consumidores. Agora, parte desse desconto acabou e as contas de energia elétrica estão passando por reajustes.

Os alimentos também pesam no bolso, mesmo com uma desaceleração ante janeiro. A economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta, afirma que já no primeiro semestre de 2024, o setor alimentício, especialmente in natura, pressionaram o indicador. De acordo com dados do IPCA, o grupo de alimentos e bebidas subiu 5,4% nos últimos cinco meses.

Seguindo a tendência, em fevereiro de 2025, a inflação do segmento foi de 0,7% em relação à variação de 1,07% registrada no mês anterior. Esse movimento foi influenciado pelo custo da alimentação no domicílio, que apresentou alta de 0,79%. O café moído e o ovo de galinha lideraram as altas com 10,8% e 15,4%, respectivamente.

O principal motivo para essa alta dos preços no grupo de alimentos foram as condições climáticas adversas. “O desequilíbrio ambiental que estamos vivendo afetou a produção agrícola”, afirma Maria Luisa Paolantoni, analista de renda fixa da Nord Investimentos. As chuvas fortes no Rio Grande do Sul e as altas temperaturas no ano passado provocaram uma quebra de safra. Além disso, Paolantoni explica que a valorização do dólar contribuiu para o aumento da inflação no setor.

Os saltos dos serviços

Para Leonardo Costa, economista da ASA, a alta nos alimentos, consequentemente, interfere na aceleração do preço dos serviços, contribuindo para a elevação da inflação. A inflação de serviços – utilizada como parâmetro para pressões de demanda sobre os preços – saiu de 0,78% em janeiro para 0,82% em fevereiro no IPCA.

Ao contrário dos alimentos, os serviços dependem mais da mão de obra e da renda da população. Então, se os preços dos serviços estão subindo rapidamente, isso pode indicar que a economia está aquecida, com mais consumo e maior poder de compra da população. Ou seja, por um lado pode indicar que a economia está aquecida, porém, por outro, a inflação tende a aumentar.

Cenário externo, dólar e importações

Em 2024, a moeda brasileira depreciou-se 27% frente ao dólar, sendo a divisa que mais perdeu valor entre os países emergentes. O câmbio passou dos R$ 4,90 no início de 2024 para R$ 6,20 em dezembro do mesmo ano. De acordo com Argenta, essa desvalorização pressionou cerca de 33% do IPCA.

Mesmo com leve alta da moeda brasileira no início de 2025, o câmbio ainda está desvalorizado e deve manter os bens comercializáveis em patamar elevado. Com o real mais fraco, os custos de importação aumentam, pressionando os preços de insumos e produtos essenciais.

Na esteira da aceleração dos preços, também temos Trump prometendo tarifas de importação para diversos países sem que haja um padrão estabelecido para as tributações. Por exemplo, a decisão do presidente dos EUA de dobrar os tributos aplicados a produtos da China para 20% trará aumentos de preços no mercado interno brasileiro, já que a China pode aumentar a procura por produtos do Brasil para substituir a importação mais cara dos EUA, pressionando ainda mais os preços.

Os últimos anúncios de Trump aumentando tarifas de importação para o Canadá e México geraram mais instabilidade. Diante das incertezas, o Federal Reserve (FED), banco central americano está mantendo uma política monetária apertada. Apesar de ter reduzido os juros americanos em um ponto percentual nas três últimas reuniões de 2024, ele manteve as taxas entre 4,25% e 4,50% ao ano, um percentual considerado elevado.

Além disso, de acordo com os especialistas, a guerra na Ucrânia, as tensões no Oriente Médio e eventos climáticos atípicos estão deixando consequências que desestruturaram a cadeia de suprimentos global, afetando as importações e exportações. Segundo os executivos, isso atinge o Brasil devido ao câmbio desvalorizado e a alta demanda interna, aumentando os preços.

Inflação X Banco Central

A inflação é, na maioria das vezes, um desequilíbrio entre oferta e demanda. Ou seja, quando o consumo e os investimentos crescem mais rápido do que a capacidade produtiva do país, os preços tendem a subir.

Para conter essa alta, o Banco Central (BC) adota medidas como o aumento da Selic (taxa básica de juros da economia brasileira), tornando o crédito mais caro e desestimulando o consumo. Segundo Costa, a esperança do controle inflacionário está nessa política monetária. No entanto, o custo é alto, já que a elevação dos juros reduz investimentos e pode aumentar o desemprego, afetando o consumo das famílias.

Atualmente, a Selic está em 13,25% ao ano. O último aumento, de 1 ponto percentual, foi em 29 de janeiro. O Copom também confirmou nova alta na reunião agendada para março. Este ano, o cenário econômico brasileiro é caracterizado por uma taxa Selic elevada, com perspectiva de alcançar 15% ao longo do ano.

Para 2026, o Focus projeta uma inflação de 4,4% e controlar esse índice, que segue acima da meta, tem sido um dos principais desafios do Banco Central, sob a liderança de Gabriel Galípolo.

O post Decifrando a Inflação: o Que Está por Dentro da Alta dos Preços em 2025? apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.